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Senado convoca ministro e pressiona governo por solução para corintianos na Bolívia

Torcedores corintianos seguem presos na Bolívia à espera de desfecho das investigações - Aizar Raldes/AFP
Torcedores corintianos seguem presos na Bolívia à espera de desfecho das investigações Imagem: Aizar Raldes/AFP

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

30/05/2013 06h00

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é esperado pelo Senado nas próximas duas semanas para esclarecimentos sobre a situação dos 12 torcedores do Corinthians presos na Bolívia. A intenção da Comissão de Relações Exteriores da casa é pressionar o governo em busca de uma resolução do caso, que se arrasta desde fevereiro.

Segundo o autor do convite a Cardozo, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), a intenção é que o embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Fortuna Biato, também compareça à comissão para debater a situação. Doze torcedores estão detidos há mais de 90 dias em Oruro, acusados de envolvimento na morte do adolescente boliviano Kevin Espada, atingido por um sinalizador durante a partida entre Corinthians e San Jose, pela Libertadores.

O senador Ferraço esteve na Bolívia nos últimos meses para participar do diálogo do caso dos corintianos. O membro da Comissão de Relações Exteriores entende que o episódio simboliza um instante de desconforto na relação diplomática entre os dois países em questão.

"Fico com a percepção de que existe uma motivação politica por trás da condução deste caso, a esfera diplomática vem sendo afetada por determinados momentos de viés partidarizado. Existem indicadores muito complexos neste caso. Entendo que a posição do governo brasileiro deveria ser mais afirmativa. São mais de 90 dias sem uma solução, com todos os indicativos de inocência dos brasileiros", afirmou Ferraço em contato com a reportagem do UOL Esporte na última quarta-feira.

"Não existe da parte da Bolívia uma reciprocidade, levando em conta a atenção que temos com a Bolívia. O governo Morales dá de ombros com as questões brasileiras. Foi assim no episodio Petrobras, na estatização de empresas brasileiras, conflitos de fronteira, carros roubados que não retornam ao Brasil. Isso precisa ser enfrentado pelo governo brasileiro. Entendo que o governo vem sendo profundamente negligente com essa realidade", acrescenta o senador do PMDB.

Cardozo chefiou uma missão diplomática brasileira em abril para dialogar com a Justiça boliviana, em conversa que também teve em pauta o monitoramento da fronteira entre os dois países.

Recentemente a revista Isto É publicou denúncia de uma suposta cobrança financeira feita pelo advogado da família de Kevin para inocentar os 12 torcedores brasileiros. A publicação diz ter obtido áudio de conversas envolvendo Beltrán Espada, advogado da família boliviana, em que ele teria exigido US$ 220 mil (cerca de R$ 450 mil) para produzir petição destacando a inocência dos corintianos.

Ainda neste contexto político entre as duas nações, aparece como elemento complicador o asilo político concedido pelo governo brasileiro ao senador boliviano Roger Pinto, opositor de Evo Morales, que acaba de completar um ano abrigado na embaixada brasileira em La Paz.

A suposta chantagem do advogado da família de Kevin estará em pauta na conversa com Cardozo, afirma o senador Ferraço:

"Eles estão sendo chantageados. Estão pagando pelo asilo político que demos ao senador boliviano, que vinha sendo perseguido politicamente. A pena para esses brasileiros pode ser o esquecimento. Causa perplexidade, é uma chantagem explicita. E não há da parte do governo um posicionamento mais afirmativo. Reciprocidade exige respeito mutuo".

ENTENDA O CASO DOS CORINTIANOS PRESOS EM ORURO

O jovem boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada morreu aos 14 anos durante o jogo entre San José e Corinthians em 20 de fevereiro, no estádio Jesús Bermúdez, em Oruro. O adolescente foi atingido por um sinalizador disparado por um torcedor brasileiro, distante cerca de 30 metros. Estima-se que o artefato tenha atingido a vítima a uma velocidade superior a 300 km/h.

Na ocasião foram detidos 12 torcedores corintianos, inicialmente na Corte Superior de Justiça de Oruro e posteriormente transferidos para o Cárcere de San Pedro, na mesma cidade.

Cinco dias mais tarde, um jovem de 17 anos confessou ter sido o autor do disparo do sinalizador, em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo. O menor foi ouvido pelo promotor boliviano Alfredo Canavari no final de abril, em São Paulo.