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Veja promessas feitas há 20 anos pra acabar com violência. 191 morreram já

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

20/08/2015 06h00

Há exatamente vinte anos, uma partida entre os times juniores de São Paulo e Palmeiras, disputada no Pacaembu, entrava para a história. E pelos motivos errados. Uma batalha campal entre as torcidas dos times começou dentro do gramado assim que o jogo acabou. Os torcedores usaram os materiais de construção de uma obra em andamento no estádio e aproveitaram o baixo efetivo policial mobilizado para o confronto para se enfrentarem em briga que terminou com mais de cem feridos e um morto.

Márcio Gasparin, a vítima fatal daquele dia, não era o primeiro a morrer em brigas entre torcidas no Brasil. Mas o 20 de agosto de 1995 foi marcante pela dimensão da pancadaria, pelo fato de a selvageria ter sido transmitida ao vivo pela televisão e porque, pela primeira vez na história, as autoridades paravam para prestar atenção à questão da violência no futebol.

O que aconteceu naquela final da extinta Supercopa São Paulo de Futebol Júnior poderia ter dado um novo rumo às coisas. Mas pouca coisa mudou. Levantamentos detalhados feitos pelo diário Lance!, e pelo sociólogo Maurício Murad, indicam que, entre 1996 e 2014, 191 pessoas foram mortas em brigas de torcidas no Brasil.

O UOL Esporte traz a seguir declarações que diversas autoridades fizeram sobre o assunto ao longo desses vinte anos. Em uma delas, o hoje presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, disse que a violência estava enterrada e não voltaria mais. 

 “A violência praticada por torcedores organizados em facções com estandarte próprio, mas vivendo sobre a sombra e imagem dos grandes clubes, está enterrada em fosso profundo. Não voltará jamais” - Marco Polo Del Nero, presidente da Comissão Antiviolência e do Tribunal de Justiça Desportiva da FPF em 1996

“As torcidas organizadas não voltarão aos estádios de São Paulo. Nunca mais. Todos podem estar tranquilos sobre isso" - Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol em 1996

"Nós fecharíamos ruas próximas aos estádios, que seriam vigiadas por seguranças particulares ou por agentes em convênio com a Federação Paulista de Futebol. Isso já está para ser implementado" Fernando Capez, promotor da Cidadania em 1998

"Queremos que as torcidas virem entidades com estatutos e normas com punição para os seus associados. Outro ponto é mandar para a polícia um cadastro dos sócios (nome, RG e filiação) com fotos, que será atualizado semestralmente. Queremos o comprometimento dos chefes de torcida” - Marcos Marinho, coronel do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar em 2004

"Se não for assim, com muito controle, as organizadas não voltam. Não temos pressa”..."Se não der certo (torcida única), vou pedir para que os clássicos sejam disputados com os portões fechados" Fernando Capez, promotor público em 2004

 "A partir deste evento (morte de um torcedor), vai haver um incremento e um aumento no número de pessoal para que não ocorra este tipo de situação. É relativamente simples fazer uma monitoração na rede quando você tem dados. E a polícias Civil e Militar têm esses dados." - Thales Cezar de Oliveira, promotor e coordenador do PAI (Plano de Atuação Integrada) do futebol em 2012

"Os vândalos e assassinos ainda continuam por aí. Temos que repensar" Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol em 2012

"Várias são as ações [a serem tomadas]. Você pode propor atuação em conjunto com o Judiciário, para a criação de juizados estaduais, como já existe em alguns estados. A análise de investigação das torcidas, várias questões que podem surgir para a ação coordenada e planejada" Rodrigo Janot, procurador-geral da República em 2013

"Como ocorreu na Inglaterra, temos condições de ter uma relação de torcedores violentos e impedir que entrem nos estádios. Isso dá para fazer rápido- Marco Polo Del Nero, presidente de Federação Paulista de Futebol e vice-presidente da CBF em 2014