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Promessa do Fla lembra 'não' ao Barça e saia justa por elogio a C. Ronaldo

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/01/2014 06h10

Com apenas 12 anos e pouco mais de dez jogos oficiais pelas categorias de base do Flamengo, Cassiano Bouzon poderia ser apontado apenas como mais um jovem que inicia a busca por realizar o sonho de se tornar jogador de futebol. No entanto, o breve currículo de propostas do exterior e as histórias acumuladas em alguns meses confirmam as expectativas que envolvem a criança rubro-negra.

Em pouco mais de um ano e meio, o pequeno baiano criado na base do Vitória deixou a cidade natal, atraiu a atenção do Grêmio, treinou no Fluminense e foi parar no Flamengo. No meio do caminho, porém, uma proposta quase irrecusável cruzou o caminho de Cassiano. E coube a promessa de 12 anos mostrar que aquele convite poderia receber um “não”.

Com 11 anos, o meia canhoto de muita habilidade surpreendeu olheiros do Barcelona e foi levado ao clube para uma espécie de semana de testes. Bastaram alguns minutos para que os dirigentes do clube catalão confirmassem os elogios dos observadores técnicos. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, Cassiano recusou ficar na Espanha.

Com saudade de casa, da família e dos amigos, o jovem disse ao Barcelona que não iria ficar na tão sonhada La Masia – o elogiado e produtivo centro de treinamento da base catalã. E aquela recusa não seria a única resposta a surpreender os dirigentes catalães. A sinceridade de Cassiano assustou em outra pergunta.

“Estava em uma sala com vários diretores e eles me perguntavam se eu queria ver o Messi, se gostava dele. Respondi que não estava pensando muito naquilo e que eu era fã mesmo do Cristiano Ronaldo. Acho que não gostaram muito”, contou Cassiano, com a inocência peculiar de uma criança.

“O pessoal ficou muito sem graça na hora. Eles pareciam não acreditar. Foi complicado, mas depois entenderam numa boa”, contou o pai do menino, Francisco de Jesus.

Acordo para voltar ao Barcelona
A resposta longe do esperado e a sinceridade não diminuíram o encanto do clube pelo jovem. “Ficou tudo bem. Tanto que, após o Cassiano falar que não queria ficar, eles vieram conversar comigo para avisar que não desistiriam. Me explicaram que pretendem comprá-lo quando ele completar uns 16 anos e estiver mais amadurecido, mais tranquilo”, contou o pai.

Boa parte da expectativa do Barcelona sobre o jovem do Flamengo é explicada pelo agente que apresentou Cassiano ao clube. Responsável por levar Messi, Romário, Maradona e Rivaldo ao time catalão, José Maria Minguella garantiu aos dirigentes que o menino de 12 anos pode dar um excelente retorno.

SAIA JUSTA NO CAMP NOU

AFP PHOTO / JAVIER SORIANO
[Dirigentes do Barcelona] Me perguntaram se eu queria ver o Messi, se gostava dele. Respondi que não. Falei que eu era fã mesmo do Cristiano Ronaldo. Acho que não gostaram muito

Cassiano Bouzon, meia do Flamengo, em passagem pelo clube catalão

“O Minguella sempre nos ajudou e confiou muito no Cassiano. E o fato de ser um cara muito reconhecido no Barcelona ajuda”, ressaltou Francisco de Jesus.

E foi justamente com Minguella que o jovem teve outra passagem curiosa na cidade espanhola.

“Ele nos levou para jantar em um restaurante que sempre apresentava aos jogadores famosos dele. Falou que dava sorte. Quando sentamos, uma moça muito bonita começou a vir na minha direção. Ele contou que era a musa de Barcelona. Ela me reconheceu, sorriu e me deu um beijo. Não entendi muito [risos]”, contou Cassiano, ainda desacostumado com o assédio nas ruas da Europa.

Apontado por grandes jornais como “a joia que encantava o Brasil” e até mesmo o “novo craque da Cataluña”, Cassiano e a família se assustaram. “Nós não entendíamos nada. Olhávamos nas bancas e não acreditávamos. Foi um baque grande no início”, contou o pai do jovem, enquanto mostrava alguns dos jornais da época.

‘Time’ de baianos no Fla
Longe do Barcelona após pouco mais de um ano e ainda lutando para fazer jus à fama de grande promessa, Cassiano já começa a se ambientar ao mundo do futebol. A coleção de perfumes e cremes, além do relógio que mal cabe em seu braço dão o tom do estilo “boleiro”. E ele não nega as preferências. “Gosto dessas coisas de marca”, disse o menino, que já recebe até materiais esportivos de uma grande fornecedora.

As amizades com jogadores do Flamengo também reforçam a ideia. Por conta da ligação com a terra natal, Cassiano está sempre rodeado dos baianos do time profissional.

  • Arquivo Pessoal

    Cassiano Bouzon acompanha jogo do Barcelona no Camp Nou durante passagem no time

“Sou muito amigo do Gabriel, que é lá de Salvador. E também me dou muito bem com Hernane e Wallace. Estou sempre com eles, seja no boliche, no restaurante ou até aqui em casa jogando um videogame”, disse, revelando uma de suas paixões.

“Se deixar, ele vira a madrugada na frente da TV com esses jogos. Temos que dar uma trava”, conta a mãe, Irtes Bouzon.

Família de artistas
E é justamente da mãe a responsabilidade de controlar possíveis excessos e estabelecer uma vida regrada ao pequeno Cassiano. Irtes e Francisco não escondem o sonho compartilhado com o filho.

“Ser jogador é um desejo para ele e para nós. Fazemos tudo por isso. Mudamos nossa rotina, trocamos de cidade, marcamos nossa agenda de acordo com a dele. Acreditamos muito nisso e estaremos sempre ajudando”, disse a mãe, que ainda cuida da filha Maria Cecília, de 14 anos.

Com 12 anos e cercado de expectativa, Cassiano é a aposta de Flamengo e Barcelona, mas também de uma família. Acostumados com palcos e campos, a ex-dançarina de axé Irtes e o ex-jogador amador de futebol Francisco esperam que o menino tenha o brilho que ambos não chegaram a ter.

“Eu dancei no Chiclete com Banana, viajei a Europa toda... O Francisco jogou bola, mas não chegou a ser famoso. Queremos que o Cassiano dê muito certo, mas o importante de verdade é ser um homem correto. Aqui, sempre explicamos isso a ele. Se começa a ‘voar’ e sonhar muito alto, puxamos ele para o chão. A expectativa existe, mas ele tem que entender desde cedo que é preciso batalhar muito. Nós não chegamos a brilhar, mas formamos uma família e sempre nos sustentamos. É isso que passamos a ele”, encerrou a mãe “linha dura” da jovem promessa.