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'Antibiografia' de Casagrande exibe luta contra drogas e pouco futebol

 Casagrande fala com Serginho Groisman sobre o lançamento de autobiografia - Reinaldo Marques/TV Globo
Casagrande fala com Serginho Groisman sobre o lançamento de autobiografia Imagem: Reinaldo Marques/TV Globo

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

08/04/2013 12h00

Por motivos óbvios, há um grande interesse do mercado editorial e do público brasileiro por livros sobre a vida de jogadores e ex-jogadores de futebol. O problema é que a legislação do país ainda limita muito a publicação de biografias não-autorizadas. Por este motivo, só temos visto a edição de livros nos quais a descrição das glórias e a reprodução de elogios ocupam todas as páginas, transformando atletas em super-homens sem falhas nem defeitos.

“Casagrande e seus Demônios”, que será lançado nesta terça-feira, ocupa um lugar peculiar neste mercado. É um livro que não contém a descrição detalhada de um único gol do atacante, praticamente não relata lances ou partidas importantes, nem inclui depoimentos com elogios ao craque que ele foi no Corinthians, seleção brasileira, Porto e Torino, entre outros.

Casagrande teve uma carreira notável como jogador de futebol e, ao mesmo tempo projetou uma imagem rara, ligada a ideais libertários. Fã de rock, defensor de idéias políticas de esquerda, teve problemas em vários clubes por conta de suas convicções e sempre se manifestou a favor de causas polêmicas.

Tanto o futebol quanto este lado rebelde estão presentes, mas em segundo plano em “Casagrande e seus Demônios”. O livro é quase uma antibiografia, o relato de uma vida no qual se privilegia um único aspecto, justamente o mais negativo. Foi escrito pelo próprio Casagrande em parceria com o jornalista Gilvan Ribeiro. E, como sugere o título, parece ter uma função específica – a de tentar exorcizar publicamente o “demônio” da dependência química, que quase causou a morte do ex-jogador.

Sabendo disso, o leitor que se aventurar pelas páginas de “Casagrande e seus Demônios” encontrará uma história impressionante, muita vezes chocante, sobre como o envolvimento com drogas foi uma sombra ao longo da carreira e, depois, afetou as relações pessoais e profissionais do ex-atleta.

O livro reconstitui as primeiras experiências de Casagrande com maconha, na juventude, a iniciação com cocaína, a prisão quando jogava no Corinthians (ele defende que a polícia “plantou” a droga) e o uso de heroína. Também há a confissão de que jogou dopado, a contragosto, em quatro ocasiões da carreira, na Europa.

Muito bem escrito, “Casagrande e seus Demônios” também descreve em detalhes a instável relação com Sócrates, muito amigos e parceiros durante a fase da Democracia Corintiana, mas que se afastaram. Num dos melhores momentos, para quem procura por futebol no livro, Casagrande descreve os bastidores da seleção de 1986 e conta sobre o seu difícil relacionamento com Telê.

Há muito pouco, também, sobre o trabalho que Casagrande abraçou desde que pendurou as chuteiras – primeiro na ESPN Brasil, depois na Globo. Hoje o principal comentarista da emissora, sempre se diferenciou de outros ex-atletas na mesma função por falar abertamente o que pensa, sem medo de se comprometer.  

Ao final, num depoimento em primeira pessoa, Casagrande fala da emoção que deixou transparecer, torcendo pelo Corinthians, na final do Mundial de Clubes, no Japão, em dezembro de 2012. “Não me importei com as possíveis conseqüências. Nem com a reação do público nem com a quebra de protocolo dentro da TV Globo”, diz.

Ao fazer um balanço de sua trajetória até hoje, Casão, como é chamado pelos amigos e fãs, diz: “Não me orgulho de tudo que fiz, mas não me arrependo de quase nada. E admito: a sensação predominante é de paz comigo mesmo”

“Casagrande e seus Demônios” (Globo Livros, 264 págs., R$ 34,90) será lançado nesta terça-feira, dia, às 18h30, na Livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073), em São Paulo.