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Roth diz que carrega rótulo injusto e questiona "cursos" feitos no exterior

Luiza Oliveira e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

03/03/2016 06h00

Celso Roth não está trabalhando desde o meio do ano passado quando deixou o Vasco na penúltima colocação do Campeonato Brasileiro. Desde então, observa o atual cenário do futebol nacional e não esconde o desejo de voltar a trabalhar em um grande centro como São Paulo. Mas, contra si próprio, ele considera que pesa um rótulo injusto que carrega por toda a carreira.

Roth reclama por ser visto, frequentemente, como um técnico durão e retranqueiro. Ele acredita que isso prejudica a sua imagem e até interfere nos convites que recebe para trabalhar.

“Este é o rótulo que a gente carrega, sem as pessoas me conhecerem, de um treinador durão, de um treinador firme, de um treinador que não prioriza o ataque e sim a defesa. Só que quando as equipes estão mal, todo mundo fala que tinha que se defender melhor, mas não se assumem como treinadores ou pessoas que também priorizam a defesa. Tem que priorizar as duas coisas porque faz parte do futebol defender como faz parte atacar. Então essa situação de estar ou não estar trabalhando, de ter recebido uma oportunidade em São Paulo ou há muito tempo não recebe uma oportunidade em São Paulo, é talvez por esta situação de rotular um profissional. As pessoas não conhecem o profissional, mas ficam ouvindo e falando e tal e tal”, disse ao UOL Esporte.

Na visão do treinador, as pessoas costumam fazer uma avaliação rasa sobre o seu trabalho. Não é levado em conta o título da Libertadores que ele conquistou com o Inter e a falta de estrutura e de investimento de Coritiba e Vasco. Roth comandou os dois times no Brasileirão de 2014 e 2015, respectivamente, mas não teve sucesso e deixou o cargo com ambos na zona do rebaixamento. O Vasco não conseguiu escapar e vai disputar a Série B em 2016.

“As equipes que eu tenho trabalhado são equipes que estão realmente numa situação muito difícil. (...) As equipes do Coritiba e do Vasco eu não consegui equilibrar, então pode ser que esteja por aí algum hiato que as pessoas podem falar. Mas esquecem que a gente teve o título da Libertadores pelo Internacional, que a gente vem trabalhando dentro de uma situação de equipes desequilibradas. Mas, infelizmente, isso não é muito relevante, o que é relevante é estar numa equipe fazer um trabalho e do trabalho seguir adiante”.

Roth também gosta de observar o atual cenário do futebol nacional e, especialmente, a nova onda de técnicos brasileiros fazerem intercâmbios fora do país com renomados comandantes estrangeiros. Roth apoia essa troca de informações, mas considera que a verdadeira formação educacional não pode ser banalizada. Na visão de Roth, curso de verdade é como o de treinadores profissionais em Coverciano, na Itália, que dura até dois anos e passa por vários estágios.

“Eu acho importante, só que nós temos que dar o nome diferente. Eu acho que não é curso, curso que eu saiba é em Coverciano, que é uma das faculdades de futebol na Itália, nós estamos falando de no mínimo de dois anos. O que os treinadores brasileiros fazem é essa troca de informações, vão à Europa conhecer o treinador tal, esse treinador recebe, fica dois, três, quatro, cinco dias, uma semana, 15 dias conversando com o treinador, vendo um determinado tipo de treino e aí roda a Europa toda. O que também é importante, eu não estou dizendo aqui que não seja, só que a gente não pode chamar de curso”.

Roth acredita que esse tipo de viagem virou moda depois do vexame da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014. Desde então, os técnicos brasileiros passaram a ser considerados desatualizados. Roth, no entanto, discorda e acredita que os profissionais tupiniquins fazem até milagre com o que têm em mãos.

“Eu já fiz muito isso, mesmo antes de vir a ser uma moda, porque se tornou moda depois da Copa do Mundo. Porque todo mundo fala que o treinador brasileiro está defasado, o que eu não concordo. Acho que o treinador brasileiro é um treinador de ponta, trabalha com a realidade que tem, com a qualidade técnica que tem na mão, tem que fazer milagre para ontem, diferentemente dos treinadores europeus que tem uma seleção em suas mãos e faz um campeonato lindo, maravilhoso porque é organizado”.