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Diplomado, Victor critica desinteresse de jogadores brasileiros em estudar

Mesmo com todas as dificuldades da carreira de jogador, Victor não desistiu e se formou em Educação Física - Bruno Cantini/Clube Atlético Mineiro
Mesmo com todas as dificuldades da carreira de jogador, Victor não desistiu e se formou em Educação Física Imagem: Bruno Cantini/Clube Atlético Mineiro

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

03/02/2015 06h00

A primeira semana de fevereiro é marcada pelo retorno às aulas nas escolas e faculdades. Para algumas crianças o ritual é quase como uma tortura, pois é preciso retomar os estudos e obrigações depois de quase dois meses de férias. Ídolo de uma geração de torcedores do Atlético-MG, Victor é exemplo para muitas crianças por tudo o que faz dentro de campo. E também pode ser por aquilo que já fez fora dele e até servir de incentivo para aqueles que não gostam tanto da sala de aula. O goleiro atleticano é um caso raro no futebol brasileiro de jogador com diploma universitário.

Se a volta às aulas é algo que não muda a rotina dos jogadores de futebol no Brasil, entre 2001 e 2006 interferia diretamente na rotina do goleiro Victor. Foi nessa época que ele estudou na Escola Superior de Educação Física de Jundiaí, no interior de São Paulo, e se formou. O curso começou quando ele ainda estava na categoria de base e terminou já como profissional do Paulista, também de Jundiaí.

“Eu fiz esse curso superior por estar no início da carreira e no futebol é tudo muito incerto, você não sabe o dia de amanhã. Então é preciso ter uma segunda opção e dentro desse cenário, sem saber se conseguiria ter sucesso no futebol, e por ser muito ligado ao esporte e na educação física, eu resolvi fazer o curso, pois é algo que sempre gostei bastante”, revelou o arqueiro com exclusividade ao UOL Esporte.

E para Victor não foi tão simples conseguir concluir o curso. Além da dificuldade normal de um curso de nível superior, o jogador tinha que conciliar os compromissos da profissão com as aulas e trabalhos. Um recurso encontrado por ele foi aproveitar as viagens e concentrações para estudar. Foi com esse tempo que ele fez a monografia de conclusão de curso. “Tudo o que você tiver vontade de fazer, você consegue fazer. Tanto que eu já era jogador profissional quando terminei a faculdade. Muitos trabalhos e a minha monografia, inclusive, eu fiz durante as concentrações”, comentou.

Para o técnico Levir Culpi, seu goleiro é um ótimo exemplo de como a educação é tratada no país, como algo em segundo plano. O treinador do Atlético lamenta que o estudo não seja uma obrigação. Para Levir, o comportamento de Victor nos treinos e jogos deixa claro como faz diferença ter um pouco mais de conhecimento.

“O Victor já tem uma liderança natural, ele é um cara mais esclarecido e que entende melhor as coisas. Ele toma atitude mais pensada, porque ele tem o estudo, a educação. É uma coisa que te deixa muito mais seguro”.

Claro que a rotina dos grandes clubes é um empecilho para os jogadores conseguirem estudar. Mas para Victor, tudo é possível, desde que seja desejo do próprio atleta. E olha que o então jovem goleiro teve chance para desistir do curso. Emprestado pelo Paulista ao Ituano, ele trancou a faculdade por um tempo, no começo da década passada. Mas ao retornar para o clube de Jundiaí, uma das primeiras providências foi retomar o curso de Educação Física.

“É difícil, até pela agenda de viagem e de jogos. Talvez um curso online à distância seja possível. Mas vejo que o jogador de uma forma geral não tem muita preocupação nesse sentido, de ter uma formação acadêmica, um curso superior. Muitos pensam apenas no presente e acho que isso é um grande desafio, que é mudar a mentalidade do jogador brasileiro”.

A esperança do arqueiro alvinegro é que esse quadro mude nas próximas gerações, já que esse incentivo ao estudo deve começar ainda nas categorias de base, para que os jogadores tenham em mente que um pouco mais de conhecimento faz diferença, até mesmo para quem conseguir vingar na carreira e se tornar atleta de um grande clube. Tudo, porém, depende do esforço.

“A agenda aqui do Atlético, por exemplo, é muito apertada, com os jogos quartas e domingos. Mas vejo que falta um pouquinho sim de formação para o jogador. Até no sentido de entendimento do trabalho, no entendimento do esquema tático e o porquê de estar fazendo um tipo de trabalho. Seria interessante se o jogador tivesse um pouquinho mais de formação. Mas isso é algo que deve ser trabalhado desde a base, deve ser motivado, incutido na ideia do jogador desde a sua formação. A partir daí que ele vai ter o interesse em ter uma melhor formação, não necessariamente num curso superior, que é muito difícil, mas para conseguir ter um nível cultural e didático um pouco melhor”.