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Time da 4ª divisão que contratou Edilson explica desejo por quarentões

Edilson jogará quarta divisão pelo Taboão - David Cannon/Getty Images
Edilson jogará quarta divisão pelo Taboão Imagem: David Cannon/Getty Images

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

08/01/2016 06h00

Depois de contratar Viola no começo deste ano, o Clube Atlético Taboão da Serra (CATS) veio com mais um lance inesperado e anunciou a chegada do “capetinha” Edílson, aos 45 anos, para a disputa da quarta divisão paulista em 2016. Mas como, e por que, um pequeno clube da Grande São Paulo tem apostado em antigas estrelas? O que faz para atrai-los? Quem explica é seu presidente Anderson Nóbrega, que já foi companheiro de campo do volante Ralf e diz que, por enquanto, precisa tirar do próprio bolso para bancar seus projetos.

Holofotes para Taboão

“Se não fosse pelo Edílson, provavelmente eu nem estaria conversando com você”, diz Nóbrega, exemplificando o tipo de visibilidade que a contratação traz para o clube. Com a maior exposição na mídia, o dirigente espera por novos patrocinadores, apesar de dar a entender que, no caso de Viola, a aposta não significou ganhos financeiros significativos. “Com ele (Viola) estávamos começando com essa política, foi nossa primeira aposta”.

Não que o clube esteja totalmente desamparado. O Taboão da Serra tem hoje dois patrocinadores e usa, sem custos, o estádio municipal e mais oito campos de treinamento mantidos pela prefeitura. Mas, fora isso, Anderson garante que nada recebe da prefeitura. Ele diz que só consegue arcar com todos os cerca de 70 mil reais da folha de pagamento da equipe profissional, entre outros custos para manter o clube, porque usa parte dos próprios rendimentos, vindos da empresa de transportes que a família administra desde 1991.

Dinheiro e política

“Sei que não é o correto, um clube tem que ser autossustentável. Mas, na situação em que os clubes pequenos estão hoje, se não é deste jeito, fica difícil”, argumenta o presidente de 34 anos. Se Anderson pretende um dia cobrar o CATS pelo dinheiro investido? “Acredito que todo empréstimo teria que voltar. Mas, hoje, não vejo como isso acontecer”, conforma-se. O dirigente foi candidato a deputado federal em 2014. Não se elegeu, apesar da tradição política que sua família tem na cidade: o pai, Olívio Nóbrega, já foi vereador, e o irmão, Eduardo Nóbrega, é vereador atualmente. “Eu não nego que ser dirigente de um clube pode te ajudar politicamente. Mas eu não penso nisso, gosto de separar as coisas. Tanto que meu pai e meu irmão nem têm cargos no clube”, explica Anderson.

Confiança em Edílson

Dentro de campo, a meta para 2016 segue a mesma: subir para a terceira divisão do Paulista. No campeonato passado, Viola, então com 46 anos, marcou nove gols em nove jogos, mas o time ficou a uma vitória de alcançar tal objetivo. Agora, com Edílson Nóbrega espera não apenas gols, mas ajudar a mudar a “chatice” do futebol atual, incentivando a molecada a “ir para cima”. Mas o grande sonho mesmo do dirigente é ver o CATS na primeira divisão em, no máximo, seis anos.

Já sobre os recentes problemas do atacante com a Justiça - em setembro, a Polícia Federal o acusou de participação em esquema para fraudar pagamentos de loteria – o dirigente diz estar tranquilo.

“Conversamos muito antes da contratação e ele (Edílson), e o advogado dele, garantiram que a coisa já está sendo resolvida. O Edílson foi usado, ele está muito triste com o que aconteceu.”

Não é pela grana

Para o ex-goleiro Sérgio, que encerrou a carreira pelo CATS em 2013, parte do interesse de “medalhões” em atuar por um time da quarta divisão está na possibilidade de seguir jogando profissionalmente, compartilhar experiência e levar projetos paralelos ao mesmo tempo. “Eu estava em forma, então só precisava treinar duas vezes por semana para jogar. Nos outros dias eu cuidava da minha vida particular”, conta Sérgio. “Não é a parte financeira que conta. Acredito que seja o mesmo caso do Viola e do Edílson”.

Só 0,32% de Gabriel Paulista

Nóbrega detona a Lei Pelé, para ele uma grande culpada pela atual situação financeira dos times pequenos. O presidente do Taboão da Serra reclama que, apesar de o clube ter formado e revelado o zagueiro Gabriel Paulista, atualmente no Arsenal, ficou com apenas 0,32% da transação de 20 milhões de euros envolvendo a equipe inglesa e o Villareal, da Espanha. Outro que, segundo, Nóbrega, surgiu para o futebol no clube e foi embora sem que a instituição nada ganhasse foi o volante Ralf.

“O Taboão da Serra foi o primeiro clube amador e profissional do Ralf. Antes daqui, ele nunca tinha jogado bola”, diz o dirigente, campeão paulista da quarta divisão ao lado do volante em 2004. “Aí daqui ele foi para o São Paulo, acabou dispensado, e por causa da Lei Pelé nós nunca recebemos nada”, conta Nóbrega.