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Goleador do Mundial sub-17, Boschilia rendeu R$ 600 mil e briga ao Guarani

Guilherme Costa, Guilherme Palenzuela e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

31/10/2013 06h01

Classificado às quartas de final do Mundial sub-17 com quatro vitórias em quatro jogos, o Brasil tem uma série de destaques individuais no torneio de futebol que está sendo realizado nos Emirados Árabes Unidos. Poucos deles têm sido tão consistentes quanto o meia-atacante Gabriel Boschilia, que atualmente defende o São Paulo. Revelado pelo Guarani, o garoto rendeu R$ 600 mil e uma crise ao clube de Campinas, que ainda luta para aumentar o dinheiro ganho com a cria.

Autor de seis gols e artilheiro do Mundial, Boschilia foi negociado com o São Paulo em novembro do ano passado. Até hoje, porém, a atual diretoria e a antiga cúpula do Guarani duelam sobre o modelo da transação.

“O Marcelo Mingoni, que renunciou à presidência do Guarani em novembro do ano passado, participou de 10 a 15 transações de jogadores da base e doou uma parte desses atletas para um empresário chamado Hugo Ardison. Essas transações foram realizadas um ou dois meses antes de ele renunciar. Hoje há uma ação criminal sobre isso em Campinas”, contou Álvaro Negrão, atual mandatário da equipe de Campinas.

Segundo o presidente em exercício, Boschilia tinha direitos totalmente vinculados ao Guarani. Quando a negociação com o São Paulo foi feita, Hugo Ardison ficou com 40% do montante pago pelo time do Morumbi.

“Eles são sócios ocultos. O Guarani sempre foi um clube formador e revelou excelentes atletas, mas olha o que esse presidente fez. Agora o jogador é mais valorizado, sem dúvida, e o Guarani briga pelo percentual que foi doado”, disse Negrão.

Boschilia foi apenas uma das promessas negociadas pelo Guarani em 2012. Em grave crise financeira, o time do interior de São Paulo também se desfez do meia Léo Citadini e dos atacantes Adelino e Bruno Mendes, por exemplo.

Assim como o caso de Boschilia, essas transações renderam grandes polêmicas. Citadini acionou judicialmente o Guarani, iniciou um litígio e pagou R$ 300 mil para sair. Hoje em dia, treina entre os profissionais do Santos. Adelino, que está na base do São Paulo, foi negociado por R$ 450 mil. Bruno Mendes custou R$ 7 milhões a um grupo de empresários que o repassou ao Botafogo, mas apenas R$ 3,9 milhões entraram nos cofres da equipe do interior paulista.

“O que chama atenção é que a maioria das negociações teve participação de um empresário que não é daqui e que aparentemente não tem qualquer vínculo com a cidade, com o clube ou com os jogadores”, ponderou Felipe Souza, advogado do Guarani.

“O empresário ficou com 40% do Bruno Mendes, mas o próprio Bruno disse em uma audiência aqui em São Paulo que nem sabe quem é. Essa é uma situação que chamou atenção da diretoria”, continuou Souza.

O problema, segundo a atual cúpula do Guarani, é que o clube não consegue comprovar irregularidades na relação com Hugo Ardison. “Você não tem um ato negocial tão claro, e a diretoria não consegue visualizar o tal laço dessas operações que têm sempre a mesma pessoa”, afirmou o advogado da equipe campineira.

Hugo Ardison contesta veementemente a versão da atual diretoria. Em contato com o UOL Esporte, o empresário disse que trabalha com Boschilia desde o início da carreira do jogador.

“A gente vem cuidando dele desde quando o Boschilia era ninguém e não tinha contrato com o Guarani. O garoto vem de família humilde, e a gente vem trabalhando. Quando chegou o momento de fazer o contrato profissional, fui ao Guarani com a mãe dele, que se chama Matilde, e depois fiz um acerto com a família: eles ficaram com 25%, e eu com outros 25%. O Guarani vendeu os 50% dele para o São Paulo, e nós mantivemos os 50% restantes. O que o clube precisa entender é que o Boschilia está comigo desde os 12 anos, e eles nunca quiseram mostrar o jogador”, disse Ardison.

O empresário acusa o Guarani de negligenciar competições de base, o que reduz a exposição dos atletas. Além disso, segundo Ardison, os jogadores dos times menores da equipe campineira são expostos a condições precárias.

“Eu tenho fotos da alimentação que o Guarani cede e do alojamento. Se você vir isso, vai ficar horrorizado. O Guarani se diz formador, mas não dá assistência alguma”, atacou o agente.

A negociação de Boschilia com o São Paulo fez parte de uma aproximação entre o clube do Morumbi e o Guarani. O time da capital também contratou Adelino e Eduardo e cedeu por empréstimo o meia Dener.

As conversas entre São Paulo e Guarani foram conduzidas entre Marcelo Mingone, que era presidente do time de Campinas, e Adalberto Baptista, que na época ocupava a direção de futebol da equipe da capital. Procurado pelo UOL Esporte, o antigo mandatário do clube do interior não atendeu as ligações.

Quando Boschilia chegou à base do São Paulo, o armador da geração nascida em 1996 era Auro. O reforço oriundo do Guarani obrigou o meia a ser deslocado para a lateral direita. Hoje, ambos são titulares da seleção brasileira sub-17.

A geração nascida em 1996, aliás, é tratada com muito otimismo no São Paulo. Além do lateral-direito Auro e de Boschilia, o zagueiro Lucas e o volante Gustavo, outro que cumprirá suspensão na sexta-feira, são titulares do Brasil no Mundial sub-17 e jogam na equipe do Morumbi.