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Vila Cruzeiro duvida de futuro de Adriano no futebol e cobra apoio de filho mais ilustre

Ídolo do bairro em que foi criado, Imperador é criticado por não ajudar projetos sociais - Daniel Ramalho/UOL
Ídolo do bairro em que foi criado, Imperador é criticado por não ajudar projetos sociais Imagem: Daniel Ramalho/UOL

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

20/03/2012 06h00

Enquanto Adriano descansa tranquilo em Búzios à espera de um acerto com um novo clube, discussões sobre seu futuro tomam conta da hoje famosa Vila Cruzeiro. No local em que o jogador foi criado e é considerado o maior ídolo, são muitos os que duvidam se ele conseguirá retomar mais uma vez sua carreira após inúmeras confusões e uma séria lesão que o tirou dos gramados por quase um ano. 
 
"Acho que não vai dar", diz Aires Cesar Pereira, aposentado, em conversa com o dono da banca de jornais da Vila Cruzeiro. "Faz tempo que ele não joga mais bola. Só quer saber de mulherada e farra."
 
"Se o Imperador resolver jogar, não tem para ninguém", responde José Corrêa Michel, de dentro da banca. "Mas antes de tudo ele tem que pôr a cabeça na lugar."
 
Apesar das críticas de alguns, a torcida por Adriano é unânime na Vila Cruzeiro. O filho mais ilustre de uma área pobre do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, é extremamente querido em sua terra natal. Motivo de piadas em grafites feitos em muros, mas exemplo para crianças nos campos, o Imperador é descrito por moradores como um rapaz pacato, gente boa e muito ligado às suas raízes.
Toda essa ligação, contudo, ainda não foi revertida em atitudes do jogador, segundo pessoas ligadas a projetos sociais e à Associação de Moradores da Vila Cruzeiro. Elas criticam o Imperador pela falta de apoio para resolver problemas que ele mesmo já sentiu na pele e torcem para que seu retorno ao Rio de Janeiro sirva também para abrir seus olhos para o dia-a-dia do bairro.
 

FALTA DE APOIO

  • Daniel Ramalho/UOL

    Jorge Luiz Ribeiro da Silva mostra foto com pai de Adriano, em time da Vila Cruzeiro. Hoje, reclama de falta de apoio do Imperador para projeto e teme por futuro de atleta: "lesão foi muito grave"

“O Adriano é uma excelente pessoa, mas podia dar mais apoio”, afirma Jorge Luiz Ribeiro da Silva, professor do projeto que dá aulas de futebol para crianças da Vila Cruzeiro no mesmo campo de terra batida que Adriano deus seus primeiros passos como jogador. “Tem muito menino que falta a treino porque não tem um tênis. Ele viveu isso. Poderia ajudar.”
 
Jorge conheceu Adriano muito antes de ele se tornar o Imperador. Foi companheiro do pai do atacante no time amador Ordem e Progresso, também da Vila Cruzeiro, e acompanhou a ascensão meteórica do jogador. “Me lembro como se fosse hoje quanto ele entrou aqui em cima de um carro de bombeiros depois de ser campeão mundial pela seleção sub-17.”
 
Jorge diz que sabe que Adriano é uma boa pessoa. Não entende, porém, por que ele não ajuda aos garotos do bairro a ter uma chance de escapar de uma realidade que os rodeia.
 
A área da Vila Cruzeiro era até alguns meses território dominado pelo tráfico de drogas. Recentemente, foi ocupada pela forças de pacificação do Exército e polícia e tem vigilância constante. Mesmo assim, ainda é considerada pelos próprios moradores bairro um local perigoso. 
 
Apesar disso, Adriano nunca deixou de frequentar o bairro. Lá, moradores contam que o vêem periodicamente andando sem camisa, de pés descalços e sem chamar muita atenção. Perto do beco em que ele morou por muitos anos junto com sua avó, ele organiza churrascos e passa tardes e noites com as mesmas pessoas com que conviveu durante anos. 
 

ÍDOLO DA JUVENTUDE

  • Daniel Ramalho/UOL

    Allan Henrique Miranda Peireira, de 15 anos, mora na Vila Cruzeiro e é fã de Adriano. Para ele, o Imperador é um ótimo atacante e deveria voltar para o Flamengo

“Ele coloca uma daquelas churrasqueirinhas improvisadas, junta alguns amigos e faz uma festinha com a rapaziada. Este banco aqui foi ele mesmo mandou construir”, conta Roberto Carlos Serafim, o Betinho, primeiro secretário da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, apontando para um banco de concreto com vista para o campo.
 
Betinho tem 47 anos e sempre morou na Vila Cruzeiro. Para ele, Adriano é um rapaz bem educado e que se dá bem com todos no bairro. Betinho também só não compreende por que o Imperador falha tanto no que diz respeito à ajuda ao local que tanto gosta e onde é tão admirado.
 
“Tem tanto garoto daqui que sonha em ser como ele, e tem potencial”, afirmou Betinho, que também ajuda na organização das aulas de futebol. “Se o Adriano emprestasse o nome 'Imperador' para o projeto, isso aqui já seria muito diferente.”
 
Contudo, os mesmos garotos que sofrem por falta de oportunidades na Vila Cruzeiro são os que idolatram Adriano. Todas as confusões e indisciplina que permeiam a história do Imperador não foram suficientes para que meninos com Allan Henrique Miranda Pereira, de 15 anos, buscasse outros exemplos para sua vida que não fossem o de Adriano.
 
“Se um dia eu tiver sucesso, vou ser como ele. Quero sempre voltar para a Vila Cruzeiro para curtir com os amigos de verdade”, diz Allan, que também sonha em ser jogador de futebol e jogar no ataque, como o Imperador. “O Adriano também é um jogador muito bom. Tem raça e um chute forte.”
 
Alheio a todas as críticas sobre o comportamento Adriano nos clubes por que passou e sua falta de comprometimento com a carreira, Allan só aponta um defeito no Imperador: a bebida. “Isso eu não curto nele. Ele tinha que parar de beber.”