Topo

Na boca dos jogadores, otimismo pré 7 a 1 vira crítica pesada um ano depois

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

07/07/2015 06h00

Quem via as entrevistas da seleção brasileira às vésperas do 7 a 1 se animava. Otimismo e força de vontade dominavam o discurso dos jogadores apesar dos desfalques e da dificuldade iminente no duelo contra a Alemanha. Um ano depois, o tom das análises mudou, e os elogios viraram críticas pesadas à preparação feita antes do maior vexame da história do futebol nacional.

“Acho que temos de olhar a derrota globalmente e entender que nós tínhamos uma grande desorganização. Mesmo se todos estivessem em campo, aconteceria a mesma coisa pela nossa desorganização e falta de disciplina tática. Tivemos vários problemas em toda a preparação. Nunca jogamos um amistoso e fizemos um treino sem o Neymar”, disse Dante, expondo toda a sua insatisfação em entrevista recente à rádio Globo.

O discurso do zagueiro que substituiu Thiago Silva no 7 a 1 é o mais acalorado, mas não o único. Fernandinho já criticou a presença de uma psicóloga na comissão técnica de 2014 e David Luiz exaltou a maturidade do grupo um ano depois, entre outras comparações mais sutis.

Tudo é bem diferente do que diziam os jogadores em 2014, mesmo após o vexame histórico no Mineirão. Veja abaixo alguns exemplos dos elogios que foram feitos após o fim da participação brasileira na Copa:

“Acho que o trabalho dele foi bem feito, não se pode colocar tudo em questão em dois jogos. Vamos tirar a lição. Tirando exemplo de outras seleções, tem de mantê-lo, dar continuidade, mas isso não sou eu que vou decidi”, disse Dante.

“Não tem como eu não aprovar. Felipão foi excelente até hoje”, disse Oscar.

“Acho que o Felipão fez um belo trabalho desde que assumiu a seleção”, disse Fernandinho.

“Não é porque ele está do meu lado. Já falei para ele, na frente do grupo, que confiamos nele. O que crescemos com ele em um ano e meio… Momento não é de crucificá-lo, por um erro ou um acerto. Um grupo quando erra, erra todo mundo”, disse Neymar.

Qual é a explicação, então, para a incongruência? Com certeza não é o famoso “media training”. “Isso é lavagem de roupa suja. Você não tem de mostrar os seus defeitos. No caso de uma seleção, empresa privada ou qualquer instituição é a mesma coisa. Não é porque passou um ano que vai falar o que quer”, diz Aurea Regina de Sá, especialista em coaching e treinamento para contato com a imprensa.

“Quanto mais eles mostrarem falta de unidade, mais vão ficar vulneráveis. Eles conseguiriam se fortalecer mais se tivessem um pensamento único. Não é pensamento mentiroso, mas você pode omitir algumas coisas. Isso é estratégico e coerente. As pessoas acreditam, confiam”, completa a especialista.

Ao mesmo tempo, a mudança radical mostra que a preparação da seleção não foi, de fato, um conto de fadas em Teresópolis. Durante a concentração de quase 50 dias, por exemplo, os treinos de baixa intensidade foram criticados, a preparação psicológica ficou em xeque e houve um estremecimento entre comissão técnica e elenco quando Felipão deixou escapar para jornalistas que se arrependeu de ter convocado um jogador.

Para não entrar nessa dividida, muitos dos personagens do 7 a 1 fugiram dos microfones. Assessores de imprensa que trabalham com os jogadores relatam que seus clientes têm preferido evitar entrevistas a tocar no assunto, cientes de que qualquer resposta pode mexer em um vespeiro.

Quem entende do assunto aconselha uma exibição controlada e consciente. “Acho que é um equilíbrio. Não precisa postar foto dando risadinha, dar muita entrevista, mas aos poucos você pode voltar a falar, colocar seu posicionamento dele. Apelido ruim é aquele que você não gosta. Quanto mais você briga com aquele rótulo, mais ele cola”, resume Fábio Kadow, especialista em gestão de imagem que trabalhou na agência 9ine e hoje cuida da carreira de esportistas como a surfista Maya Gabeira.