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'Dios'? Com churrasquinho na rua, sapataria já foi o reduto de Lugano em SP

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

17/01/2016 06h00

Lugano voltou ao Brasil com o aeroporto abarrotado de torcedores e, para celebrar a ocasião, o São Paulo lançou uma camiseta em que a imagem do zagueiro aparece ao lado da palavra "Dios" (Deus). Se hoje, o uruguaio não esperava tamanha comoção, imagine quando ele comia churrasco em frente a uma humilde sapataria no bairro da Santa Cecília, em São Paulo, e rodava por aí de carona em um Tipo ano 1996?

"Embaixada" informal

Quem conta essas histórias é o uruguaio que, entre 2002 e 2008, foi o dono da sapataria. Hoje morando em Criciúma (SC), Domingo Macri fazia do seu pequeno estabelecimento no centro de São Paulo uma espécie de "embaixada" do Uruguai. Lá, ele reunia conterrâneos para bater papo, assar uma carne e tomar chimarrão. Ele já era amigo de ídolos do futebol de seu país, como Pablo Forlán e Pedro Rocha, e recebeu também o então desconhecido Lugano quando o jogador chegou ao Tricolor em 2003.

Foi Pablo Forlán quem apresentou Lugano ao então sapateiro (hoje, Macri é chef de cozinha e trabalha com eventos). "Minha sapataria já era tão conhecida pela comunidade uruguaia que às vezes até a embaixada mandava uruguaios que tinham acabado de chegar para lá, para ver se eu ajudava a arranjar um emprego ou algo assim", conta Macri. Claro que este não era o caso de Lugano, mas Macri lembra que o início do zagueiro realmente não foi fácil.

Nem chimarrão conquistou Cuca

"Ele reclamava que o técnico não botava ele para jogar de jeito nenhum", conta Macri, referindo-se a Cuca, técnico do São Paulo no começo de 2004. "Por ele (Cuca) ser gaúcho, o Lugano até achou que conseguiria se aproximar mais. Tomavam chimarrão juntos. Mas não tinha jeito", lembra Macri.

Carro popular e churrasco na rua

Lugano continou a frequentar a sapataria. Além dos churrascos, ia lá quase toda semana tomar chimarrão com Macri, que se tornou cada vez mais próximo do zagueiro. Quando ele virou titular, Macri passou a frequentar o Morumbi em quase todos os jogos. E a dar carona para Lugano em seu Tipo modelo 96.

"Quando o São Paulo ganhou a Libertadores, eu quem fui buscar o Lugano no restaurante onde os jogadores estavam comemorando. Imagina, só tinha carrão e chega eu com meu Tipo", brinca Macri. Mas ostentar não era mesmo a de Lugano: seu amigo conta que, ao chegar ao Brasil, o zagueiro andava de Gol modelo 95. "Depois ele trocou por um carro modelo 2002 e ficou todo empolgado, parecia até que estava comprando um carro de luxo", lembra Macri, divertindo-se novamente.

Macri garante que Lugano nunca comentava o que acontecia entre os jogadores. “Sempre foi muito profissional”. E também, pelo menos no começo, sequer sonhava com a seleção uruguaia. “Isso nem passava pela cabeça dele, ainda mais em ser capitão”. Mas o zagueiro chegou lá, e Macri ganhou de presente a camiseta que ele usou em sua primeira partida pela Celeste, contra o Paraguai.

Encontro com ídolo

O ex-sapateiro recorda ainda da emoção de Lugano ao ser apresentado a Pedro Rocha – "ficou louco" – e que comandar a churrasqueira não era com ele. "Ele gostava era de comer".

O primeiro título de Lugano pelo São Paulo, o Paulista de 2005, foi comemorado lá, entre as caixas, ferramentas e pilhas de sapatos no meio das quais Macri trabalhava na rua Barão de Tatuí. A sapataria, aliás, está lá até hoje, agora comandada por outro uruguaio, Amilca Rodriguez.

A mesma confiança

De início, Macri demonstra certo receio em relação a volta de Lugano ao São Paulo. “Ele está em final de carreira...”. Logo em seguida, porém, parece lembrar-se sobre quem está falando e vai mudando de ideia. “O São Paulo vai trabalhar ele, o Bauza vai jogar fechado e ele vai dar certo”, diz Macri. “Falei com ele semana passada. Ele está tão confiante quanto na época em que o conheci”.