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Ex-CEO desafia SP a provar acusações e mostra plano "ignorado" por Aidar

Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, foi desafiado pelo ex-CEO - Ricardo Nogueira/Folhapress
Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, foi desafiado pelo ex-CEO Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

16/09/2015 06h06

Nem Rogério Ceni, nem Alexandre Pato, tampouco Luis Fabiano. O principal personagem do noticiário do São Paulo na semana é o ex-CEO, Alexandre Bourgeois.

Demitido na quinta-feira (10) após processo de fritura e 90 dias de trabalho, ele mostrou revolta com a forma com que deixou o clube e desafiou o presidente, Carlos Miguel Aidar, a provar as acusações feitas na nota oficial divulgada na última terça-feira (10), como vazar informações para a imprensa, desempenho pífio em tarefas, falta de conhecimento em conversas com bancos e participação na vida política.

Alexandre Bourgeois - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Alexandre Bourgeois, ex-CEO do São Paulo
Imagem: Reprodução/Facebook


O plano de gestão mostrado ao UOL Esporte propõe, entre outras coisas, a renegociação da dívida de R$ 273 milhões e definir a prioridade para o uso de caixa, a criação de um conselho que auxiliaria o presidente na gestão, a implantação do sistema de salário por produtividade, a redução com os gastos em Cotia e até a terceirização do Morumbi.

"Desafio o São Paulo a provar as acusações que fez. Eu tenho como provar tudo o que estou falando. Aprendi que a verdade sempre vence no final, é imbatível. Os que mentem sempre se complicam", afirmou ele.

O mesmo plano, datado do dia 24 de agosto e assinado em parceria com José Arantes Jr. e Rafael Botelho, foi enviado a Aidar, mas preterido pelo presidente do São Paulo. O escolhido foi feito pelo Instituto Áquila e apresentado no último dia 4 de setembro.

O planejamento tem 46 páginas. Confira os principais pontos:

Renegociar a dívida e dar prioridades para usar o dinheiro

Dívida do São Paulo chega a R$ 273 milhões - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O plano indica que o São Paulo tem uma dívida total de R$ 273 milhões, sendo R$ 180 milhões com bancos, R$ 16 milhões com fornecedores e outros R$ 77 milhões com débitos tributários e trabalhistas. A primeira ação seria renegociar as dívidas, especialmente as bancárias (que têm juros maior). Também haveria a necessidade de dar prioridades às verbas que entrassem, além de acabar com o adiantamento de receitas futuras, prática comum especialmente com cotas de televisão e de patrocinadores.

“Você pegar a venda do Boschillia, que é uma verba rara, que não vem a toda hora, e gastar tudo com pagamento de empresário, sem nem tentar negociar, é errado, para falar o mínimo. Renegociar, conversar e admitir os problemas não é feio. É normal de mercado financeiro”, explicou Bourgeois.

Diminuir os poderes do presidente

Organograma elaborado pelo plano de gestão de Bourgeais para o São Paulo - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução


Implantar a governança corporativa moderna era um dos pilares da proposta. A ideia seria criar comitês que auxiliariam Carlos Miguel Aidar, que passaria a não ter exclusividade no poder de decisão. Haveria um comitê gestor para tomar as decisões finais, auxiliando o presidente, além de outros grupos menores que atuariam em outras frentes, como marketing, jurídico e governança.

“O presidente não ia virar rainha da Inglaterra. Só vira se quiser. Ele pode ter perfil ativo, pode ter voz nas decisões, sim. Mas precisa ter vontade política para isso. Não pode colocar interesses políticos à frente do clube. Mas quebrar o sistema, como diz o Capitão Nascimento (do filme Tropa de Elite), é f.... Há um medo do que vem para melhor. Minha surpresa foi saber que o São Paulo não é tão diferente quando dizia. Não essa gestão”, resumiu.

Diminuir gastos com o futebol e implantar metas

Plano do ex-CEO para o futebol do São Paulo - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O plano propõe, de cara, que não sejam renovados os contratos de jogadores com salário top, como os de Rogério Ceni, Luís Fabiano e Alexandre Pato. Os “contratos top 3”, como diz o documento, podem aliviar o clube em R$ 20 milhões por ano. Além disso, há a sugestão de reduzir em R$ 6 milhões os gastos com Cotia, local de treinamento dos garotos da base. A ideia é usar no máximo 70% da receita total do clube com o futebol.

O objetivo final, em 2017, é de ter no máximo quatro atletas que estejam em uma faixa salarial de R$ 300 mil a R$ 400 mil, com um elenco total de 30 jogadores, sendo cinco atletas da base. Todos ganhariam no sistema de metas, semelhante ao que acontece hoje, no Palmeiras. A ideia é ter uma folha salarial de R$ 59 milhões por ano. Hoje, segundo o ex-CEO, a folha chega perto de R$ 120 milhões por ano. 

“Se hoje eu pego meu jogador top e ele ganha R$ 500 mil, eu posso renegociar com ele e propor um fixo de R$ 250 mil e oferecer um variável de até R$ 300 mil, R$ 350 mil. O jogador pode ganhar ainda mais se cumprir as metas e conseguiríamos pagar porque se atingiu a meta significa título ou vaga, o que também significa entrada de dinheiro”, ponderou.

Terceirização e melhora das propriedades do estádio

Mudanças do ex-CEO para o Morumbi - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A previsão de Alexandre seria deixar a gestão do Morumbi nas mãos de alguma empresa especializada. Com isso, esperava economizar 20% na operação do estádio. Mais do que isso, ele gostaria de atrair mais público ao local dando mais opções de entretenimento. Promoções dentro do Morumbi antes da bola rolar, food truck e bares ao redor do palco do jogo são opções, além das ações tradicionais, como incentivar o plano de sócio-torcedor, vender cadeiras e valorizar a marca são-paulina. A previsão seria de ganhar R$ 5 milhões no ano com essas ações.

“Você precisa deixar a gestão de um estádio como é o Morumbi com quem sabe. Não adianta falar que o São Paulo ou qualquer outro clube vá conseguir gerir o estádio como as empresas especializadas fazem. Esse é o negócio deles. É como a AEG faz com o Allianz Parque”, analisou.

Patrocínio e atrair investimentos

No plano de Borgeouis, o patrocinador máster poderia incrementar a receita em pelo menos R$ 20 milhões no ano. Além disso, seria importante passar a impressão para o mercado que o São Paulo é um lugar confiável para investir. Por isso, a instalação de uma gestão 100% profissional seria essencial. Mais uma vez, ele bate na tecla de que a política não pode ficar à frente.

“O investidor quer saber de como o dinheiro dele vai e como o dinheiro dele volta. Se a gente mostra que ele tem segurança, ele pode investir. Claro que ele vai querer ter controle de como a verba vai ser usada. Ninguém coloca o dinheiro sem saber como vai ser usado. A vontade política precisa ser o benefício para o clube”, afirmou.

“No São Paulo, os conselheiros ficavam falando que o Abílio Diniz precisava colocar dinheiro, esperava um aporte. Ninguém sério vai colocar dinheiro sem poder controlar. Sem o mínimo de respaldo, ninguém investe”, finalizou.