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Meia perdeu o pai em ataque de carro-bomba e hoje dá lição na Austrália

Ali Abbas ficou 405 dias se recuperando de lesões e foi vítima de muitos xingamentos - Mark Kolbe/Getty Images
Ali Abbas ficou 405 dias se recuperando de lesões e foi vítima de muitos xingamentos Imagem: Mark Kolbe/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

19/01/2016 06h00

Era novembro de 2014. Apoiado no fisioterapeuta de seu time, Ali Abbas deixava o campo rumo ao vestiário com dois ligamentos rompidos e uma lesão grave no menisco do joelho esquerdo. Ao mesmo tempo, ouvia xingamentos e ofensas da torcida rival. “Escutei muita coisa dura, palavras e expressões que não são legais de dizer para quem acabou de se machucar gravemente”, recorda o meio-campista iraquiano do Sydney FC, da elite australiana.

O ataque não parou por aí. Depois do jogo, torcedores do Western Sydney Wanderers, rival do Sydney FC naquele dia, usaram as redes sociais para continuar com as ofensas. Uma delas marcou Ali Abbas. “Queria que você tivesse quebrado as duas pernas”, escreveu um torcedor. O iraquiano, então, pediu a seu clube que imprimisse essa e outras mensagens hostis.

Abbas juntou tais palavras e fotos de seu joelho lesionado e colou tudo em seu armário no vestiário. Os companheiros ficaram assustados com tal estratégia, mas ele queria usar isso como motivação. E acrescentou mais um recado em seu “mural”: a data de 16/1/2016, dia em que ele gostaria de voltar a campo para mais um clássico contra o Sydney Wanderers.

E foi o que aconteceu no último sábado. Pouco mais de um ano depois das graves lesões e de duas cirurgias no joelho esquerdo, Abbas saiu do banco de reservas no segundo tempo para participar do clássico. Recebeu muitas vaias e mais ofensas no estádio do rival, mas ele estava de volta, com a sorte do seu lado. No fim da partida, o Sydney fez o gol da vitória por 2 a 1.

“Ninguém achou que eu voltaria a jogar depois de tudo que passei, mas eu avisei que conseguiria. Minha primeira corrida de 40 metros foi a coisa mais difícil que já precisei fazer”, disse ele ao Canberra Times. Mas outras dificuldades já haviam formado sua personalidade. Abbas perdeu o pai ainda jovem, no Iraque, com a explosão de um carro-bomba.

“Já passei por situações piores na vida. Então como eu lidaria com as lesões? Tentei agir como se não fosse nada demais. Pensei em coisas boas e mantive meu pensamento positivo”, resumiu Abbas, que assegura não guardar mágoa de ninguém que o ofendeu. Nem mesmo do zagueiro do Wanderers que oito meses antes da lesão lhe disse frases racistas. “Eu queria um pedido de desculpas, mas nada aconteceu com ele. Isso foi uma vergonha”.

Um fim de semana antes do reencontro com o Wanderers, Abbas fez seu retorno oficial aos gramados. Começou na reserva no duelo diante do Newcastle e entrou no segundo tempo. Aos 35min, tabelou com um companheiro e chutou sob o goleiro para fazer 2 a 0. Jogadores e todos do banco de reserva correram para abraçá-lo e festejar o que muitos achavam impossível. Mas para esse iraquiano a volta ao futebol foi só mais uma etapa superada.