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Da reserva do Atlético-MG aos R$ 100 milhões em apenas seis meses

Jemerson se destacou no segundo semestre e foi valorizado pelo Atlético-MG - Bruno Cantini/Clube Atlético Mineiro
Jemerson se destacou no segundo semestre e foi valorizado pelo Atlético-MG Imagem: Bruno Cantini/Clube Atlético Mineiro

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

11/02/2015 06h45

O dia 16 de julho é especial para o zagueiro Jermerson. Não é a data que estreou como jogador profissional, na verdade já estava em campo para disputar a 13ª partida pelo Atlético-MG. Mas a grande atuação que teve diante do Lanús, na Argentina, pelo primeiro jogo da Recopa, mudou o rumo da carreira do defensor. Se até o início de julho do ano passado ele era apenas a quinta opção entre os zagueiros alvinegros, agora ele chega para disputar a Libertadores como o dono da posição, de contrato renovado e com a multa rescisória estabelecida em quase R$ 100 milhões.

Tranquilo dentro de campo e muito mais quando está fora. Sempre sorridente e simpático, Jemerson ainda se mostra tímido diante das câmeras e até mesmo com o assédio dos torcedores. E é nesse momento que o jogador percebe que sua vida mudou totalmente em tão pouco tempo. “Mudou na questão de conhecer. Eu chegava nos restaurantes e alguns até conheciam. Mas agora é em todo o lugar, sabem quem é o Jemerson, chegam para conversar e alguns pedem para tirar foto. Mas ainda está tranquilo para sair”, disse em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

A tranquilidade, aliás, é peça-chave no sucesso de Jermerson. A maneira de jogar e o jeito de lidar com os companheiros são guiados pela principal característica do jogador de 22 anos. O fato de ser calmo fez com que Jemerson tivesse a oportunidade de aprender com muita gente boa. Leonardo Silva, Réver, Gilberto Silva, Otamendi, Edcarlos e Emerson são alguns dos exemplos dados pelo próprio atleta.

Sorte também é um fator que ajudou, pois Jemerson só foi escalado para uma final internacional por conta da saída de Otamendi e das lesões de Réver, Edcarlos e Emerson. “Nervoso eu não fiquei, pois sempre me preparei bem. No futebol o cara pode estar jogando e se machucar. Infelizmente foi o que aconteceu com o Edcarlos, que seria o titular lá. Como ele se machucou, eu pude jogar. Mas estava tranquilo, pois o Levir me avisou dois dias antes. Os jogadores mais experientes chegaram e falaram para eu jogar o que eu sei. Como sou um cara bem tranquilo, fui bem e o mais importante é que fomos campeões”.

A família é outro ponto determinante na vida de Jemerson. A chance de comprar uma casa nova para a mãe foi uma realização. O sonho alcançado ano passado dá lugar a novo objetivo. Ter os pais mais perto é uma prioridade para 2015. São mais de 1.700 km de distância entre Belo Horizonte e Jeremoabo, no interior da Bahia. Até por isso, Dona Rita esteve apenas uma vez na capital mineira, enquanto Manoel Nascimento ainda não teve a chance de ver o filho em ação no estádio.

“Já são quase cinco e conheço quase toda BH. Porém minha mãe só teve uma oportunidade de vir até aqui, mas a gente conversa quase todos os dias por telefone. Agora, espero que eles possam vir mais vezes. Quero que eles fiquem mais perto de mim, não fiquem tão longe. Mas isso também é tranquilo, pois já sabia que seria assim. A vida de jogador é assim, sempre ficando longe da família”.

Perseverança também foi importante, já que Jemerson teve de esperar quase duas temporadas como jogador profissional para se firmar na equipe principal. Sair do Atlético naquele momento não passou pela cabeça do zagueiro, que antes de chegar à Cidade do Galo tentou a sorte no Santos, no Palmeiras e no Vasco, mas sem sucesso.

“Algumas pessoas me conheciam, a diretoria por exemplo. Acho que a chegada do Levir foi fundamental, além do meu ritmo nos treinamentos. Sempre fui focado no dia a dia, para fazer meu trabalho e ajudar minha equipe. Então, quando ele me deu a oportunidade, tentei aproveitar da melhor maneira possível”.

De nada adiantaria a tranquilidade, a sorte, a família, a perseverança e a vinda de Levir se Jermerson não tivesse o mais importante: qualidade. O nível de exibição do zagueiro impressionou torcedores, treinador e a diretoria. A saída de Réver para o Internacional só foi possível por causa da confiança que todos do Atlético têm em Jemerson. Se Levir Culpi já comparou o zagueiro novato a Lusinho, agora é a vez de Leonardo Silva elogiar o companheiro de defesa.

“É muito mais mérito dele do que das orientações que damos e até dos treinadores que aqui passaram. Ele já teve essa oportunidade antes. Jogou, ficou fora e agora voltou novamente. Ele foi amadurecendo e absorvendo tudo o que passavam para ele. Eu dou total mérito ao Jemerson pela personalidade, pela qualidade e pela competência que ele vem demonstrando dentro de campo”.

Com contrato até 2019, Jemerson não se vê como um jogador de R$ 100 milhões. Esse é um assunto que ele prefere deixar para o empresário e para a diretoria do Atlético. “Não passava e nem passa ainda. Não penso nisso, meu foco é apenas dentro de campo. O que acontece fora dele eu deixo com empresário, para pensar apenas no meu trabalho”.

O próximo passo é uma questão de lógica. Jemerson sonha com seleção brasileira e uma transferência para algum clube europeu. Mas antes disso ele quer conquistar mais títulos com a camisa do Atlético. “Estão acreditando em mim, espero retribuir esse carinho e essa oportunidade que foi a renovação. Agora tenho que jogar e mostrar para eles que não foi uma coisa errada. É conquistar bastante coisa aqui e, futuramente, talvez a Europa”.