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Candidato do Santos quer Robinho mais barato e promete 'dia do Pelé'

Fernando Silva tem o apoio de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro nas eleições do Santos - Bruno Thadeu/UOL
Fernando Silva tem o apoio de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro nas eleições do Santos Imagem: Bruno Thadeu/UOL

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

04/12/2014 06h00

O candidato Fernando Silva, 58 anos, é engenheiro químico de formação e trabalhou no mercado de venda de ingressos. Ex-dirigente do Santos, Silva concorre à presidente do clube neste sábado após deixar a Vila Belmiro em 2011, quando foi demitido por seu tutor, o ex-presidente Luis Alvaro de Oliveira.

Fernando Silva confia no apoio de Laor para ganhar as eleições, mas também traz em sua chapa antigos aliados do ex-presidente Marcelo Teixeira, que apoia seu concorrente Modesto Roma Jr. Entre eles, o seu candidato a vice-presidência, Reinaldo Guerreiro.

Em entrevista ao UOL Esporte, Fernando Silva disse pretende manter Robinho no clube até o fim da carreira do jogador, no entanto, o candidato visa um contrato mais rentável ao Santos. Silva também prometeu criar o “dia do Pelé”, onde o jogador será reverenciado toda vez que comparecer aos jogos do Santos na Vila Belmiro.

Fernando Silva ainda prometeu recuperar Leandro Damião apenas na conversa e revela que o estilo negociador de Neymar pai foi criado por ele e os antigos aliados de Luis Alvaro.

Confira a entrevista de Fernando Silva na integra:

UOL Esporte: Por que você deseja ser presidente do Santos?
Fernando Silva:
Sou santista apaixonado. Tenho sonho de menino em ser presidente do Santos. Fui candidato da oposição em 2005. Tivemos uma eleição esquisita. O pessoal ficou com medo e colocaram no estatuto uma trava para o Fernando Silva. Sou candidato natural, pois a partir da reforma do estatuto, tenho todos os pré-requisitos. Tenho mais de 12 anos em empresas ligadas ao futebol.

UOL Esporte: O clube vive uma enorme crise financeira. Qual o projeto a curto prazo?
Fernando Silva:
O projeto a curto prazo é muito parecido com o de 2010, quando pegamos terra arrasada. Pegamos cotas antecipadas, mais de R$ 8 milhões de impostos a pagar. Ainda deu tempo, salvei R$ 7 milhões no Rio de Janeiro, pois estava saindo um cheque para o pessoal do Marcelo (Teixeira, ex-presidente). Vamos correr para fornecedor, alongar a divida. Estamos vendo patrocínio máster, o material esportivo, fundo que investe em jogadores.

UOL Esporte: Como realizar contratações sem dinheiro? O clube está quebrado.
Fernando Silva:
Temos um modelo conhecido no mercado, de uma taxa de vitrine e opção de compra se dá certo. Fica bom para todo mundo e combinamos antes as regras do jogo. Vamos precisar de uma, duas ou três contratações pontuais. Classifico o elenco, hoje, melhor que o de 2010. Será mais fácil arrumar o elenco. Falta papo para o jogador, confiança, de mostrar que chegou quem comanda. Jogadores gostam de ver que chegou alguém que decide, que comanda. O Santos não tem comando. Ninguém tem comprometimento com o Santos. Cada um faz a sua.

UOL Esporte: Gerencia de futebol. O Zinho continua ou você tem alguém para o lugar?
Fernando Silva:
Não continua (Zinho). Tenho (substituto), mas não posso falar. Posso garantir que é mais santista ou igual a eu. Não é ex-jogador, chega. No futebol você precisar ter pessoas de sua confiança. Por exemplo, gerente da base é um cargo de confiança. É o pior cargo depois do presidente. Você imagina a quantidade de moleque com sonho de jogar no Santos, pai, mãe, agentes envolvidos, garotos que querem vir para cá. Tudo isso canaliza para um cargo chamado gerente de base.

UOL Esporte: Você tem o apoio do ex-presidente Luis Alvaro. Ele é muito criticado por causa do caso Neymar. Você acha realmente que o Laor ajuda nas eleições?
Fernando Silva:
Eu tive um período de muito sucesso à frente do futebol do Santos, que originou os títulos... Chegou um tempo que o Luis Alvaro foi envolvido politicamente, seduzido pelo sucesso do time, me dispensou. Depois ele percebeu quem eram as pessoas que ficaram do lado dele. Ele sofreu processos de doença e desgaste político. Quando ele ouviu dizer que eu ia ser candidato. Ele ofereceu ajuda e não cobrou nada. Acho que é um dos presidentes mais vitoriosos da história do Santos. Ele ajuda sim. Tem muita gente que tem percepção muito positiva dele, principalmente quem não está envolvido na política do Santos. Muitos acham que ele foi um bom presidente e que adoeceu e o Santos degringolou. A gente sabe que foi diferente, mas apoio não se nega. Acho importante o apoio dele.

UOL Esporte: Você tem esse apoio por amizade ou política?
Fernando Silva:
Duas coisas. Politicamente ele é interessante. Segundo, até que me provem o contrário, eu também me sinto traído. Mas dá mais ibope dizer que a culpa é do Laor. Acho que botaram muito peso na carta (para liberar a transação), pois não mudava nada. O pai do Neymar conversava com todo mundo.

Reafirmo aqui. Acho que ele (pai do Neymar) foi um exímio negociador. Não adiante correr atrás do dinheiro. Eu vou correr atrás da dignidade que foi abalada do santista, que comprou sua passagem ao Japão. O Barcelona vai responder na FIFA se assediou nosso jogador antes de uma final. Eles (atual diretoria) preferiram correr atrás do dinheiro, eu vou correr atrás do direito esportivo para saber se isso é assédio.  

UOL Esporte: Vocês criaram o pai do Neymar no sentido de negociador?
Fernando Silva
: Sem duvida nenhuma. Além de ser um cara esperto, ele não poderia ser estudado, mas era inteligente, vivo. E teve nesse contato com a gente toda a oportunidade de se desenvolver empresarialmente. Ele teve contatos diários com os maiores executivos do Brasil, dos bancos. Ele conversa muito comigo sobre modelo de negociações. Ele foi aprendendo tudo isso e foi se desenvolvendo. Concordo 100%, nós fizemos isso. Ele teve professores muito bons.

UOL Esporte: Você pretende acabar com o modelo de administração hoje, com o Comitê Gestor?
Fernando Silva:
O Comitê é usado equivocadamente. Nós criamos e chamávamos de conselho de notáveis. Era para dar um caráter de conselho de administração. No estatuto, o presidente tem o poder de veto. Ele pode chamar uma reunião e fazer valer a opinião dele. Os presidentes se escondem atrás de decisão. Não querem tomar decisões. O resultado é sempre 9 a 0. Virou motivo de chacota no meio do futebol.

UOL Esporte: Você acredita que dá para abrir a “caixa preta” da venda do Neymar?
Fernando Silva:
Eu não acredito que tenha caixa preta. Os 40 milhões de euros estão com ele (pai do Neymar). Não vejo espaço para buscar nada economicamente, não vejo espaço nenhum. É querer ganhar dinheiro onde não existe. O Neymar para mim, depois do Pelé, é o maior ídolo que eu tenho. Tratava que nem filho. Mas ele já é grandinho, já é pai, ele deve assumir as responsabilidades dele. Não adiante dizer que ele só faz o que o pai manda. Jogar pelo time do coração com 10 milhões de euros no bolso, pode não ter feito diferença, mas para nós é assédio. Imagina na final de várzea se descobrem que o ponta esquerda recebeu um carro do adversário, imagina o que vai acontecer com o cara. Foi muito perigoso que fizeram. Ele é muito ligado ao pai, e o pai não vai liberar esse vinculo. É um problema que eles terão pela frente, principalmente quando ele casar.

UOL Esporte: Falando em ídolo, você fará de tudo para manter o Robinho?
Fernando Silva:
Duas coisas. Vou fazer todo esforço para ele encerrar a carreira aqui. Ele é ídolo. Acho que o erro de contratá-lo foi demorar tanto e ter ficado tão caro. Poderia ter vindo antes e mais barato. Ficou mais caro. Eu traria antes. O Robinho, ele ainda está no auge. Com o contrato feito fica difícil. Mas todo contrato que a gente vai tentar, vamos sempre colocar a bonificação. Se desse para fazer com o Robinho, vamos querer jogar o máximo possível de dinheiro em bonificações com performances. Nesse primeiro momento, estamos lutando para mantê-lo. Em vez de aumentar o salário dele, vamos aumentar a bonificação. Tentar nós vamos, mas não vai ser fácil de fazer com contrato em andamento. Sem duvida nenhuma vamos tentar reduzir o fixo e fazê-lo ganhar mais com as bonificações

UOL Esporte: Leandro Damião. Você vai manter ou mandar embora?
Fernando Silva:
Vamos esmiuçar de todo lado o contrato de venda Damião. Seguindo momento é conversar com o jogador. Ele é a principal vitima. É um jogador com a auto estima zerada, ele carrega o mundo nas costas. Ele não sai nem para passear em Santos, vamos conversar sentir olho no olho, se tem condições, eu jogo Leandro Damião. Eu o recupero, nós o recuperamos. Eu acho que o Damião não estreou ainda, não jogou no Santos. Seria como se fosse uma contratação do zero. Se eu ver que não tem a mínima chance, vamos emprestá-lo.

UOL Esporte: Você acha que é tão bom de papo assim? Para recuperar o jogador só na conversa.
Fernando Silva:
Não é que sou bom de papo, também não sou eu sozinho. É pegar a confiança do jogador. Tem jogador quer gosta de alguém por perto. O Damião precisa de uma supervisão mais atenta e mais próxima dele. Jogador sem confiança, nenhum rende

UOL Esporte: Você manterá o Enderson ou tem outro nome? Ou ficará em cima do muro?
Fernando Silva:
Não fica me provocando para eu falar. O Enderson tem o perfil de técnico que eu gosto. Ele e mais uns quatro. Jovem, ambicioso, trabalhador, tático. Gosto do perfil dele. A primeira chance será dada para ele.

UOL Esporte: Você tem algum projeto para ex-atletas do Santos, ao Pelé?
Fernando Silva:
Tenho sonhos como torcedor e pode se realizar como presidente. Pelé é ídolo. Ele tem que chegar na Vila igual o Maradona na La Bombonera. Pelé chegou? música imperial. Ele não pode passar na Vila como um personagem qualquer. Vamos fazer o dia do Pelé. O dia do Pelé é o dia que ele chega na Vila. O cara mais importante. O contrato que assinamos em 2010 com o Pelé é valido. Ele continua com contrato de imagem. O Santos pode usá-lo em atividades. Nós vamos usar todo que tem direito. Se não tiver válido, vamos renovar. Ele tem que ser reverenciado no Santos. Ele é o maior ídolo de todos os tempos.

UOL Esporte: Giovanni e Léo, ídolos recentes, você tem planos para eles?
Fernando Silva
: Eu respeito os dois como ídolos do Santos e ponto.  

UOL Esporte: O que fazer na Vila Belmiro? Temos escutado muitas promessas?
Fernando Silva:
A primeira é coisa é fazer uma pesquisa técnica. A Vila tem que ser revitalizada. Vamos tirar alojamento, administração. Vamos colocar restaurante, academia, salão de festas. O vestiário do adversário é um negócio absurdo. Com parceria local conseguimos tirar, ir para outro lugar. Precisamos equilibrar com os jogos da Capital. Isso será feito.