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Ricardo Pinto diz não desejar mal a agressor que atrapalhou carreira

Jogadores do Atlético-PR entraram em atrito com torcida do Fluminense - Ivo Gonzalez/O Globo
Jogadores do Atlético-PR entraram em atrito com torcida do Fluminense Imagem: Ivo Gonzalez/O Globo

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

19/09/2013 06h00

Uma pessoa sem mágoas, sentimentos de vingança ou qualquer coisa desse tipo. O que passou foi aprendizado, e o ato de perdoar é algo nobre. É assim que o ex-goleiro e hoje técnico Ricardo Pinto encara a situação mais dramática por qual já passou, há 17 anos, em um jogo entre os dois times que marcaram sua carreira.

Ricardo foi goleiro do Fluminense durante cinco anos, entre o final da década de 80 e o começo da de 90. Depois, passou pelo futebol paraguaio e pelo Corinthians até chegar em 1995 ao Atlético-PR, clube no qual tem forte ligação e chegou a trabalhar como preparador de goleiros.

No Campeonato Brasileiro de 1996, o time paranaense fazia ótima campanha (se classificou para a fase final como quarto colocado em um time que que tinha os atacantes Oséas e Paulo Rink). E no dia 10 de novembro de 1996, o time paranaense foi até as Laranjeiras encarar o Fluminense.

O jogo foi disputado, com vitória por 3 a 2 da equipe visitante. Ricardo fora xingado pela torcida por sua passagem pelo clube e extravasou ao comemorar a vitória em direção às arquibancadas. Eis que em uma cena de selvageria, alguns torcedores invadiram o campo para agredir o arqueiro.

O campo das Laranjeiras virou um palco de guerra entre jogadores do Atlético-PR e torcedores. Um torcedor conseguiu acertar Ricardo, que caiu desacordado. O jogador acabou afastado três meses do futebol e perdeu o restante da competição para se recuperar de uma lesão no crânio. Mas nada de cultivar raiva do agressor.

“Não fiquei magoado com ninguém. Se eu tivesse que fazer algo, faria com aquela pessoa o mesmo que fez comigo. Mas eu jamais faria isso com ele, sou incapaz disso. O episódio passou, mas não tenho nada contra ninguém”, falou.

“O que eu lamento é que atrapalhou minha carreira, o Atlético-PR estava bem, perdeu nas quartas e eu estaria junto com o clube. Estava bem pra caramba, maduro, forte, época que eu achava que poderia ter felicidade maior do que ficar no hospital. Mas não reclamo não. Foi uma fatalidade. O Atlético-PR poderia ter sido campeão. Tinha que acontecer e passou, deixei pra trás, morreu pra mim.”

Ricardo Pinto nunca mais pisou nas Laranjeiras desde então. E diz que foi apenas por casualidade. Se recebesse um convite, voltaria normalmente. “Se me chamarem pra ir para as Laranjeiras eu vou, só nunca mais tive oportunidade de jogar lá pelos times que passei. Na época que eu estava no hospital, o Fluminense me pediu desculpas pelos dirigentes. Eles não tiveram culpa.”

VEJA A CONFUSÃO ENTRE FLUMINENSE E ATLÉTICO-PR EM 1996

 

O ex-goleiro vem trabalhando como técnico desde 2005 e neste ano conseguiu o acesso à Série A2 do Campeonato Paulista com o Batatais. O time agora está parado, e o treinador deve voltar no fim do ano à cidade paulista para os trabalhos para o ano que vem.

“Já são oito anos de luta (como técnico). Me preocupo pouco em propagandear o que faço, penso em fazer trabalho legal apenas. Não sou chegado em publicidade, é o trabalho que vai mostrar se você é bom ou não.”

Agora, está no Espírito Santo descansando com a família. “Aproveito agora para passar um tempo com meus mais e irmãos, já que pela minha carreira tenho pouco tempo para isso”, falou.

RICARDO RECEBEU PEDIDO DE DESCULPAS DO FLUMINENSE

  • Wander Roberto/A Gazeta Esportiva

    Ricardo Pinto foi visitado pelo presidente do Fluminense na época, Gil.Carneiro Mendonça

RICARDO PÕE CORINTHIANS ENTRE OS CLUBES ESPECIAIS

  • Wander Roberto/A Gazeta Esportiva

    Ricardo Pinto coloca também o Corinthians entre os times mais especiais. Como reserva de Ronaldo, foi campeão Paulista e da Copa do Brasil de 1995. “Joguei em vários times que considero especiais. O Fluminense me projetou e me deu chance. Joguei no Corinthians ,que acho o maior clube do Brasil, uma potência. Foi um ano e quatro meses, mas muito intenso. E guardo com carinho porque foi uma passagem especial. Afetivamente foi minha melhor passagem.”