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Serra Leoa sofre discriminação e joga eliminatórias sob gritos de "Ebola"

Do UOL, em São Paulo

13/10/2014 14h11

O vírus ebola afetou profundamente a seleção de Serra Leoa. Não, nenhum dos jogadores contraiu a doença. Mas a delegação do país tem sofrido, durante as viagens pelas eliminatórias da Copa das Nações Africanas, todo tipo de constrangimento por causa do surto que atingiu o continente e especialmente o país.

“Você se sente humilhado, como lixo, e você quer bater em alguém”, disse John Trye goleiro reserva, após ouvir gritos de ‘ebola’ vindo das arquibancadas durante treino da seleção de Serra Leoa. “Ninguém quer ter ebola em seu país. Serra Leoa está sofrendo. E eles jogam isso em nossa cara. Não é justo”.

Os xingamentos e provocações de torcedores não são os únicos problemas enfrentados pela delegação. A discriminação inclui também adversários que se recusam a cumprimentar os jogadores ou trocar camisas com medo de contaminação. E rotineiras e humilhantes verificações médicas para ver se houve algum tipo de contágio.

Nos últimos dois jogos da equipe pelas eliminatórias, em Camarões e na República Democrática do Congo, jogadores de Serra Leoa foram recebidos com os gritos de “Ebola, Ebola” durante todo o confronto.

Durante sua passagem por Camarões, membros da delegação foram submetidos a testes para verificar algum tipo de contágio no café da manhã e no jantar, apesar de nenhum atleta sequer ter viajado para Serra Leoa desde julho. No mês passado, na República Democrática do Congo, jogadores chegaram a ser testados quatro vezes em um único dia.

Trye contou que, na última quarta-feira, ele foi detido por três horas pelas autoridades de Camarões após pegar um voo doméstico no país entre as cidades de Douala e Yaoundé. O jogador foi submetido a novos exames sobre ebola.

Em setembro, durante jogo contra a Costa do Marfim, os jogadores de Serra Leoa viram os adversários se recusarem a estender as mãos para cumprimentá-los. Contra os camaroneses, porém, o tratamento foi normal.

Kei Kamara, jogador que atua na liga de futebol dos Estados Unidos, afirmou que o elenco de Serra Leoa compreende a preocupação dos demais países sobre o contágio do vírus. O atleta, porém, lamentou que eles estejam sendo tratados “como se estivessem andando por aí carregando a doença”.