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Agente que negociou Itaquerão é acusado de golpes com nome do Corinthians

Andrés Sanchez e Luiz Fernando Santoro, ambos do Corinthians, em reunião intermediada por Francisco Arruda (gravata azul) em Dubai - Arquivo Pessoal
Andrés Sanchez e Luiz Fernando Santoro, ambos do Corinthians, em reunião intermediada por Francisco Arruda (gravata azul) em Dubai Imagem: Arquivo Pessoal

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

20/03/2015 06h00

Intermediário da negociação entre Corinthians e a companhia aérea Emirates pela venda dos naming rights do Itaquerão, Francisco José Arruda é acusado de aplicar golpes em pelo menos cinco pessoas nos últimos meses. As histórias são similares: com uso do nome do Corinthians e palavras religiosas, jovens atletas disseram ao UOL Esporte que foram convencidos a pagar por testes que não aconteceram em clubes no exterior. Além disso, agências de viagem foram envolvidas na situação. Arruda nega as acusações (leia abaixo).

Francisco José Arruda - ou Francesco Joseph Arruda, como se apresenta - fez amizades importantes durante passagens por Londres. Em uma delas, estreitou laços com o sobrinho de H.H. Ahmed Saeed Al Maktoum, presidente da Emirates. E foi por meio de conselheiros corintianos que apresentou ao então presidente Andrés Sanchez a possibilidade de vender o nome do estádio em Dubai.

"Ele tem um contato muito bom com o sobrinho [do presidente] da Emirates, realmente nos colocou em contato, o que várias pessoas importantes não conseguiram. Mas conta algumas histórias que não dá para confiar", explica um diretor corintiano, que pediu anonimato.

Os atletas disseram que Arruda, membro de excursões do Corinthians aos Emirados Árabes, usou fotos desses encontros e uma carta supostamente entregue pelo clube para dar legitimidade a uma carreira de intermediador de testes para jovens jogadores. O foco da ação era sempre em grupos de evangélicos que moravam no exterior. Para dar mais credibilidade à história, ainda segundo as vítimas, Arruda apresentou contratos em nome da empresa Prime Sport Invest Ltd, em Londres. O endereço descrito nos papéis (Grafton Way, 35) é de uma casa de câmbio.

A reportagem teve acesso a conversas entre Francisco e os jovens em que o acusado sugere ter fortes ligações no Corinthians, além de contratos e comprovantes bancários (ver documentos abaixo). Para impressionar, Arruda chegou a levar dois desses garotos até a sala de Andrés Sanchez no Parque São Jorge. A outro cliente, ele afirmou que o ex-presidente tinha feito uma proposta de 6 milhões de euros para que "se corrompesse".

Na Tailândia

Foi também pela suposta credibilidade do agente que os jovens Jhonne e Lucas (sobrenomes serão preservados) acreditaram no convite feito para fazer testes na Tailândia. Eles pagaram R$ 3 mil como taxa de agenciamento. Segundo eles, após duas semanas em Bancoc, capital do país, os dois souberam que o clube onde jogariam estava em férias havia quatro meses.

Ainda de acordo com as vítimas, tempos depois, Jhonne e Lucas descobriram que a hospedagem tinha sido paga por um agente tailandês e que as passagens aéreas foram compradas sob mais uma acusação de golpe. Já no Brasil, eles foram contatados pela dona de uma agência de viagens que havia sido enganada na aquisição das passagens por R$ 7 mil e perceberam que se tratava de um golpe.

Francisco Arruda apresentou Corinthians a Emirates - Reprodução - Reprodução
Francisco Arruda apresentou Corinthians a Emirates
Imagem: Reprodução
"Se não tivéssemos levado nosso dinheiro, passaríamos fome na Tailândia", comentou Lucas, um dos levados à sala de Andrés Sanchez, no Corinthians, quando conheceu Arruda. Foi também com o nome do clube, tempos depois, que o agente fez contato com um outro atleta na Alemanha ao se aproximar de uma comunidade evangélica em Colônia.

Entre fotos ao lado de pessoas famosas, como Zico e o ex-presidente atleticano Alexandre Kalil, e um papel que indicava a atividade de captação de patrocínios para a direção corintiana, ele seduziu Erik, outro jovem, que jogava em uma liga regional na Alemanha. "Ele prometeu clube, salário, disse que era do Corinthians. Só pediu R$ 2.500 para uma passagem e não aconteceu nada. Foi uma trama tão simples e caímos. Depois de um ano, ele devolveu R$ 1.000", explica Eder, amigo do jogador e que conheceu Arruda em Colônia.

Ação interligada

Por meio de amigos em comum, Arruda também chegou ao jovem Luis Fernando. "Ele se intitulou como um missionário e me disse que Deus tocou o coração dele para me ajudar", disse Luis, que pagou R$ 10 mil com promessas de que iria fazer testes na Alemanha para depois jogar em Dubai, nos Emirados Árabes. Após algumas semanas e apenas um treino no modesto clube FC Kray, o jogador ouviu que não estava apto fisicamente. "Ele queria mais R$ 4 mil para outro teste", conta.

Meses depois, o jovem Luis Fernando foi contatado por Vanessa, responsável por uma agência de viagens em Goiânia. Foi com um suposto golpe também sobre ela que Francisco Arruda comprou as passagens aéreas para o jogador, acusa a agente de viagens. "Ele usou o cartão de crédito com o nome de Consultoria Oliveira Ltda. Depois de um tempo, a compra foi cancelada e eu tive que pagar R$ 3 mil do meu bolso. Até fazenda em Rondônia ele disse que tinha", explica a funcionária, que depois ainda tentou receber os valores de Luis Fernando.

Corinthians diz que não autorizou acusado

Em contato com a reportagem, o superintendente de futebol corintiano declarou: "Ele (Francisco) não tem nada a ver com o clube. Ele não tem autorização do Corinthians", disse.

Andrés Sanchez reforçou ainda que o Corinthians tratou com Francisco Arruda sobre o Itaquerão porque ele tinha relações próximas à Emirates e também à Etihad - companhias árabes que, respectivamente, dão nome aos estádios de Arsenal e Manchester City, da Inglaterra. A princípio, ele afirmou também que o clube não pretende tomar medidas em relação a Arruda.

À reportagem, Francisco Arruda chegou a declarar que viajaria com dirigentes corintianos para Dubai no último fim de semana (14-3) para uma nova rodada de negociações com a Emirates. A informação foi negada pelo clube.

Francisco Arruda dá sua versão sobre os fatos

Procurado pela reportagem, o intermediário acusado deu sua versão para os fatos. Sobre Lucas e Johnne, que levou à Tailândia, disse: "a passagem custou R$ 5 mil e poucos e o valor restante foi pago por mim. Eu investi nos meninos e eles não passaram nos testes", disse Arruda, que afirmou ainda que trabalhava em sociedade com um agente tailandês. "Tenho uma empresa, presto consultoria e não trabalho de graça", afirma.

Sobre Luis Fernando, ele nega que tenha recebido qualquer quantia. "O treinador do FC Kray-ALE viu ele por 90 minutos, é tempo suficiente para dizer se um jogador é bom ou ruim e ele era pesado. Nunca levei jogador a Dubai. Fiz uma exceção, porque não empresario jogadores desde 2003. Fiz um a favor a eles, sem ganhar nada. Agora estão magoados e eu sou o vilão? Eu cobro pelo meu trabalho, estou em paz e tenho minhas provas. Ele não me pagou nada", afirmou Arruda.

Ele ainda foi perguntado sobre a conversa obtida pela reportagem em que afirma a Luis Fernando que Andrés Sanchez tentou "corrompê-lo" com uma proposta de 6 milhões de euros. Arruda não explicou a declaração e disse: "estou fechando com a Emirates, por que ele faria isso? Não tem pé nem cabeça".