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Virada histórica do Palmeiras em 99 teve choro de menino e 3 gols em 10 min

Zinho comemora a dramática vitória do Palmeiras sobre o Flamengo na Copa do Brasil de 1999 - Arquivo/Folha Imagem - Arquivo/Folha Imagem
Zinho comemora a dramática vitória do Palmeiras sobre o Flamengo
Imagem: Arquivo/Folha Imagem

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

21/05/2016 06h01

1999 certamente é um ano para palmeirense nenhum esquecer. Foi quando veio o tão sonhado título da Libertadores, o primeiro de sua história, conquistado com direito a vitória nos pênaltis sobre o rival Corinthians nas quartas de final. Mas deixando de lado a competição sul-americana, uma partida em especial ficou marcada para sempre na memória dos torcedores alviverdes, no que até é chamado por alguns como ‘o jogo mais emocionante da história’ do Palmeiras: 4 a 2 sobre o Flamengo, na volta das quartas de final da Copa do Brasil.

Foi há exatos 17 anos, no dia 21 de maio de 1999. O Palmeiras fazia um ótimo início de temporada e ainda estava vivo nas três competições que disputava: Libertadores, Campeonato Paulista e Copa do Brasil. Entrou em campo diante do Flamengo apenas dois dias depois de perder (por 1 a 0) o jogo de ida da semifinal da Libertadores, contra o River Plate, em Buenos Aires. Na primeira partida do torneio nacional, no Maracanã, levou gols de Romário e Caio Ribeiro e perdeu de 2 a 1. Mas a virada no Parque Antártica viria de forma inacreditável.

“Foi um jogo realmente muito emocionante. Eu me lembro do Parque Antártica lotado, a euforia dos torcedores, foi marcante. Antes do jogo a nossa preparação foi toda voltada que a gente ia se classificar, ia superar... O nosso time era bom, e ainda jogando dentro do Parque Antártica, virou um caldeirão”, recorda o meia Zinho em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Fla complica ainda mais missão alviverde

Já com a vantagem do jogo de ida na somatória, o Flamengo complicou ainda mais a vida do Palmeiras e, com menos de um minuto de jogo, abriu o placar. Rodrigo Mendes aproveitou uma falha de Roque Júnior – que afastou mal a bola – e finalizou no canto direito do goleiro Marcos. 1 a 0. Era tudo que o time carioca queria. “Foi um jogo muito especial apesar da derrota, que ficou bem marcante mesmo. A gente tinha sido campeão carioca e estávamos super bem, com um time jovem, e eu lembro que naquele jogo eu não ia começar jogando. O Iranildo sentiu uma lesão e o Carlinhos, treinador, me colocou, e eu falei: ‘agora é o meu momento’. Eu tinha feito o gol do título carioca de 99 e falei: ‘estou escalado, então tenho que jogar bem’, lembra Rodrigo Mendes em conversa com o UOL Esporte.

Rodrigo Mendes, ex-jogador do Flamengo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rodrigo Mendes marcou dois gols no jogo e quase estragou a festa palmeirense
Imagem: Arquivo pessoal

“É claro que o Palmeiras tinha uma seleção, mas a gente estava com a vantagem e, com 55 segundos de jogo, em uma bobeira dentro da área do Palmeiras, a bola sobrou para mim e fiz de perna direita. Aí a gente poderia perder por dois gols de diferença”, reforça o flamenguista.

Depois de um primeiro tempo sem mais gols, Oséas aproveitou cruzamento de Júnior, completou para as redes aos 12min da etapa final e recolocou o Palmeiras na briga. Mas apenas dois minutos depois, Rodrigo Mendes, mais uma vez, voltou a calar a torcida alviverde, agora com um golaço de falta. “Eu fiz o segundo gol, 2 a 1 para gente. Nada poderia ser tão favorável para gente no que estava acontecendo”, acrescenta o flamenguista.

Palmeiras inicia reação e Euller vira herói

A essa altura, o Palmeiras precisava de três gols para se classificar, em pouco mais de 30 minutos de jogo. Mas a resposta alviverde ao segundo gol do time carioca veio quase que imediatamente. No lance seguinte do gol de Rodrigo Mendes, Júnior arriscou de fora da área e fez 2 a 2, aos 15min do segundo tempo. Faltavam mais dois gols, que saíram da forma mais emocionante possível dos pés (ou melhor, da cabeça) de Euller, que havia entrado no lugar de Arce. E o pequeno atacante (1,71 m) saiu do banco para fazer história, primeiro aos 41min.

“Foi um jogo marcante para mim porque eu estava voltando de uma contusão, recuperando-me de uma lesão grave no joelho, e tive a oportunidade de entrar e fazer história. Foi realmente algo impressionante. Para mim foi um dos jogos mais emocionantes que participei, sem dúvida nenhuma, até por eu ter sido o protagonista e ter feito os dois gols. Com minha altura você poder definir uma partida daquela forma, com dois gols de cabeça, é realmente um milagre”, conta o ‘Filho Vento’, apelido que ganhou por conta da sua velocidade.

A velocidade de Euller, porém, nem foi necessária nos gols, que saíram de escanteios cobrados por Júnior, da esquerda. Primeiro, aos 41min, Oséas cabeceou da marca do pênalti e a bola encontrou Euller, que precisou finalizar duas vezes de cabeça até encontrar as redes. 3 a 2.

“Eu lembro que o Euller entrou no jogo no lugar do Arce. E ele foi decisivo. O Euller era aquele amuleto que o Felipão tinha, um reserva titular. A gente tinha a necessidade de fazer dois gols, 40 minutos do segundo tempo, e muita gente falava: ‘já foi’, ‘já deu’”, recorda Zinho.

A virada já tinha vindo, mas o Palmeiras ainda precisava de mais um gol para avançar às semifinais da Copa do Brasil. E ele veio exatamente no próximo ataque alviverde, logo após a saída do meio-campo do Flamengo após o terceiro gol sofrido. Em mais um escanteio cobrado Júnior, a bola encontrou Evair na segunda trave. O ‘Matador’ tentou de cabeça, depois com a perna esquerda, e conseguiu mandar a bola para a pequena área. Oséas dividiu com o zagueiro e, na sequência, Euller saltou para o lado esquerdo e, novamente de cabeça, conseguiu mandar para as redes para deixar o Parque Antártica completamente em festa.

“A única coisa que o Felipão falou para mim antes de eu entrar foi: entra e vai fazer o gol, eu preciso que você faça gol, só isso [risos]. Entra e resolva o problema, e, de fato, porque aquele era o momento que não tinha mais tática, era a técnica, a vontade e a garra”, diz Euller. “A gente foi na base da emoção, da vontade, mas sabendo que não era tão fácil, claro... Não é normal isso acontecer no futebol, e por isso que é um jogo marcante”, acrescenta Zinho.

Polêmica no gol salvador?

O gol de Euller que deu a classificação ao Palmeiras contou com protestos por parte do time do Flamengo, que reclamou de falta no goleiro Clemer e de um suposto impedimento de Oséas no lance. “Foi nítida a falta no Clemer, do próprio Euller, e teve o impedimento do Oséas”, defende Rodrigo Mendes, que por sua vez é ‘contrariado’ pelo próprio autor do gol.

“Houve muita reclamação do Flamengo. O Clemer reclamou que tinha sido falta nele, mas não tinha jeito, tinham 22 jogadores dentro da área e era impossível não encostar nele, seria impossível. Talvez o que poderia se reclamar era o impedimento do Oséas porque, como o Clemer saiu, ficou somente um jogador atrás, mas era muito difícil em uma jogada de escanteio precisar impedimento com 22 jogadores dentro da área. De fato eu encostei no Clemer, mas não tinha como não encostar, era impossível”, analisou o ‘Filho do Vento’.

Pimentel quase estraga a festa

Os torcedores palmeirenses ainda comemoravam o quarto gol quando Pimentel, após um cruzamento de Rodrigo Mendes que atravessou toda área, teve a chance de colocar o Fla na semifinal. A bola, porém, foi caprichosamente na trave, para desespero dos rubro-negros.

“E o pior de tudo isso é que, depois dos 4 a 2, eu lanço uma bola para a direita e o Pimentel estava livre. Quando aconteceu isso eu pensei: ‘voltamos para o jogo, e aí acaba’, Mas a bola não entrou, bateu na trave. Mas infelizmente não deu, este realmente foi um dos jogos mais emocionantes que eu poderia ter me saído muito bem e que não aconteceu”, lamenta Rodrigo Mendes, que ainda contou sobre o triste clima no vestiário do Flamengo após a derrota.

"A gente falhou muito também no final, não podíamos tomar três gols em dez minutos, é um absurdo" (Rodrigo Mendes, ex-jogador do Flamengo)

“Ah, desilusão total. Uma oportunidade que estava tanto a nosso favor... É claro que o time do Palmeiras tinha todo mérito também, tinha um time muito qualificado. É entender que é do jogo e que a gente falhou muito também no final, não podíamos tomar três gols em dez minutos, é um absurdo”, completa o meio-campista que encerrou a carreira em 2011 (no Novo Hamburgo) e atualmente, além de estudar para em breve ser técnico, administra empresas e possui um centro de treinamento na cidade de Uberaba, em Minas Gerais.

Virada e choro de menino viram motivação

A histórica virada sobre o Flamengo deu ainda mais ânimo ao Palmeiras, que menos de um mês depois (16 de junho) conquistaria o inédito título da Libertadores. “Este jogo trouxe mais confiança para gente na sequência do ano, onde conquistamos a Libertadores”, opina Zinho.

Além do jogo em si, a imagem que ficou famosa de um menino chorando nas arquibancadas do Palestra Itália foi outro estímulo entre os jogadores para a conquista do título.

“Uma coisa marcante foi o menino Enzo na arquibancada, chorando, tanto que virou um vídeo motivacional. Daí para frente a gente fazia o aquecimento para os jogos da Libertadores e do Paulista – e até da Copa do Brasil – e dentro do vestiário era passado este vídeo, com o hino do Palmeiras durante o aquecimento. Então foi muito importante este jogo, o vídeo motivacional... Passavam os gols, os lances, e a figura do menino Enzo chorando, a torcida acreditando até o fim”, completa Euller.