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Clube culpa CBF por desmaio de jogadoras no Piauí; entidade rebate

Luiza Oliveira e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

25/09/2015 08h12

O forte calor em Teresina, no Piauí, fez vítimas e provocou até desmaios no Campeonato Brasileiro feminino de futebol. Sete jogadoras do Viana, do Maranhão, passaram mal por causa da temperatura que passou de 40ºC no duelo contra o Tiradentes-PI na última quarta-feira (23). O clube maranhense culpou a CBF pelo incidente, alegou ter pedido para que o confronto não ocorresse às 15h e acusou a entidade de dar prioridade às equipes do eixo Sul-Sudeste.

"Tiveram agremiações que foram beneficiadas em jogar em outro horário, e as meninas [do Viana] não tiveram este mesmo privilégio. Não obtivemos um bom resultado por conta do tempo e do mal-estar, então tudo isso influenciou muito no nosso resultado. (...) É uma falta de respeito, porque a CBF só deu prioridade ao pessoal do Sul e do Sudeste. O pessoal do Nordeste tem que jogar debaixo de um sol desse", reclamou Talvilane Conceição, diretora do Viana, ao UOL Esporte.

No duelo a goleira Del foi a primeira a desmaiar ainda nos primeiros minutos de jogo. Bárbara, Dani, Fernanda, Andressa, Alessandra e Renata foram outras atletas que passaram mal por causa do calor e acabaram levadas de ambulância ao Hospital de Urgência de Teresina (HUT), de acordo com o site local Cidade Verde. O árbitro foi obrigado a encerrar a partida antes do tempo regulamentar por número insuficiente de atletas, quando o placar marcava 10 a 0 para o Tiradentes.

“Ela [goleira Del] já estava sentindo mal por causa do calor [antes do jogo], nem o ar condicionado do ônibus estava resolvendo. No vestiário estava muito quente, as meninas nem conseguiram se aquecer, estava muito abafado. Elas levaram bastante água e mesmo assim não foi suficiente para todo mundo. A questão foi mesmo por causa do tempo, um mormaço, um calor muito grande. Dentro de campo parecia que estava pegando fogo", relatou Talvilane.

"Faltou ar, teve vômito, tontura, dor de cabeça e elas não aguentaram por causa disso. A ambulância que tinha era muito pequena, estava com uma jogadora em cima da outra, não estava aguentando mais andar de tão velha que era. Então muitas foram atendidas dentro do campo porque não tinha como chegar ao hospital”, completou.

Presidente da Federação de Futebol do Maranhão, Antônio Américo também reclamou das condições da partida. Ele afirmou ter pedido à CBF para que alterasse o horário do confronto, mas a entidade negou, já que no mesmo horário aconteceria outro jogo decisivo e poderia haver contaminação de resultado.

“Eu e o presidente da Federação do Piauí pedimos há 10 dias, junto à CBF na diretoria de competições, para que se mudasse o horário desse jogo. Era humanamente impossível para um homem, imagina para uma mulher jogar neste horário. Aquele estádio neste horário é como se fosse um forno, mas não houve jeito”, disse o dirigente.

Coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha rebateu as críticas à entidade máxima do futebol brasileiro. Ele alegou que o jogo tinha que ser disputado antes de escurecer devido à falta de iluminação no estádio. Além disso, afirmou que a temperatura em Teresina é alta durante todo o dia e que cidades como o Rio de Janeiro também recebem jogos com os termômetros nas alturas.

O dirigente ainda criticou a logística do Viana, que teria chegado à cidade horas antes do jogo, e não no dia anterior como relatado pelo clube. “Tem problemas de logística. Que o time tivesse saído mais cedo, escolhido melhor a logística. Claro que eu lamento o ocorrido. Mas não é comum, não pode só falar que é culpa da CBF. Ouvi dizer que almoçaram tarde, por que isso aconteceu? Qual a culpa da CBF nessa? Pode ter tido desidratação, que é ainda pior. A própria goleira já estava passando mal com 10 minutos. Não é tanto do ambiente local, é a logística, forma de viagem, o que almoçaram”, defendeu Cunha.

Jogadoras do Tiradentes-PI também relataram que atletas do Viana teriam admitido ter feito refeição menos de uma hora antes de a bola rolar. 

“As informações que chegaram para a gente foram que elas tinham almoçado às 14h. Fica difícil se você tem só uma hora para descansar e já entra em campo, sendo que você tem que entrar e se aquecer. Aqui o sol é bastante quente. Se é difícil para a gente, imagina para elas. Elas passaram para a arbitragem que almoçaram tarde. A arbitragem passou para a nossa comissão e a gente ficou sabendo”, contou a volante Andréa, do Tiradentes-PI.

Talvilane negou que tenha havido qualquer problema na logística do Viana e afirmou que a equipe se preparou bem para o jogo, dando todas as condições para as atletas entrarem em campo com segurança. Segundo ela, a delegação chegou à cidade no dia anterior e as jogadoras almoçaram antes do meio-dia para se adaptarem ao horário da partida.

Lateral direita do Viana, Stefany também defendeu a logística e culpou o forte calor pelo problema com as companheiras de equipe. "Não suspeito da alimentação não. Tomamos café reforçado e almoçamos uma comida leve. Elas desmaiaram por causa do calor mesmo”, opinou Stefany.