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Curso com Neto e Edmilson quer ensinar a jogar futebol pela internet

O pentacampeão Edmilson: professor pela internet - Caio Duran / AgNews
O pentacampeão Edmilson: professor pela internet Imagem: Caio Duran / AgNews

Jones Rossi

do UOL, em São Paulo

05/12/2013 06h00

Com as mudanças pelas quais o Brasil vem passando nas últimas décadas, era uma questão de tempo para isso acontecer: em vez de aprender futebol na rua ou em campos de terra cada vez mais raros, chegou a era do futebol ensinado pela internet.

Nesta terça-feira, foi lançada a primeira iniciativa do gênero no Brasil. Em videoaulas pagas que podem ser vistas pelo computador, tablet ou celular, os ex-jogadores Neto, ídolo do Corinthians, e o pentacampeão Edmilson ensinam o beabá do futebol: como bater faltas, pênaltis, escanteios, fazer passes e lançamentos.

"Há maneiras de, mesmo estando em casa, aprender a passar melhor. Vai numa parede e fica chutando de perna esquerda e perna direita. Eu fiz muito isso na minha vida", afirma o agora professor Edmilson. "Acho que futebol é repetição. Então tem que repetir sempre. Passe curto, depois vai aumentando um pouquinho mais, daqui a pouco você está fazendo passe de 30, 40 metros", completou.

Confiante, Edmilson acredita que seja possível até revelar um novo Neymar por meio do curso. "Acho que se a gente fizer um trabalho legal e como acredito muito no Brasil e no trabalho da garotada, acho que a gente possa tirar algum jogar que possa chegar perto dele sim", afirmou.

Os planos de assinaturas variam de 90 dias a um ano, e custam de três parcelas de R$ 40 a três de R$ 80. No curso dado por Edmilson, além do básico, ele ensina como administrar o dinheiro ganho com o futebol e até o que fazer na hora de se aposentar. "99% dos atletas estão anestesiados com a fama, com dinheiro, com sucesso e não ouvem ninguém, nem o empresário, nem a própria mulher. Acham que são deuses. Essas aulas não são só para quem quer ganhar dinheiro, mas para quem quer ganhar dinheiro, ser conhecido e criar um legado dentro da carreira. Possivelmente não vai tocar o cara que já está em um clube grande, mas aquele jogador que já jogou em clube grande e está pensando: 'onde foi que eu errei?'" 

Fim da pelada

Para o jornalista Tim Vickery, correspondente da BBC no Brasil há mais de uma década, o surgimento de cursos como estes evidenciam uma mudança de hábitos entre a juventude brasileira. "Os jovens já não passam a mesma quantidade de horas com a bola como há quinze anos", disse. Para ele, isso é culpa do aumento da violência, que afasta os jovens dos espaços urbanos, e também do maior tempo que esses mesmos jovens passam em casa conectados à internet. "Isso tem um efeito natural na produção de talentos", afirmou.

Ou seja, o Brasil, que já enfrenta uma crise de grandes talentos - Neymar é, segundo a imprensa internacional, o único fora de série do país no momento - pode ver o problema se agravar no futuro, como já ocorreu antes na Europa. "É possível ensinar técnica e tática, mas existe uma coisa de espontaneidade que se aprende sozinho, na rua. Messi, por exemplo, é essa mistura perfeita", afirmou Vickery.

A perda de espaços urbanos, seja para empreendimentos imobiliários ou porque se tornaram perigosos demais para crianças e adolescentes, não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. Recém lançado no Brasil, o livro 'Pelada - Uma volta do mundo pelo prazer de jogar futebol', da americana Gwendolyn Oxenham, mostra como em vários lugares do mundo o futebol de rua está morrendo.

Em Tóquio, como qualquer espaço é muito caro, as quadras ficam no alto dos prédios. E alugá-las custa tanto que é costume fazer isso somente em datas festivas, como em um aniversário.

Obras e trânsito estão acabando com os campinhos pelo mundo, afirma o livro. "Em quase todos os países que visitamos ouvimos isso - as pessoas franzindo a testa, a voz com um ar pesado de nostalgia, falando de antigamente, dos jogos que desapareceram." Não por acaso, Gwendolyn conhece bem a realidade brasileira. Tanto que ela decidiu manter a palavra "Pelada" em português em todas as edições do livro, mesmo nos países que não falam o idioma. Uma homenagem a algo que aos poucos está acabando.