Topo

Quer ir ao Itaquerão sem pagar caro? Para a organizada é mais fácil

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

03/09/2014 11h00

O Corinthians trocou o Pacaembu pelo Itaquerão, mas a mudança não foi boa para todo mundo. Com oferta menor de ingressos populares, o torcedor comum está irado com a política de preços praticada pela diretoria. Só que ao mesmo tempo em que o fanático alvinegro tem menos assentos baratos para comprar, o espaço para as torcidas organizadas aumentou.

A conta é simples. No Pacaembu, os setores mais baratos eram as arquibancadas verde e amarela e o tobogã, todos a menos de R$ 50, atrás dos dois gols. No total, eram 22 mil lugares que podem ser considerados “populares”. 

No Itaquerão, esse espaço diminuiu. Quando a torcida visitante é pequena, são 11 mil assentos nas arquibancadas Norte e Sul, atrás dos gols, com preço de R$ 50. A oferta de cadeiras populares, portanto, caiu pela metade para o público como um todo.

Por determinação do Ministério Público, há alguns anos todos os clubes, o Corinthians entre eles, vendem ingressos especiais para torcedores organizados, que devem se cadastrar no sistema da FPF (Federação Paulista de Futebol). No Pacaembu, eles tinham até 5 mil bilhetes à disposição. Hoje, no Itaquerão, esse número subiu para 7,3 mil, sempre com o preço mais baixo do estádio.

Na prática, portanto, o torcedor comum pode ocupar somente 3,7 mil lugares populares, bem menos do que os 17 mil a que ele tinha direito no Pacaembu (excluindo-se aí os 5 mil das organizadas). Trata-se de uma redução de quase 80% da oferta, contra um aumento de 50% para as organizadas.

O Corinthians confirma todos esses números, mas trabalha com um critério ligeiramente diferente. Na visão do clube, os 8,5 mil ingressos do setor Leste Inferior do Itaquerão, a R$ 80 (mas que custam cerca de R$ 50, em média, com promoções e meia-entrada), também são populares.

O problema é que aí também deveria ser levado em conta o espaço de 6mil lugares da cadeira laranja, no Pacaembu, que era vendido a R$ 70. Nesse cenário que amplia o conceito de “popular”, seriam 28 mil assentos no estádio municipal contra 19,5 mil do Itaquerão. A lógica de redução para o torcedor comum e aumento para a organizada, porém, permaneceria a mesma.

O clube explica que deixa o setor Norte do Itaquerão só para as organizadas para cumprir uma determinação do MP, que pede que as facções fiquem isoladas do torcedor comum. Só que no Pacaembu existia uma brecha para que isso não acontecesse.

“No Pacaembu se considerava a verde e a amarela como espaços divididos, independentes. Só que se eu fosse para o jogo com uma expectativa de mais de 26 mil ingressos vendidos, eu não precisaria da divisão e poderia abrir para quem não fosse de organizada. Como todo jogo eu tinha essa expectativa, não tinha esse problema”, disse Lúcio Blanco, gerente de arrecadação do clube e um dos gestores da nova casa alvinegra.

No Itaquerão, o Corinthians não projetou nenhuma divisão física que permita à organizada dividir a arquibancada Norte com o torcedor comum sem se misturar, o que descumpriria o acordo com o MP. E o clube não pretende arrumar uma brecha parecida com a que existia no Pacaembu.

“De verdade, neste momento não é o nosso foco. A gente tem outras prioridades, tem muita a coisa a ser ajustada. Estamos tentando criar um ambiente favorável para todos os setores do estádio”, explicou Lúcio Blanco.