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Del Nero assume a CBF, promete modernização e faz discurso contra governo

Guilherme Costa, Pedro Ivo Almeida e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/04/2015 11h55

Eleito em abril de 2014 para comandar a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) até 2019, o advogado paulistano Marco Polo del Nero, 74, tomou posse nesta quinta-feira (16) na entidade que comanda o esporte mais popular do país. Em seu primeiro discurso, no cargo, prometeu modernizar a modalidade e falou contra o texto defendido pelo governo federal para a Medida Provisória 671, que trata de um refinanciamento das dívidas fiscais dos clubes nacionais.

“A CBF, as federações e os clubes, neste momento, discordam de alguns aspectos da Medida Provisória 671 que violam a Constituição Federal, invadem a administração de clubes e federações e promovem a cisão da unidade do futebol brasileiro, relegando os clubes que adotem o parcelamento de débitos, objetivo central da MP, à incerteza de participação em competições oficiais. Por isso, peço ao ministro dos Esportes: nos ajude nesse reparo”, disse Del Nero no discurso, fazendo alusão ao ministro George Hilton (PRB), que estava no evento.

“Ele prometeu mudar a cara do futebol brasileiro. Os clubes que não pagam seus salários não podem ser clubes com dignidade “, disse Gustavo Feijó, um dos vice-presidentes da chapa que comandará a CBF no próximo quadriênio. “A Medida Provisória tem algumas coisas que agradam aos clubes e às entidades de prática esportiva, mas há algumas coisas que a gente tem de rever. Tenho certeza que o texto precisa ser revisto”, completou.

A discussão sobre a MP 671 tem sido extremamente relevante no cotidiano da CBF. A entidade tem movimentado parlamentares a fim de barrar a atual versão do texto, que estipula uma série de contrapartidas relacionadas a gestão e austeridade. A presidente Dilma Rousseff já assinou o mecanismo, mas ainda haverá discussões na Câmara e no Senado.

A cerimônia de posse teve uma homenagem a José Maria Marin, mandatário anterior a Del Nero, que também será vice-presidente na nova chapa. Ele recebeu uma placa e foi exaltado pelos serviços prestados ao esporte nacional.

“Esperamos que a Confederação Brasileira de Futebol dê continuidade ao trabalho do presidente Marin. Tenho certeza que o Marco Polo irá renovar as categorias de base para que o futebol brasileiro possa cada vez crescer mais e para que conquistemos na Copa do Mundo de 2018 o título que todo torcedor deseja depois da decepção que ninguém esperava, que foi o 7 a 1”, completou Feijó.

O discurso de modernização, contudo, partiu de uma base extremamente genérica. Questionados sobre o que Del Nero pretende implantar para mudar a cara do esporte nacional, dirigentes tergiversaram e trataram o assunto como “muito complexo”.

"Temos que modernizar o futebol. Como? Não sei te responder exatamente, mas vamos modernizar. É algo complexo, mas iremos chegar lá", afirmou Delfim Peixoto, outro dos vice-presidentes da nova chapa.

“O discurso dele [Del Nero] se baseou naquilo que nós pensamos, que é a modernização do futebol”, adicionou Rubens Lopes, presidente da Ferj (Federação Estadual do Rio de Janeiro). “Não sei como exatamente, mas vamos modernizar. Temos certeza que o presidente Marco Polo está pensando nisso”.

Confira os principais desafios de Del Nero à frente da CBF:

1- Manter a valorização das categorias de base
Liderado pelo coordenador de seleções, Gilmar Rinaldi, o trabalho de valorizar as categorias de base será um dos projetos mantidos pela atual gestão. A ideia é conversar com o maior número de profissionais da área para tentar voltar a revelar grandes talentos. A comissão técnica entende que faltam referências para a seleção voltar a jogar bonito e quer remediar algo que, na visão deles, deveria ter sido prevenido. Erasmo Damiani, ex-Palmeiras, será o braço direito nesse trabalho, que ainda tem o ameaçado Alexandre Gallo como treinador responsável. Não há garantias que ele ficará à frente do time para comandar a seleção olímpica.

2- A sonhada medalha de ouro
Nunca antes conquistada, a medalha de ouro nas Olimpíadas é outro desafio para a nova gestão da CBF. Com o provável reforço de Neymar, a seleção olímpica buscará acabar com o tabu na categoria em pleno Rio-2016. É também por esse sonho que se motiva o trabalho de Rinaldi e companhia nas categorias de  base. "Continuamos focados na meritocracia como forma de convocação. Merecimento é nosso lema", afirma o goleiro que esteve na delegação que conquistou o tetra em 1994.

3- Chega de lembrar do 7 a 1
Apesar de ter sido eleito antes do vexame na semifinal diante da Alemanha, Del Nero tem sua imagem pouca associada à tragédia da Copa de 2014, deixando esse problema na conta de Marin. O presidente assume a seleção em um momento de invencibilidade pós-Copa e no trabalho para a conquista de mais uma Copa América. Um bom desempenho na competição continental e nas eliminatórias para a Copa de 2018, na Rússia, podem ajudar na limpeza da imagem da canarinha.

4- Recuperar prestígio com os clubes
Em meio a uma ameaça de rebeldia por parte dos clubes, Del Nero precisará manter os olhos abertos para a possibilidade de uma organização independente dos times, para que a CBF fique apenas com a organização da seleção. A ideia será reconquistar o espaço aos poucos. Del Nero já mostrou que sabe reconstruir relações, como foi na reaproximação entre Federação Paulista de Futebol e CBF quando o mesmo foi eleito presidente da instituição que cuida do futebol paulista, em 2003.

5- Mudança de calendário e formato do Brasileirão em pauta
Assim como no caso da formação de uma Liga Independente, Del Nero participa das discussões com os clubes sobre a possibilidade de uma mudança de calendário e até no formato do Brasileirão, com a volta do mata-mata. Mais do que um foco de insatisfação por parte de clubes, o dirigente sabe que precisará ser político com a TV Globo nas suas decisões. Recentemente, um exemplo de insatisfação pode servir para o presidente: os clubes não gostaram do Brasileirão sub-20 encurtado, com o formato de grupos.

6- Chega de escândalos
Depois do escândalo com Ricardo Teixeira, investigado por fraudes à frente da instituição, e José Maria Marin, também investigado pelo superfaturamento na compra da nova sede da entidade, Del Nero chega com a missão de não colocar o nome da entidade em novos escândalos que minam a credibilidade de quem comanda o futebol brasileiro.  

7 – A aproximação com o futsal
Em meio à crise da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), a CBF pode retomar o controle da categoria que tem Falcão como sua principal referência. É ele, aliás, que promove a aproximação e faz lobby para que o esporte volte a ter um pouco mais de força no país. A aproximação com Del Nero é vista como uma chance disso.