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A história do volante que já foi atacante e virou o motor do River

Carlos Sánchez comemora gol do River Plate na Copa Libertadores - JUAN MABROMATA / AFP
Carlos Sánchez comemora gol do River Plate na Copa Libertadores Imagem: JUAN MABROMATA / AFP

Pedro Lopes

Do UOL, em Buenos Aires

08/08/2015 06h00

Peça fundamental do River Plate na conquista da Libertadores, o uruguaio Carlos Sánchez entra para a galeria de atletas que atingiram o auge da carreira aos 30 anos. Revelado pelo Liverpool, pequeno clube uruguaio, o armador precisou de mais de uma década como profissional para conseguir harmonizar suas principais características e ser reconhecido como um meio-campista multifuncional.

Voluntarioso, Sánchez caiu nas graças dos torcedores do River e do técnico Marcelo Gallardo pela dedicação e pelas aparições precisas no ataque. Com quatro gols, dividiu a artilharia da equipe na Libertadores com o atacante Rodrigo Mora.

Mas a trajetória do uruguaio no Monumental de Nuñez nem sempre foi fácil. Contratado junto ao Godoy Cruz, pequeno clube argentino, Sánchez chegou ao River em 2011 para a disputa da segunda divisão do Campeonato Argentino. Aos 26 anos, ele era mais uma aposta da diretoria para tirar a equipe do buraco.

Sem o protagonismo de hoje, o armador contribuiu para a reconstrução do River, mas foi emprestado ao Puebla em 2013. O exílio no México fez com que Sánchez fosse escalado em uma nova função: centroavante. Vê-lo atuar na grande área causou espanto em jogadores e técnicos que conheceram seu futebol nos tempos de River. “O que você está fazendo com a camisa 9 se é um volante?”, perguntou o argentino Lucas Viatri, ex-Boca Juniors, durante uma partida entre Puebla e Chiapas.

Encerrada sua passagem pelo futebol mexicano, Sánchez descansava em Montevidéu em junho de 2014 quando foi chamado por Gallardo, recém-contratado pelo River, para uma conversa. O uruguaio não esquece do primeiro encontro com o chefe, que também contou com a presença de Mora.

“Gallardo disse que contava conosco, que seríamos fundamentais no sistema que ele pretendia usar. Dias depois, ele pediu que eu fosse sozinho ao seu escritório. Lá também estavam seus auxiliares. ‘Olha, queremos que você jogue dessa forma’, me disseram. Aí colocaram alguns vídeos em que eu corria como um louco, com grande dinâmica, pelo Godoy Cruz e pelo River”, contou à revista argentina “El Gráfico”.

Lisonjeado pelo prestígio com o novo chefe, Sánchez já levantava da cadeira quando foi advertido por Gallardo: “Espere, Carlos, que agora vamos te mostrar o que não queremos que você faça”. As imagens destacavam o uruguaio voltando para o meio-campo em ritmo de trote, sem intensidade. A ordem era clara: ele teria que ser mais participativo. “Sánchez voltava ao meio-campo como Riquelme”, disse um dos auxiliares de Gallardo, referindo-se à lentidão do ex-meia do Boca.

O uruguaio entendeu o recado e passou a ser o motor do River a partir do segundo semestre de 2014. “Com Gallardo, aprendi a ter mais mobilidade. O que ele transmite no dia a dia é para que tenhamos liberdade para atacar, jogar sempre no limite e, quando perdemos a bola, pressionarmos o adversário logo em seguida para recuperá-la”.

O bom desempenho sob o comando de Gallardo rendeu sua primeira convocação para a seleção uruguaia em novembro do ano passado, em um amistoso contra a Costa Rica. Em junho, ele esteve no elenco uruguaio eliminado pelo Chile nas quartas de final da Copa América.

Campeão da última edição da Copa Sul-Americana, da Libertadores e presença frequente nas convocações do Uruguai, Carlos Sanchez é a prova de que nunca é tarde para evoluir no futebol.