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Romero ainda não se sente querido e diz como conquistará os corintianos

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

17/02/2016 06h01

Ángel Romero viveu momentos difíceis quando chegou ao Corinthians. Pela primeira vez na vida, viveu a sensação de estar longe da família e, principalmente, do irmão Óscar, com quem ele compartilhou tudo antes mesmo de vir ao mundo. Em campo, o sonho de fazer sucesso com a camisa do Corinthians ainda era distante. Romero tinha poucas chances e chegou a ser última opção de Tite para o ataque sem sequer ficar no banco de reservas.

Um ano e oito meses depois, a maré mudou e o sorriso voltou a estampar o rosto do simpático paraguaio. Romero fez dois gols no clássico contra o São Paulo no fim do ano passado. Neste ano, já marcou quatro e é o artilheiro da equipe. Mas ele ainda não está satisfeito e não se sente querido pela torcida.

“Ainda não (gosta), mas vai gostar. Acho que ainda eles não gostam de mim. Eu sinto que eles querem que eu faça mais gols, faça mais coisas, é normal isso para o jogador. Não sei, sinto isso. Mas acho que vão gostar, mais para frente, fazendo gols, vão gostar. Vou trabalhar para ganhar o carinho da torcida”, conta ele.

Romero pode ainda não ter caído nas graças da Fiel, mas ao menos já sabe a fórmula para conquistá-la. Sempre que entra em campo, faz ressurgir o espírito guerreiro que ele aprendeu nas categorias de base do Cerro Porteño, do Paraguai. Não falta raça, força de vontade, carrinhos e não existe bola perdida.

“Aqui no Corinthians gostam muito disso, no time anterior onde eu estava, o Cerro, era a mesma coisa, a torcida pedia a mesma coisa. Então eu já estava jogando assim como eu estou jogando agora. Eles pedem muito para ter raça, lutar sempre, morrer no campo, ficavam sempre pedindo isso. Então eu trato de fazer isso, cada vez que eu jogo, eu faço isso”.

Esposa fez Tite 'enxergar' Romero

Romero ainda se lembra como foi difícil assimilar a situação de ficar sem jogar e contou com uma ajuda inusitada. Tite voltou a ter bons olhos para o atacante depois de uma conversa com a esposa Rose que pediu que o marido desse atenção a todos os atletas do elenco.

“Isso foi no ano passado. Infelizmente eu era a última opção do treinador, mas sempre trabalhava, treinava, quietinho sem falar nada esperando a oportunidade. E ela falou que tinha que dar uma oportunidade para mim, a esposa do Tite. Eu escutei, não sei se é verdade. E então ele deu para mim no jogo contra o Cruzeiro acho. Fiz o gol e daí que ele deu uma sequência de jogos. Não era titular, mas sempre estava no banco, entrava no jogo. Então depois do jogo contra o São Paulo, graças a Deus ganhei mais confiança do treinador”.

Raízes paraguaias são mantidas em SP

Agora, mais adaptado e feliz, ele já lida melhor com a saudade da família e começa a aproveitar a cidade de São Paulo. Está aprendendo a falar português com os colegas que elenco que insistem em ensinar palavrões que ele tem até vergonha de pronunciar. Também gosta de ir ao shopping ou sair para comer uma boa massa.

E, mesmo sem contato com muitos conterrâneos, não esquece as raízes. Vai com frequência ao consulado paraguaio só para tomar Tererê, uma espécie de chimarrão frio servido com gelo. E conta com os mimos da mamãe Maria Lucy que passa férias em São Paulo para cozinhar uma boa milanesa e outros pratos típicos paraguaios.

Ligação com o irmão e abandono do pai

Até hoje sua avó Dora, com seus 85 anos, ainda chora de saudades do neto. Mas a relação com o irmão gêmeo Óscar é a que mais impressiona. Mesmo à distância, Romero jura que pressente o que vai acontecer com ele, que hoje joga no Racing, da Argentina.

“O que ele sente eu sinto também. Se ele sente alguma coisa, eu já sabia que ele ia sentir isso, entendeu? Por exemplo, outra vez ele falou que ia fazer um gol pelo Racing. Ele falou: ‘vou fazer um gol’. Eu já sabia que ele ia fazer um gol. É incrível, mas é verdade. Eu sei o que ele vai fazer. Não sei se você vai acreditar, mas é assim. Gêmeo, né? Normal. Se Deus quiser, ele vai prever muita coisa para a gente”, brincou.

Se tem uma palavra que possa definir bem Romero é família. O pai abandonou a mãe quando ele e os irmãos ainda eram pequenos e, desde então, os laços ficaram cada dia mais fortes. Até hoje, Romero diz que tudo o que faz é por eles e admite que a ausência do pai ainda influencia sua trajetória.

“Acho que sim, porque minha mãe e minha avó lutaram muito para que eu seguisse em frente, elas sempre lutaram, trabalharam para que eu crescesse bem, com educação boa. Então sou muito agradecido a elas, sempre falo isso, agradeço tudo o que elas fizeram pela gente, para o meu irmão e para mim. Estou jogando para eles, só para eles. Eu gosto do futebol, é uma paixão que tenho, mas sempre vou falar que vou jogar por eles, para a minha família”.