Topo

Óscar Elizondo, ajudante técnico do Al Ahly: "Havia gritos, ruídos de bombas, era a guerra"

Jogadores do Al Ahly correm do gramado em meio à confusão - AFP PHOTO/STR
Jogadores do Al Ahly correm do gramado em meio à confusão Imagem: AFP PHOTO/STR

Do El País

Traduzido por Luiz Roberto Mendes Gonçalves

04/02/2012 06h00

Refugiado durante três horas no vestiário, Óscar Elizondo, nascido em Córdoba (Argentina) em 1959, viveu o inferno da chacina em Port Said depois da partida entre a equipe local, o Al-Masry, e o Al Ahly. Evacuado em um avião militar para o Cairo, Elizondo, auxiliar do Al Ahly há três meses, relata a tragédia por telefone.

El País: Que imagens ainda se repetem em sua cabeça?

Óscar Elizondo: A de nosso jogador mais famoso, Abutrika, o Maradona egípcio, tirando nos braços do vestiário um rapaz de 17 ou 18 anos morto. Houve gritos, ruídos e bombas, era a guerra.

El País: Como você está?

Elizondo: Muito pior que ontem, na medida em que vão chegando as imagens. Ao terminar a partida, saímos correndo para o vestiário. Começaram a entrar feridos, choros, ansiedade... eu tentava levantar o ânimo dos jogadores.

El País: Como foi o estopim da violência?

Elizondo: Quando chegamos ao campo, vimos um cartaz que dizia: "Hoje vamos matá-los". Vimos do banco cenas surrealistas, gente que passava ao lado sem identificação e soltava ameaças.

El País: O que fez a polícia?

Elizondo: Permitiu que a torcida local atacasse com paus, bombas e armas brancas a nossa, que estava em uma área reservada. A forma do ataque faz crer que foi orquestrado. Houve gente que foi atirada de cima. Muitos morreram esmagados.

El País: As forças de segurança também não entraram no vestiário?

Elizondo: Eu vi dois policiais à paisana e mais nada. Transformou-se em um calvário. Não sabia o que estava acontecendo lá fora. Se os agressores tivessem avançado até os vestiários... o que teria acontecido se tivessem cruzado a barreira!

El País: Como se explica que exista uma torcida tão violenta?

Elizondo: Egito, Argélia, Tunísia, Marrocos... são torcidas de risco por seus altos índices de analfabetismo e de pobreza.

El País: Como é o Al Ahly?

Elizondo: Quando o Real Madrid foi nomeado melhor time do século passado, o Al Ahly foi considerado o melhor da África. Tem sete títulos seguidos. Abutrika é um mito: quando fomos jogar no Marrocos foi incrível, o estádio inteiro o ovacionou.