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Fla popular e de volta às origens. Planos de Cacau Cotta para a presidência

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/12/2015 11h00

Candidato da Chapa Branca à presidência do Flamengo, Cacau Cotta quer um Rubro-negro cada vez mais popular e de volta às origens. Aos 44 anos, o carioca é funcionário do Tribunal de Contas do Município e deseja romper drasticamente o modelo de administração no futebol.

Conhecido torcedor de arquibancada e vice-presidente de Administração e de Fla-Gávea na gestão Patricia Amorim, Cacau abre nesta quarta-feira (2) a série de entrevistas do UOL Esporte com os presidenciáveis do Flamengo. Ele revelou propostas, criticou a atual diretoria e apontou as soluções consideradas ideais antes do pleito do dia 7 de dezembro.

Na próxima quinta-feira (3) será publicada a entrevista com Wallim Vasconcellos, candidato da Chapa Verde. Na sexta-feira (4), o presidente Eduardo Bandeira de Mello, que tenta a reeleição pela Chapa Azul, encerra a série.

Confira a entrevista com Cacau Cotta:

UOL Esporte: Qual o principal problema do Flamengo hoje?
Cacau Cotta: A parte estrutural. Visitei os clubes do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e os quatro de São Paulo. Todos nos superam. É questão patrimonial. É ter centro de treinamento, estádio, um programa de sócio-torcedor eficiente e investir no futebol de base. O retrato do Flamengo atual é esse. Estamos atrasados em tudo e precisamos de um choque de gestão se quisermos evoluir.

UOL Esporte: Você costuma dizer que a dívida do Flamengo é irreal e a redução anunciada pela diretoria não procede (em torno de R$ 750 milhões no primeiro semestre de 2013 para R$ 550 milhões no segundo semestre de 2015). Quais os números que possui?
Cacau Cotta: É indiscutível que houve uma profissionalização do clube. Isso continuará em nossa gestão. Pagamento de dívida é lei. Não é mais bandeira de ninguém. Qualquer um que administrar o Flamengo precisa ter essa responsabilidade. Pagarei com os meus bens se errar. A direção atual diz que a dívida era de R$ 750 milhões. Mas isso nunca houve. Retiro a candidatura se as outras chapas comprovarem o valor. O que houve foi um estudo de provisões das dívidas. Tudo o que é possível acarretar em dívida foi colocado no meio. O próprio vice de finanças (Cláudio Pracownik) confirmou isso. Ele deixou claro não ter certeza do valor da dívida em uma entrevista recente (ao Blog Ser Flamengo). É uma caixa preta. Era uma dívida de R$ 600 milhões e com as confissões aumentaram mais R$ 150 milhões. O Flamengo atual troca imposto por dívida privada. É uma inverdade. Isso não é bom para ninguém. Mancha a instituição e está longe de ser o ideal.

UOL Esporte: Você também é um crítico do departamento de futebol. Qual a opinião sobre o carro-chefe do clube e como solucionar os problemas detectados?
Cacau Cotta: O investimento aumentou e não tivemos resultados. O departamento de futebol foi mal gerido. É preciso que o torcedor enxergue isso. Que boa gestão é essa sem resultado? Os profissionais precisam de metas. O futebol deixou de ser fim e virou meio. Só se fala em Profut, Lotex, prêmio de gestão... É imprescindível criar uma estrutura no futebol. Não recuperaremos o futebol do Flamengo trazendo jogadores que não estão em alto nível.

UOL Esporte: Por que Jayme de Almeida e Andrade nas funções de técnico e auxiliar? Você foi criticado e acusado de retrocesso logo após ter feito este anúncio...
Cacau Cotta: A história do Flamengo é essa. Não inventei absolutamente nada. As pessoas são incoerentes. Sempre demos certo com profissionais formados na Gávea. Falam tanto em modelo de gestão e responsabilidade fiscal, mas querem gastar fortunas com um treinador. Trazer um técnico de fora é tiro no pé. O cara vai chegar em um clube sem estrutura e estando acostumado ao alto nível. Tenho responsabilidade e não sou louco de praticar isso. Que responsabilidade financeira engloba contratar um treinador por quase R$ 1 milhão ao mês? Quem garante que esses técnicos vão dar certo no Flamengo? O Jayme é da minha comissão permanente, da mesma forma que acumularei a vice-presidência de futebol para dar um choque de gestão. É assim que se começa um trabalho com responsabilidade. O Jayme tem um conhecimento vasto de Flamengo. Precisamos de pulso e comando.

UOL Esporte: Você perdeu apoio de personagens importantes da política do Flamengo, que optaram pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello. Sua candidatura também não teve o apoio da Patricia Amorim. Você se sentiu traído?
Cacau Cotta: Não tem história de traído e traidor. As pessoas criam identidade para alçar o próprio voo. Tenho gratidão pela Patricia. Trabalhei para o Flamengo com ela e estou aqui por causa disso. Tive o departamento mais bem avaliado na gestão dela. Dizem que a Patricia apoia o atual presidente. Me sinto à vontade, pois não tenho apoio de nenhum ex-presidente. Mas também não tenho acordo de cargo, emprego, interferência, nada. As pessoas falam que o Cacau está limpo, que não tem acerto e está preparado para administrar o Flamengo.

UOL Esporte: Você teve problemas com o SóFla (base da Chapa Azul) e ultimamente com o Bap (ex-vice de marketing). São desafetos? Existe a possibilidade de trabalho em conjunto?
Cacau Cotta: Não tive problemas. Gosto de algumas pessoas do SóFla. Com o Bap, no calor da emoção, tivemos uma discussão e ele falou algumas coisas que prefiro não repetir. Não temos problemas. Não faço política com o fígado, faço com a cabeça. Cheguei ao Flamengo para fazer amigos, não inimigos. Precisamos saber quem vai ganhar a eleição. Acho que ganharei. Quero ver no campo das ideias o que será discutido. Vejo dificuldades nas duas chapas, mas não vou contra o que digo. O Flamengo é difícil de administrar unido, desunido é impossível. Penso em pegar as melhores pessoas e colocar na gestão. O clube precisa estar acima das vaidades pessoais. Prego a união. O Flamengo não é azul, verde ou branco. É vermelho e preto.

UOL Esporte: Alguns adversários criticam a sua relação com as torcidas organizadas. Elas te apoiam? Considera isso um problema?
Cacau Cotta: Saí do Maracanã recentemente e fui xingado pelas organizadas. Esse momento complicado do país tem a ver com isso. Todo mundo está de saco cheio de política. É preciso ser correto nas coisas. Não tenho apoio diretamente das organizadas, mas existem pessoas que gostam de mim. Faço um parâmetro com as comunidades carentes. Você tem 99% de pessoas de bem e 1% de má conduta. É separar o joio do trigo. Temos problemas em vários setores da sociedade e essas torcidas precisam ser moldadas. Falo sobre isso com tranquilidade. O torcedor organizado não será discriminado na minha gestão.

UOL Esporte: A Liga Sul-Minas-Rio vai vingar? Qual a opinião sobre o rompimento da atual diretoria do Flamengo com a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro)?
Cacau Cotta: Essa Liga não está legalizada. É uma competição pirata. É uma piada pela forma como foi criada e com o Alexandre Kalil de CEO. Ele vê o Flamengo como adversário e não pode ser o diretor. Somos o maior clube do Brasil. O Flamengo vende e dá notícia. Até vejo a Liga com bons olhos, mas precisa ser mais bem negociada. O Flamengo deve estar à frente. Do jeito que está, não dá. A questão da Federação precisa ser repensada. É uma coisa pessoal. O presidente do Flamengo precisa ser respeitado e marcar presença nos arbitrais. Ninguém quer ganhar da Chapecoense. Vira o canal e ninguém comemora. Todo mundo gosta do Campeonato Carioca e da rivalidade. Isso nunca vai acabar.

UOL Esporte: O Flamengo tem condição de assumir o Maracanã? É possível construir um estádio próprio ou até utilizar a Gávea?
Cacau Cotta: Tenho um projeto do arquiteto Aníbal Coutinho. Ele fez o estádio do Corinthians. É um cara top e temos investidores. É ponto pacífico que a Gávea precisa ser um local para jogos de pequeno porte. Tanto que nos primeiros seis meses de gestão, principalmente até o CT ficar pronto, o Flamengo treinará na Gávea. É aqui que está o suor do samurai. O Zico treinou aqui, Adílio, Nunes, Uri Geller, Silva Batuta. Os grandes jogadores treinaram e suaram nesse campo. O Flamengo ganhou tudo. Vou trazer de volta o futebol para cá na véspera dos jogos. O custo fixo do Maracanã gira em torno de R$ 5 milhões ao mês. O Flamengo quebra se assumir o estádio nos moldes atuais. Precisamos administrar em conjunto com uma empresa, prefeitura ou estado. Fizeram um estádio de nível europeu e com uma manutenção caríssima. O torcedor não se sente feliz. Vamos tirar as cadeiras dos setores Norte e Sul e vamos aumentar o Leste. Fazer uma Área Vip. O Maracanã precisa se transformar novamente em um estádio popular, além de o Flamengo mudar o seu programa de sócio-torcedor. Não adianta colocar ingresso nas alturas e obrigar o torcedor a aderir ao programa. Isso precisa ser com vontade e paixão. É necessário sentir que o Maracanã é do Flamengo.

UOL Esporte: Como construir um estádio e concluir o CT Ninho do Urubu?
Cacau Cotta: O Flamengo tem o Morro da Viúva (edifício na zona sul do Rio de Janeiro). Tivemos o uso modificado. É um imóvel de alto valor e com mais de 180 apartamentos. Uma coisa enorme e bem localizada. Um valor de R$ 600 milhões. Esse bem pode ser permutado pelo estádio. Temos como fazer. É vontade política e negociação. O módulo profissional do CT precisa de seis meses com obras em três turnos. Será feito com o dinheiro do Casarão de São Conrado, a antiga concentração do Flamengo.

UOL Esporte: E a Arena McDonald's?
Cacau Cotta: O ginásio Hélio Maurício tem piso de nível NBA, tabelas e pode ser ampliado. A arena não vai resolver os problemas do Flamengo. A capacidade é baixa. Seremos obrigados a jogar nas arenas maiores. Um exemplo claro é o Legado Olímpico. É só para abrir um drive thru? Um terreno que tem concessão para fins esportivos vai fazer isso? Não sou contra, mas precisa ser arrumado. Não adianta fazer por fazer. Por que derrubar um espaço esportivo? Por que precisa ser naquela esquina da Lagoa? Tenho alternativas melhores. As arenas da Olimpíada são perfeitas para a utilização do Flamengo.

UOL Esporte: Existem opiniões diferentes sobre a crise financeira do país no próximo ano. Mas a maioria é bastante pessimista. Como capitalizar patrocínios, pagar salários em dia e ainda sair vitorioso em campo?
Cacau Cotta: Achar que a crise não vai atingir o Flamengo é uma ilusão. Precisamos nos preparar para esse momento. Tem fatos que ainda agravam isso. Não planejamos onde o Flamengo vai jogar no ano que vem. Algum torcedor sabe? Já sabíamos das Olimpíadas desde 2009 e não fizemos nada. É uma crítica a todos que passaram, inclusive a gestão que participei. Não preparamos o Flamengo para chegar em 2016. As verbas estarão voltadas até setembro para os Jogos Olímpicos e não teremos Maracanã e Engenhão. Falam de profissionalismo, mas ainda pecam nos detalhes. O próximo ano me preocupa muito. Sem a união de forças será bem difícil.