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Exclusivo: Gabriel Jesus revela "raiva" por boatos e se arrepia com música

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Dois gols contra o Joinville valeu música especial para o atacante
Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

13/04/2016 06h00

Gabriel Jesus tem sonhos como todo jovem de 19 anos. O maior deles é virar ídolo do Palmeiras. Para o atacante, a condição está ligada diretamente à quantidade de jogos pelo time alviverde e às conquistas, como Marcos, o último grande ídolo, conseguiu.

Os desejos a curto prazo e os já conquistados também ganharam destaque na entrevista concedida ao UOL Esporte. Os alcançados, como o de virar jogador profissional em um grande clube depois de jogar na várzea, foram trazidos à tona com uma satisfação escancarada no rosto de menino.

A maior revelação do Palmeiras nos últimos anos ainda fez um pedido à torcida: o craque palmeirense quer ouvir com mais frequência a música criada para ele, entoada pela primeira vez na vitória por 3 a 2 sobre o Joinville no passado. Segundo ele, a homenagem arrepia.

Gabriel Jesus não incluiu, por exemplo, a Europa no pacote de objetivos a curto prazo, apesar de se mostrar satisfeito com a ideia e ter ficado com "raiva" dos boatos de que o elenco palmeirense estava rachado. O atleta ainda falou sobre os desejos deixados para trás devido à carreira de jogador de futebol.

Ele admite sentir falta de hambúrguer e lamenta não ter aproveitado mais a juventude, seja nos passeios pelos shopping com garotas ou nas conversas em rodinhas de amigos no bairro onde morava antes de ser famoso.

UOL Esporte: Você foi campeão pelo Palmeiras como titular aos 18 anos. E é apontado como a maior promessa dos últimos 12 anos. Você já se considera um ídolo do clube?

Gabriel Jesus: Não me considero, porque para se tornar um ídolo aqui no Palmeiras tem de permanecer aqui muito tempo. Apesar de eu vir da base, tenho de ficar bastante tempo e ganhar muitos títulos, como foi o Marcos. Eu trabalho para isso, gostaria de me tornar um ídolo aqui pela paixão que tenho pelo Palmeiras. Para mim seria gratificante. 

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Gabriel Jesus joga com a camisa 12 de Marcos na Libertadores
Imagem: Agustin Marcarian/AP Photo

Pretende, então, ficar mais alguns anos no Brasil?
A gente que vem da base sonha com muitas coisas. Primeiro em chegar (ao time profissional). Eu tive a felicidade de chegar e estou conquistando meu espaço, fazendo meu nome. Estou ajudando meus companheiros assim como eles me ajudam. Para mim é importante (ficar no clube).
 
Você pensa na Europa? 
Isso está fora de questão. Eu estou no Palmeiras. Não penso em sair agora, quem sabe um dia eu tenha a oportunidade de jogar lá. Eu ficarei feliz.
 
Você já passou por uma situação que pensou "virei um destaque do time"?
Não me vejo assim. É lógico que quando você marca gols, você se torna importante, mas não me vejo como estrela do time. Me vejo com parte do grupo. Se a gente jogar pensando no coletivo, o individual vai aparecer como tem aparecido. 
 
Te dá uma sensação especial ouvir a música "Glória, Glória, Aleluia, é Gabriel Jesus"? Quando ouviu isso ficou pensando o quê? 
Fiquei bastante feliz, não é. Cheguei a arrepiar, foi contra o Joinville, quando eu marquei dois gols no jogo, o gol da vitória. Fiquei feliz e não sabia nem o que fazer: se prestava atenção no jogo ou se olhava a torcida. Ela tem um carinho muito grande por mim. Eu pretendo retribuir com gols e vitórias.
 
Gostaria de ouvir mais esse grito?
É legal quando eles cantam, assim como cantam com o Prass, o Dudu, o Gabriel, para todos que têm alguma música. Se fosse para pedir alguma coisa, é lógico que pediria para eles cantarem, mas apoiando é o mais importante.
 
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Gabriel Jesus já marcou oito gols na temporada 2016, quatro só na Libertadores
Imagem: Cesar Greco/Ag Palmeiras
 
Acha que os adversários têm pegado pesado com você? Você tem recebido muitas faltas e é alvo de provocações.
Eu vinha me controlando, vinha calmo, melhorei bastante em relação a isso. Eu não vinha me exaltando e às vezes só reclamava com o juiz. Coloquei na minha cabeça que ia parar, que ia jogar meu jogo, estava controlando isso. Mas infelizmente tive essa falha, fui expulso quando a equipe precisava e estava sendo eliminada da competição. Estavam me batendo fora dos lances e perdi a cabeça. Não pode, estou trabalhando para não acontecer mais.
 
Nos outros campeonatos isso não acontece?
Não tem agressões fora de jogada, não tem deslealdade. Time sul-americano é difícil, ainda mais argentino e uruguaio. Eles batem e provocam bastante. Às vezes vejo como deslealdade dependendo do lance, assim como foi quando fui expulso. Mas eu não poderia ter revidado.
 
Qual a crítica que se faz ao time que mais te irrita, deixa o elenco indignado?
Eu acho normal. Para jogar no Palmeiras tem de saber lidar com tudo. Se a gente fica feliz com elogios, tem de saber lidar com as críticas. Tiveram algumas que me deixaram desconfortável. Eu não estava aqui quando aconteceu. Foi a do grupo rachado. A gente sabe que isso não existe, ainda mais com as pessoas que foram citadas. O Prass, Robinho e Zé (Roberto). Se pegar a carreira deles, nunca teve isso. Isso me deixou com bastante raiva porque não existe. A gente se fechou mais e isso nos deu força. Estamos embalando e tomara que continue assim.
 
Você falou na zona mista uma vez que odeia comer salada e sente falta de hambúrguer. Como você lida com isso?
Ah, cara, prefiro (hambúrguer), mas tenho de me cuidar. É preciso tirar algumas coisas e colocar outras. É difícil. Agora sou novo, mas tenho de pensar no futuro. Agora eu aguento, mas vamos ver até onde eu aguento. Estou trabalhando nisso, estou me alimentando bem melhor. Eu voltei da seleção (olímpica) com o Matheus Sales. Eu até brinquei com ele e falei: 'caramba, fiquei uma semana comendo só salada". Isso me ajuda, eu sei. Dá força e intensidade para jogar. Preciso me alimentar bem para treinar bem. 
 
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Imagem: Cesar Greco/Ag Palmeiras
 
Sua mãe ajuda a te vigiar nesse sentido?
Sim, hoje (terça-feira) ela acordou assustada perguntando que horas eram e se eu ia comer antes de vir para o treino. Eu falei para ela que estava tudo bem. É uma preocupação boa.
 
Você tem muitos amigos que não vingaram no futebol? 
Alguns ainda tentam, outros desistiram, por dificuldade ou necessidade. É complicado. Se hoje eu tivesse um filho, daria um conselho para ele: para ele deixar escolher, porque é difícil vida de jogador. Ela te dá muitas coisas boas, como a parte financeira, uma segurança para a família, para si mesmo. É muito bom. Mas ela te tira muitas coisas também. Várias coisas que eu gostava de fazer hoje eu não posso, não faço muito. É difícil, por isso eu daria esse conselho a ele. 

Você ainda fala com os colegas que não vingaram?
Sim, com a maioria, tenho muitos amigos que jogam bola. Como eu disse, é difícil. É preciso fazer de tudo. Enquanto muitos estavam pegando menina, eu estava jogando bola. Eles iam ao shopping e eu estava jogando bola. Ralei muito, cheguei a atravessar mato com nove anos para jogar bola.

Onde foi isso?
Foi no Pequeninos do Meio-ambiente, onde eu jogava no Tremenbé. Eu ia com alguns amigos meus jogar bola lá. 
 
O que te faz seguir em frente?
O futebol é apaixonante, eu não comecei a gostar de futebol depois que comecei a jogar no Palmeiras. Comecei desde que estava na barriga da minha mãe. Eu cresci olhando futebol. Eu lembro quando eu era um cara que jogava na várzea e imaginava marcando gols por um grande clube, me imaginava comemorando gols. Eu fico feliz em ter realizado esse sonho aqui no Palmeiras, um clube que tenho um carinho enorme.
 
Já imaginou o time disputando o Mundial pelo Palmeiras? 
Quem falar que não tem vontade está mentindo. É uma conquista muito grande chegar lá. É importante e deixa marcado. Já pensei nisso. Se Deus quiser, será esse ano ainda.
 
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Atacante soma 15 gols em 54 partidas com a camisa do Palmeiras
Imagem: Cesar Greco/Ag Palmeiras
 
Como é a relação dos torcedores rivais com você?
É difícil eu encontrar um torcedor que não gosta de mim, pela minha humildade. Encontro muitos torcedores do Corinthians, do São Paulo, do Santos. Eles vêm, tiram foto, cumprimentam. Quando volto onde eu morava, muitos falam comigo e torcem para o time deles. Mas torcem por mim, isso que é mais gratificante. No último jogo contra o Corinthians, alguns falaram que ia ser 3 a 2 para o Corinthians com dois gols meus. Eu falei: 'não, vai ser 3 a 2 para a gente, com um gol meu'. Isso é brincadeira. E o fato de eu defender a seleção também ajuda. Isso acontece com as crianças. Eu acho muito bacana, gosto de criança. De vez em quando vem até uma garotada da minha idade. É muito legal.
 
Como é o Gabriel com a família? 
Eu fico pouco tempo com eles, é complicado isso. Às vezes chego de viagem e tenho de concentrar de novo. É difícil, mas é assim. Ontem (domingo) assisti ao jogo em casa (contra o Mogi) e estava louco para jogar. Ficarei fora na quinta também (diante do River Plate-URU). Pelo outro lado pude ficar perto deles, vou ficar nesses próximos dias também. A relação é boa, damos bastante risada (nesse momento o lateral Egídio parou ao lado de Gabriel para brincar com o atacante).
 
Vai ver em casa o jogo da Libertadores?
Não, vou para o estádio incentivar meus companheiros, acho que é importante. 
 
Gosta da marcação cerrada da sua família, principalmente da sua mãe? 
Ela fica bem em cima. Ela marca mesmo. Até brinco que ela marca mais que zagueiro. Mas é bom. Se ela não fosse desse jeito, eu não seria assim como pessoa.
 
 
Qual é a primeira lembrança de futebol? 
Eu acompanhava todos os times. Não tenho uma lembrança específica. Vi vídeos da seleção de 2002. Em 2006 eu lembro. Infelizmente perdemos. Tínhamos um time do caramba e não conseguimos ganhar. Em 2010 eu lembro mais ainda. Eu lembro bastante.
 
Qual é seu maior ídolo no futebol? 
Eu gosto bastante do Ronaldinho e do Ronaldo. Eu tive a oportunidade de conhecê-los depois. São pessoas incríveis. Passei a ter uma admiração maior. 
 
Qual a maior homenagem que você recebeu de alguém? 
Foi a música que a torcia cantou. Foi o que ficou mais marcado. Vou falar isso para os meus filhos. O jogo contra o Joinville é um dos que mais eu lembro. Fiz outros bons jogos também.
 
Você gosta de ser famoso? Qual a pior coisa de ser famoso?
Tem o lado bom e o ruim. O lado bom é o carinho que as pessoas têm por você. Eles vêm para tirar foto, abraçar. Esses dias recebi um abraço de uma menininha pequenininha, super forte, ela não queria me largar. Eu fico bem feliz, ainda mais porque gosto de criança. Fico contente por ser famoso. A parte ruim é de não poder fazer tudo que quero, ir ao shopping, de voltar onde eu morava, de ficar na rua com os amigos na rodinha. Era legal e hoje fica mais difícil.