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Cafu diz que drible dado em Nedved que virou meme é histórico no futebol

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

07/05/2016 06h00

Pentacampeão mundial, recordista de jogos pela seleção brasileira (149) e com quatro Copas do Mundo no currículo (1994, 1998, 2002 e 2006), Marcos Evangelista de Morais, o Cafu, continua respirando futebol, mesmo após pendurar as chuteiras. De personalidade forte, o ex-lateral de São Paulo, Palmeiras, Roma e Milan não fica em cima do muro ao dar opiniões sobre todos os assuntos relacionados ao esporte.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Cafu falou sobre o histórico chapéu triplo em Pavel Nedved, analisou a seleção brasileira e dependência de Neymar, relembrou a dificuldade que enfrentou no começo da carreira ao encarar nove peneiras e criticou o Coronel Nunes, atual vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Confira:

Drible em Nedved

“Ele era [meu amigo] né, não sei depois desse lance aí [risos]”.

“Até o primeiro chapéu eu pensava [em dar], até pelo jeito que a bola estava e pela velocidade, então quando a bola veio para mim, que ela já veio na minha perna direita, quicando, eu já sabia que quando ele virasse não ia ter tempo de reação, e eu já dei o primeiro chapéu. Quando ele girou, a bola quicou mais perfeitamente, então rapidamente eu dei o segundo, e quando ele virou eu falei: ‘ah, vou dar o terceiro’. No quarto eu só não dei porque o Simeone acabou fazendo a falta, senão eu daria. Foi uma jogada extremamente técnica e com velocidade. Coisa incrível a velocidade com que eu fiz aquele três chapéus no Nedved. Acho que foi uma das jogadas mais bonitas que eu fiz e que o futebol pôde ver até hoje”.

“Depois é gozação para quem toma o drible e glória pra quem deu o drible, porque era um dérbi, Roma e Lazio, o bicho pega lá, e o Nedved era um dos melhores jogadores da Lazio naquele período, o cara que vinha se destacando... Então eu fiquei muito feliz de ter participado de uma jogada que ficou marcada para vida inteira”.

“Se fosse o Simeone eu ia logo tomar uma cotovelada, já nem ia dar tempo de dar o segundo [risos]”.

Seleção brasileira e Neymar capitão

“Falta um pouco mais de conjunto para a seleção brasileira e um pouco mais de bons resultados, principalmente resultados fora de casa. Quando o Brasil conseguir isso nós não vamos estar aqui falando se falta liderança, se não falta liderança, se falta um capitão, se não falta um capitão, estaremos falando que a seleção brasileira encontrou o seu caminho”.

“O Neymar virou hoje uma peça fundamental para a seleção brasileira. Tecnicamente não tem o que falar, mas como capitão da seleção brasileira é claro que precisa de algo mais. Como eu falei para vocês: deixar o Neymar livre só para jogar futebol, porque às vezes nós estávamos cobrando muita coisa do Neymar até no fato de ser capitão, esquecendo que o Neymar só tinha que jogar futebol. Então, quando eu falei que era para poupar o Neymar da faixa de capitão era para que o Neymar se preocupasse só em jogar futebol, não se preocupasse com o treinador, não se preocupasse com a imprensa, não se preocupasse com a torcida, não se preocupasse com o adversário. O que tem que fazer? Tirar toda a responsabilidade em torno do Neymar e dar a única responsabilidade para ele, qual é? Jogar futebol. Discutir com o treinador, discutir com jornalistas, discutir com jogadores, separar briga, não é o perfil do Neymar”.

“Na nossa época as responsabilidades eram divididas, na nossa época a responsabilidade era do Rivaldo, do Ronaldo, do Kaká, do Ronaldinho, do Cafu, do Robertos Carlos, do Marcão, do Roque Junior, do Lúcio, olha só quanta gente eu falei que podia assumir uma responsabilidade de seleção brasileira. Hoje quem tem para assumir a responsabilidade da seleção brasileira? Neymar. É muito pouco, é muito pouco jogar uma responsabilidade de uma seleção ou de uma nação em cima de um único jogador”.

9 peneiras reprovado

“Foram nove peneiras. Foram várias, no São Paulo, no Corinthians, no Palmeiras, na Portuguesa, no Atlético-MG... Enfim, fiz peneiras nestes clubes todos aí, no Nacional da Comendador de Souza e aí depois eu fui parar no Itaquaquecetuba”.

“Meu pai foi quem mais me incentivou, não tem outra pessoa. Minha família em geral, mas o meu pai foi o meu maior motivador, porque todas as vezes que eu chegava em casa triste o meu pai falava: ‘não meu filho, levanta a cabeça, vamos lá que a próxima você vai conseguir, vamos lá que são barreiras que estão colocando na sua vida e você pode superar’. Todas as vezes que eu chegava em casa cabisbaixo estava o meu pai me dando uma força, falando: ‘todo mundo fala que você é bom, que você é um grande jogador, não deixa o seu sonho para trás não, corre atrás dele que eu tenho certeza que um dia você vai conseguir’. Então além da superação, da força de vontade, daquilo que eu queria fazer, que era jogar futebol, tive sempre apoio dos meus familiares e principalmente do meu pai”.

“Vi, várias delas [pessoas que o reprovaram], algumas até tiveram a cara de pau de falar que fizeram aquilo para o meu bem. ‘Não, eu te mandei embora para o seu bem, para você crescer’. E eu: ‘Poxa, obrigado, Deus abençoe você, continue a sua jornada’. Eu nunca fui de guardar mágoa de ninguém, o sentimento de mágoa é um sentimento ruim, é um sentimento que te deixa para baixo. Então eu encarava todo mundo de cabeça erguida. ‘Cheguei aonde eu cheguei por mérito do meu trabalho, não por mérito do que você fez’, então ninguém podia bater nas minhas costas e falar: ‘ó, fui eu que te ajudei’. Não, trabalho, dedicação e superação fizeram com que eu chegasse aonde eu cheguei”.

Coronel Nunes na CBF

“Dá impressão que realmente ele não sabe onde está. Isso é um absurdo para o futebol brasileiro, o futebol brasileiro é muito grande, o futebol brasileiro é glorioso, não é à toa que somos a única seleção pentacampeã do mundo. Acho que nós tínhamos que ter pessoas que realmente entendessem de futebol ou que quisessem entender de futebol ou que discutisse futebol; pessoas que sentam na mesa com outras pessoas e discutem o futuro do futebol. O órgão CBF já diz tudo, Confederação Brasileira de Futebol, aquele órgão serve para que nós possamos discutir as melhorias do nosso futebol. Para nós é doído, dói  fazer críticas à CBF. Eu não vou fazer críticas à CBF, mas eu quero que a CBF seja o órgão realmente apoiador do futebol, onde nós chegássemos com ideias e a CBF falasse: ‘poxa, realmente as ideias são legais’. Quando você leva uma ideia para a CBF, você não leva uma ideia para querer derrubar a CBF, você não leva uma ideia que não vai ser boa ou para o clube ou para os jogadores ou para o futebol brasileiro, todas as ideias que nós tentamos levar hoje são ideias para que a gente possa mudar alguma coisa. Algo benéfico, de bom para o futebol brasileiro. Eu não vou falar de corrupção, não vou falar de polícia, não vou falar de processo, isso não é o meu departamento, isso não me interessa. O que me interessa é o bem estar do futebol e que nós queremos que a CBF faça isso, lute e pleiteie para o bem estar do futebol brasileiro”.

“A gente espera que estes que entram vejam o que está acontecendo e não cometam os mesmos erros  que estas outras pessoas fizeram. Volto a falar: a instituição CBF, Confederação Brasileira de Futebol, é muito maior do que qualquer tipo de escândalo”.