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São Paulo só leva multa por caso Iago Maidana, mas ainda não pode festejar

Vinícius Castro

Do UOL, do Rio de Janeiro

26/10/2015 20h45

O São Paulo foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) após julgamento realizado nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro. O clube paulista, denunciado pelo tribunal pela contratação do zagueiro Iago Maidana, acabou multado em R$ 100 mil, mas ainda corre risco de receber punição mais severa, como o rebaixamento e a proibição em contratar jogadores.

Isso porque os artigos referentes ao Regulamento Nacional de Intermediários foram retirados de pauta por falta de competência do STJD e devem ser julgados no Comitê de Resolução de Litígios da CBF. Criciúma e Monte Cristo também foram multados em R$ 100 mil. O jogador, em R$ 10 mil. 

Roberto Armelin, advogado do São Paulo, disse que irá buscar a absolvição "onde for necessário". Além disso, segundo ele, o clube paulista irá entrar com um recurso contra a decisão do STJD. 

"A decisão adequada é a absolvição do São Paulo e do atleta. É isso que vamos buscar em recurso. Qualquer um pode ver esse caso, vamos sustentar a mesma coisa. A lei não foi infringida, assim como nenhum regulamento. O São Paulo vai buscar a sua absolvição onde for necessário. Eu não contava com rebaixamento, porque não teve irregularidade no negócio. O negócio pode não ser comum, mas não é ilegal. Cem mil reais é muito para quem buscava a absolvição", disse Armelin.
 
Iago Maidana, de 19 anos, foi contratado pelo São Paulo no dia 11 de setembro por R$ 2 milhões (com acréscimo de R$ 400 mil caso metas sejam cumpridas), depois de ser comprado do Criciúma por R$ 800 mil e passar dois dias registrado em um clube da terceira divisão de Goiás, o Monte Cristo.
 

O julgamento

 
Durante o julgamento, o relator do processo, Luiz Felipe Bulus, destacou a movimentação "incomum" do caso nos padrões conhecidos do futebol brasileiro. Bulus também disse que Maidana confirmou a participação da empresa Itaquerão Soccer nas transferências. Informação retirada do relatório da CBF. "Não parece crível que o São Paulo desconhecesse o vínculo do atleta com o Criciúma", afirmou.
 
"O caso representa tudo o que a Fifa e a CBF tentam evitar no futebol. Ficou nítido que se tinha um objetivo em questão. Vislumbrou-se a parte financeira, pois o atleta seria liberado ao final do ano. Não tem mais inocente no futebol. Todos são sabedores das regras", disse o procurador geral William Figueiredo.
 
Segundo Armelin, o caso é emblemático e atraiu mais atenção do que o necessário. "O São Paulo pagou mais do que outros estavam propostos a pagar. Não sabíamos a multa. Fomos rápidos e no dia 15 de setembro se encerrava o prazo de inscrição. A coisa foi rápida por isso. Talvez seja essa a suspeita, mas não existe qualquer coisa", frisou.
 

Entenda o caso

 
Há duas semanas, a Procuradoria da Justiça Desportiva recebeu um dossiê sobre a transação envolvendo Maidana. O órgão apresentou diversas questões controversas na contratação do atleta. 
 
Uma delas é o fato de Maidana, quando ainda era atleta do Criciúma, ter multa indenizatória de R$ 1,6 milhão. O contrato dele foi rescindido em 4 de setembro, sendo o atleta transferido para o Monte Cristo cinco dias depois. No clube goiano, a multa rescisória de Maidana no Monte Cristo era de apenas R$ 50 mil, mas o São Paulo pagou R$ 2 milhões.
 
"Operações incomuns aconteceram. A CBF checou e as enviou ao STJD. O jogador rescindiu com o Criciúma e firmou um contrato com o Monte Cristo. Em menos de 24 horas depois assinou com o São Paulo. Inexplicavelmente assinou com o Monte Cristo com multa de R$ 50 mil e com o São Paulo por R$ 2 milhões referentes a 60%. As irregularidades estão claras e todos infringiram artigos claros no regulamento", pontuou Figueiredo.
 
O documento dos procuradores do Tribunal apresenta que a empresa Itaquerão Soccer pagou R$ 400 mil para tirar Maidana do Criciúma. O dinheiro foi entregue para a GA - Gestão de Patrimônio LTDA, empresa parceira do Criciúma.
 
Por contrato, ela não poderia fazer tal operação sem a anuência do Criciúma. A CBF, então, comunicou à procuradoria do STJD que a Itaquerão Soccer agiu de forma irregular, pois não tinha autorização para desenvolver a transação -- a Fifa proíbe desde 1º de maio de 2015 a participação de investidores em direitos econômicos ou mecanismos de investimento.