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"Primo pobre" de Barcelona vive graças à ex de Dani Alves

Dinorah Santa Ana comprou tradicional clube catalão em julho passado - Foto montagem (Divulgação)
Dinorah Santa Ana comprou tradicional clube catalão em julho passado Imagem: Foto montagem (Divulgação)

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona

03/03/2015 06h00

Domingo em Barcelona centenas de pessoas se reúnem para torcer pelo time do bairro. Para eles, o de coração. Nada do gigante Barça, ou o mais modesto Espanyol. É o Sant Andreu, centenário, mas sem títulos de expressão. Ele está salvo da falência graças ao aporte financeiro da empresária brasileira Dinorah Santa Ana, a ex-mulher do lateral direito Daniel Alves.

Foi com um investimento de 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 4,5 milhões) em julho do ano passado que Dinorah comprou quase 95% das ações Por lá, não havia nem água quente e material esportivo para treinar. E sim, salários atrasados e muitas dívidas.
 
O UOL Esporte foi a treinos do time e a jogos dominicais da terceira divisão espanhola a qual disputa. A sede é o aconchegante estádio Narcís Salas, com capacidade para 7 mil pessoas. A tradição do clube e paixão dos seguidores do bairro de Sant Andreu trazem semelhança com o pequeno Juventus da Mooca, localizado na região central de São Paulo.
 
“Caso eu não tivesse entrado com o investimento, o pior poderia acontecer. A situação aqui era de 8 meses de salário atrasado para os trabalhadores e todos reclamando”, contou Dinorah.
 
“Hoje recebo em dia, temos departamento médico, ótimas condições de trabalho em geral. Aqui faltava até bola para treinar. O nível de profissionalismo é alto. Consigo viver só com o futebol”, comentou o goleiro Morales, 38, o capitão do time, com passagens pela seleção da Catalunha onde atuou ao lado de astros do Barça como Piqué, Puyol, Xavi e Busquets. 
 
O Sant Andreu é uma sociedade anônima e muito tradicionalista. As cores do clube fundado em 1909 são as mesmas da bandeira da Catalunha. Os associados são conhecidos na região como árduo defensores do movimento separatista e reclamam que a camisa amarela e vermelha, remetendo à "Senyera", bandeira catalã, foi plagiada pelo Barcelona em 2013.  
 
Tal tradicionalismo fez com que a venda fosse efetuada na reunião dos acionistas sob algumas condições: a de que as cores da camisa e escudo jamais seriam alterados, proibição de venda do estádio, e realização de todas as partidas como mandante no local. 
 
O grande problema para o Sant Andreu atualmente é o momento esportivo. O time está zona de rebaixamento da terceira divisão: é o 17º colocado entre os 20 participantes, com 28 pontos em 27 jogos – restam 11 rodadas para o fim.
 
“O problema maior é que esse é um time de bairro, e passou a funcionar como uma empresa e seus interesses. Não queremos perder nossa identidade, e acreditamos que essa perda de valor está influindo no desempenho do time”, opinou Jordi Caseres, de 67 anos, e morador do bairro do Sant Andreu desde o nascimento.

O sucesso de Dinorah no mundo de negócios se dá por conta de uma parceria bem sucedida com o ex-marido Daniel Alves. Os dois montaram uma empresa em Barcelona e dividem os lucros de todas as operações. Ela também é agente Fifa e empresária do jogador.
 
Os torcedores se perguntam qual o interesse em Dinorah Santa Ana ao comprar um clube à beira da falência? A resposta está relacionada a duas contratações para essa temporada: os brasileiros Bruno e Felipe. Únicos estrangeiros do elenco.
 
Bruno tem 24 anos e é atacante. Nascido em Cuiabá e morando na Espanha há oito anos por conta do futebol, o jogador teve passagem pela categorias de base do Real Madrid e atuava por uma filial do clube até o ano passado.
 
Já Felipe, de São José dos Campos, interior de São Paulo, é o mais novo do elenco - tem 19 anos. O meia atuava pelo Audax-SP e foi levado ao Sant Andreu por empresários ligados a empresa de Dinorah. Ambos têm contrato de cinco anos e são a esperança de lucro da empresária em futuras transferências.
 
“Quero ficar na Espanha. Não penso em cumprir meu contrato aqui, e sim dar um salto maior. Quem sabe ano que vem já atuar em clube da segunda divisão. Estamos com moradia paga, situação regularizada e está sendo ótimo para adaptação”, disse Felipe, autor de um gol na derrota do time no domingo frente ao Alcoyano, por 3 a 2.
 
“Temos boas condições de trabalho, mas isso aqui é uma etapa da carreira. São interesses em comum. Isso é uma vitrine para eles e para nós”, comentou Bruno, o único estrangeiro titular do time.
 
O Sant Andreu ainda conta com uma escola de futebol com 39 equipes de 6 a 14 anos. A grande maioria dos garotos-jogadores são filhos de residentes do bairro. Apesar do tom empresarial dado por Dinorah ao clube, a preocupação foi a de manter algumas raízes. 
 
“Nós temos 600 crianças na base. Tudo isso ia desaparecer caso não tivéssemos investido”, lembrou Dinorah.