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20 anos sem Dener: Brasil perdeu um 'Neymar de cabeça fraca'

Bruno Thadeu e José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

19/04/2014 06h00

Há 20 anos, um acidente de automóvel tirou a vida de um dos jogadores mais conhecidos como símbolo da irreverência e habilidade do futebol brasileiro. O meia-atacante Dener, então no Vasco e aos 23 anos, teve trágica morte depois que o carro em que estava no banco de passageiro se chocou com uma árvore na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Se foi um jogador tão “malandro” em campo como fora dele.

Ao UOL Esporte, amigos e profissionais que trabalharam com Dener dizem que tinha potencial similar a de Neymar e Ronaldinho Gaúcho. O problema é que Dener levava uma vida de baladas, atrasos a treinos e más companhias.

“O Dener era do nível de Ronaldinho, Neymar. Tinha um futuro extraordinário pela frente. Foi um jogador fantástico. Acho que ele não sabia a força que tinha. Se ele se preocupasse só em jogar, seria um dos melhores do mundo”, analisou Pepe, ex-jogador e ex-técnico de Dener na Lusa nos anos 90.

Sua adolescência foi tumultuada, com passagem pela polícia. Amigo de quarto dos tempos de Portuguesa, o ex-atacante Tico entende que Dener não sabia separar os amigos "verdadeiros" dos "interesseiros".

Com dinheiro, fama e pouca consciência, Dener tinha vida social agitada, a ponto de prejudicar sua carreira como jogador, acredita Tico.

"O Dener teve uma infância difícil e sem a figura do pai. Quando ele se tornou famoso, muita gente interesseira se aproximou. Ele era um cara carente e não percebia que muitos ali não estavam por amizade. Isso atrapalhou o Dener. Ele admitiu ter feito bobagens quando jovem, mas era uma pessoa tranquila", descreveu o amigo.  

Apontado por Dener como o melhor comandante que já teve, Emerson Leão também relembra os excessos cometidos pelo meia-atacante fora de campo.

“Infelizmente as companhias dele, amigos e situações criadas por ele na Portuguesa o prejudicaram e atrapalharam a prosperar. Se nós falarmos só do futebol, ele era do primeiro escalão”, falou.

Dener despontou para o futebol em 1991 sendo o grande destaque da Portuguesa na conquista da Taça São Paulo de futebol júnior.

De lá até 1994, foram muitos belos gols. Suas especialidades eram arrancadas rápidas, dribles desconcertantes e uma ginga característica de craques de pelada que saíam limpando meio time até fazer o gol.

Dois golaços marcados por Dener são inesquecíveis: contra Inter de Limeira e Santos (ambos com a camisa da Portuguesa), em jogadas de arrancada.

Dener morreu com apenas duas participações pela seleção brasileira principal, ambas com o técnico Paulo Roberto Falcão, e só dois títulos profissionais: o Campeonato Carioca de 1994, pelo Vasco, e o Gaúcho de 1993, pelo Grêmio (só jogou nestes dois clubes e na Lusa).

Outros entendem que ele foi um talento muito precoce, mas que profissionalmente oscilou e já não correspondia tanto como as expectativas iniciais em função do comportamento arredio fora de campo.

Dener sonhava defender um grande de SP

Dener vivia brigando com os dirigentes da Portuguesa. Após o título da Copinha de 1991, Dener recebeu ofertas nacionais e internacionais. Mas ouviu dos dirigentes que ele era inegociável. O jogador ficou insatisfeito e pediu recompensa aos dirigentes. Dener entendia que para prosperar na carreira era preciso seguir para um clube de massa.

"O Dener dizia que tinha dois sonhos: jogar em um clube de grande torcida e na seleção. Ele queria ir para um time de massa a qualquer custo e não se contentava", relembra Tico.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 1994, pouco antes de morrer, Dener externou seu desejo de representar um clube grande.

“Se eu jogasse pelo São Paulo, Palmeiras ou Corinthians, meu passe estaria mais valorizado e conseguiria fácil uma convocação para a seleção”. “Fizeram promessas, até de possíveis vendas para a Itália e Espanha, e nada foi cumprido”, falou, sobre a Lusa.