Óscar Elizondo, ajudante técnico do Al Ahly: "Havia gritos, ruídos de bombas, era a guerra"
Refugiado durante três horas no vestiário, Óscar Elizondo, nascido em Córdoba (Argentina) em 1959, viveu o inferno da chacina em Port Said depois da partida entre a equipe local, o Al-Masry, e o Al Ahly. Evacuado em um avião militar para o Cairo, Elizondo, auxiliar do Al Ahly há três meses, relata a tragédia por telefone.
El País: Que imagens ainda se repetem em sua cabeça?
Óscar Elizondo: A de nosso jogador mais famoso, Abutrika, o Maradona egípcio, tirando nos braços do vestiário um rapaz de 17 ou 18 anos morto. Houve gritos, ruídos e bombas, era a guerra.
El País: Como você está?
Elizondo: Muito pior que ontem, na medida em que vão chegando as imagens. Ao terminar a partida, saímos correndo para o vestiário. Começaram a entrar feridos, choros, ansiedade... eu tentava levantar o ânimo dos jogadores.
El País: Como foi o estopim da violência?
Elizondo: Quando chegamos ao campo, vimos um cartaz que dizia: "Hoje vamos matá-los". Vimos do banco cenas surrealistas, gente que passava ao lado sem identificação e soltava ameaças.
El País: O que fez a polícia?
Elizondo: Permitiu que a torcida local atacasse com paus, bombas e armas brancas a nossa, que estava em uma área reservada. A forma do ataque faz crer que foi orquestrado. Houve gente que foi atirada de cima. Muitos morreram esmagados.
El País: As forças de segurança também não entraram no vestiário?
Elizondo: Eu vi dois policiais à paisana e mais nada. Transformou-se em um calvário. Não sabia o que estava acontecendo lá fora. Se os agressores tivessem avançado até os vestiários... o que teria acontecido se tivessem cruzado a barreira!
El País: Como se explica que exista uma torcida tão violenta?
Elizondo: Egito, Argélia, Tunísia, Marrocos... são torcidas de risco por seus altos índices de analfabetismo e de pobreza.
El País: Como é o Al Ahly?
Elizondo: Quando o Real Madrid foi nomeado melhor time do século passado, o Al Ahly foi considerado o melhor da África. Tem sete títulos seguidos. Abutrika é um mito: quando fomos jogar no Marrocos foi incrível, o estádio inteiro o ovacionou.
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