Falha com brasileiros é exceção em trabalho vitorioso de Alex Ferguson

Ao revelar a aposentadoria para o final desta temporada, em anúncio realizado na última quarta-feira, Alex Ferguson encara um desfecho de carreira cercado pela reverência proporcional de quem revolucionou o futebol inglês. É difícil para qualquer crítico do escocês macular uma trajetória repleta de taças e façanhas, mas o técnico deixa o Manchester United após 27 anos sem conseguir emplacar nenhuma de suas apostas brasileiras.

Ferguson construiu ao longo dos anos no banco de Old Trafford a reputação de ter um olhar privilegiado para detectar jovens valores, aqueles em que enxergava a possibilidade de transformação em grandes jogadores. São incontáveis os casos com jogadores britânicos. Foi assim também com o Cristiano Ronaldo, que chegou ao Manchester United como um adolescente do Sporting, uma pedra bruta com clara necessidade de lapidação. Outra menção para o norueguês Ole Gunnar Solskjaer, herói da Champions League de 1999.

No entanto, as apostas brasileiras do multicampeão Ferguson acabaram não vingando, com as decepções de Kleberson e Rodrigo Possebon. Agrega-se a esse histórico as tentativas com Anderson e com os gêmeos Rafael e Fábio – todos, apesar do longo tempo de casa, experimentaram bons momentos, mas fugazes, e jamais conseguiram se firmar.

Se a análise for estendida para os sul-americanos, também pouca gente conseguiu ser relevante com o gerentão Ferguson em Old Trafford. O argentino Carlos Tévez emplacou uma boa temporada no tridente com Ronaldo e Rooney, mas não convenceu Sir Alex a ficar. Seus compatriotas Gabriel Heinze e Juan Sebastián Verón tiveram desempenhos medianos, assim como o uruguaio Diego Forlán. Atualmente o equatoriano Antonio Valencia desfruta de mais prestígio, mesmo na reserva.

KLEBERSON (2003–2005)

Kleberson foi o primeiro brasileiro da história a vestir a camisa do United, negociado pelo Atlético-PR. O volante chegou com status de campeão do mundo, vindo de um grande desempenho na final da Copa de 2002. O brasileiro desembarcou em Manchester para ocupar a vaga deixada pelo argentino Juan Sebastián Verón, então de partida para o Chelsea. O titular do penta foi apresentado junto com Cristiano Ronaldo, mas teve destino no clube bem diferente do português. Não conseguiu ser aquele homem de meio moderno da decisão do Mundial, correndo sem parar entre defesa e ataque e servindo os homens de frente. Em 2005, sem espaço no elenco, acabou transferido ao Besiktas, da Turquia. Retrospecto final: dois gols e 30 partidas. 

RODRIGO POSSEBON (2008–2010)

O volante chegou a Old Trafford em 2008 com reputação de promessa da base do Internacional. O passaporte italiano ainda ajudou Possebon a escapar da vaga de não-europeu. Estreou substituindo Ryan Giggs no segundo tempo da partida contra o Newcastle United, em empate por 1 a 1. Mas em seguida jogou muito pouco, sempre em partidas de menor relevância. No início da temporada 2009-10 foi emprestado ao Braga, de Portugal.

ANDERSON (2007– atualmente)

O ex-meia gremista chegou ao Manchester embalado por uma grande temporada com a camisa do Porto, contratado por 31,5 milhões de euros. Com Ferguson, o talentoso herói da "Batalha dos Aflitos" teve que enfrentar uma mudança drástica de perfil. Depois de uma contusão de Paul Scholes, Anderson foi destacado pelo técnico para a posição de volante, função onde conseguiu êxito apenas efêmero. Em 2008 na final da Liga dos Campeões, o brasileiro entrou no último minuto da prorrogação para substituir Wes Brown e converteu um dos pênaltis contra o Chelsea. Tem contrato até 2015, mas já há algum tempo amarga uma fase sem prestígio, na reserva do time.

RAFAEL E FABIO (2008 – atualmente)

Revelações da base do Fluminense, os gêmeos chegaram ao Manchester em 2008 e tiveram que esperar completarem 18 anos para integrarem oficialmente o elenco. Lateral esquerdo, Fábio teve sua oportunidade entre os titulares, mas não conseguiu se afirmar. Hoje atua emprestado ao Queens Park Rangers. A chance para Rafael, lateral direito, apareceu depois. Nos últimos anos o brasileiro tem alternado bons e maus momentos, mas já ganhou elogios públicos de Ferguson. Recentemente o técnico afirmou que não entendia como Rafael não era nome constante na seleção brasileira. O jogador, no entanto, sofre com a repetição de cartões.