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Sem receber, Maurine diz que ensaio serviu só para mostrar feminilidade

Maurine, lateral da seleção brasileira de futebol, em ensaio sensual - Thiago Solano
Maurine, lateral da seleção brasileira de futebol, em ensaio sensual Imagem: Thiago Solano

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

20/03/2013 06h00

Há aproximadamente dez meses, a lateral da seleção brasileira feminina de futebol Maurine decidiu fazer um ensaio sensual ousado, com fotos apenas de calcinha. A intenção, além de uma questão de vaidade pessoal, era tentar melhorar a imagem das atletas da modalidade e mostrar o lado sexy das garotas de meião e chuteiras.

Maurine diz que queria mostrar que há muita beleza também entre as mulheres do futebol, que não têm a fama das meninas do vôlei, por exemplo. Esse objetivo, segundo a atleta, foi atingido.

“O preconceito mudou bastante, o modo como as pessoas enxergam o futebol feminino e nós como mulheres”, falou a jogadora ao UOL Esporte. “Comigo, particularmente, o pessoal passou a brincar bastante, dizer que iam aos jogos para ver a lateral musa da seleção. Foi muito produtivo e legal”, afirmou.

A colheita dos frutos, no entanto, fica só nos elogios e mudança de imagem das atletas mesmo. Não houve melhoras nas condições e exposição. Isso porque Maurine reclama da pouca atenção dada ao futebol feminino e das dificuldades que ainda enfrenta.

Ela já atuou nos Estados Unidos e agora está na equipe do Centro Olímpico, de São Paulo. Mas os patrocinadores do time foram embora com a mudança de gestão na prefeitura e a atleta está prestes a completar dois meses sem receber.

“Estão demorando um pouco para agilizar o nosso salário. Estamos há um mês e meio, quase dois sem receber, e é complicado pra gente, pois eu não tenho nenhum refúgio para me virar fora o meu salário. Espero que isso possa se resolver.”

A atleta não tem como pedir auxílio para a família, já que é ela quem ajuda os parentes, alega. E nessa fase tem usado dinheiro de uma reserva que tem que tinha como destino inicial comprar seu primeiro imóvel.

“A minha família quem ajuda sou eu, então não tem como eu dar uma ajuda. Como joguei fora do país, tenho esse dinheiro guardado que seria para a minha casa. Estou usando ele para poder me manter. Fora isso estou só com meu carro”, contou.

Maurine diz que o ensaio foi feito mais pelo lado pessoal, mas que até poderia ter outro efeito e ajudar diretamente em sua carreira pessoal e no do time ao chamar atenção.  Na época, queria atrair atenção - e patrocinadores - para o futebol feminino, que sofrera no fim de 2011 um baque com o fim do time do Santos. Mas não deu certo.  “É, não funcionou”, lamentou.

Na época do ensaio, titubeou quando questionada se toparia um ensaio nu. Hoje, descarta mesmo sem receber. “Está mantida a ideia de não posar. Gosto de foto, mas pra recordação. Posso até fazer mais pra frente, mas pra outra coisa, e não isso [ensaio nu].”

Falta também ideia de como melhorar o esporte feminino. “Não tenho ideia [de como resolver a situação]. A gente treina, não deixa de treinar  e se dedicar.  Fazemos tudo com boa vontade e paciência e ficamos só esperando que isso possa resolver.”

Comunicado

Na terça-feira, a Secretaria de Esportes da Cidade de São Paulo emitiu um comunicado em que admite a dívida com as jogadoras do Centro Olímpico e que tenta conseguir novos patrocinadores para suprir os que saíram.

"Em janeiro de 2013, duas das quatro empresas cancelaram seus contratos de patrocínio e deixaram de repassar as verbas que possibilitavam o pagamento de ajuda de custo direcionado às atletas e comissão técnica", diz o comunicado. "Também em janeiro de 2013, a pedido da Adeco, o gabinete da Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação iniciou contato e vem mantendo reuniões com possíveis patrocinadores, não obtendo quaisquer tipos de retorno positivo até a presente data", continua.

"Não há previsão para o pagamento de salários, nem por meio do convênio, nem é claro, onerando diretamente o orçamento da Prefeitura", continou.