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Blatter e dirigentes desviaram R$ 286 milhões da Fifa, apontam documentos

Valcke e Blatter tiveram bônus milionários nos salários; Justiças suíça e dos EUA investigam Fifa - AFP PHOTO/TASSO MARCELO
Valcke e Blatter tiveram bônus milionários nos salários; Justiças suíça e dos EUA investigam Fifa Imagem: AFP PHOTO/TASSO MARCELO

Do UOL, em São Paulo

03/06/2016 10h30Atualizada em 03/06/2016 13h20

A Justiça da Suíça fez buscas no escritório da Fifa em Zurique. A operação, realizada na quinta-feira e divulgada nesta sexta (03), foi acompanhada pela atual gestão da entidade, que acusa o ex-presidente Joseph Blatter de tramar esquema em que teria repartido 79 milhões de francos suíços (R$ 286 milhões) em cinco anos com Jerome Valcke e Markus Kattne, ex-secretários-geral da Fifa.

O esquema, descoberto em documentos e detalhado pela Fifa em seu site oficial nesta sexta, foi desenvolvido da seguinte forma: Blatter promoveu aumento do próprio salário e dos ex-secretários-geral da Fifa, incluindo uma série de bonificações. As premiações foram feitas sem aprovação do colegiado da Fifa e representaram R$ 286 milhões, que seriam pagos de 2011 a 2015, envolvendo Blatter e também Valcke e Kattner.

“As evidências parecem revelar um esforço coordenado de três funcionários que eram do alto escalão da Fifa no sentido de enriquecerem com salários, bônus ligados a Copas do Mundo e outros incentivos que totalizaram US$ 80 milhões”, informa o promotor do caso, Bill Burck.

A operação da Justiça no escritório da Fifa recolheu documentos, computadores e outros materiais que possam contribuir para investigação de corrupção ativa na gestão Joseph Blatter. 

Promotores suíços e americanos estão conduzindo uma série de investigações sobre acusações de corrupção no futebol, como as escolhas das sedes das Copas de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar), além de prêmios para dirigentes pelas confirmações das Copas de 2010, na África do Sul, e de 2014, no Brasil. 

Em nota oficial, a Fifa afirma ter colaborado para investigar os atos da gestão Blatter (confira abaixo).

Em junho do ano passado, o ex-assessor de Blatter na Fifa, Guido Tognoni, acusou Qatar e Rússia de “terem comprado” as Copas. Topgnoni declarou que existem série de evidências da compra e que tal prática era comum na Fifa.

Rússia e Qatar negaram qualquer delito na condução de suas campanhas. No caso do Qatar, houve alguma surpresa com a concessão da sede do Mundial a um pequeno país desértico sem tradição futebolística e onde as temperaturas durante o dia no verão podem ultrapassar os 40 graus Celsius.

O advogado de Blatter, Richard Cullen, soltou um comunicado em que nega que os pagamentos ao ex-presidente da Fifa citados no documento sejam irregulares: "Nós esperamos mostrar a Fifa que os pagamentos de compensação para Blatter foram apropriados, justos e em linha com os chefes das principais ligas profissionais de esporte pelo mundo".

Confira trechos do comunicado da Fifa acusando gestão Blatter de corrupção

- Foram feitas várias alterações contratuais para impulsionar pagamentos. De acordo com os dados encontrados, fica claro que não é apenas um contrato para cada funcionário. Há várias alterações nos contratos, muitas delas aprovadas [por Blatter].

- Vários contratos eram frequentemente celebrados por Blatter, Valcke e Kattner no mesmo dia.

Alguns exemplos:

· 30 de abril de 2011: Pouco antes da eleição presidencial de 2011, no final de maio do mesmo ano, em que o Blatter estava correndo contra Mohammed Bin Hamman, quando era incerta a reeleição de Blatter, tanto o Sr. Valcke quanto o Sr. Kattner ganharam prorrogações de 8,5 anos, até 2019, com grandes aumentos em seu salário-base e bônus. Sr. Valcke e Sr. Kattner também ganharam generosas indenizações que lhes garantia o pagamento integral - até 17,5 milhões francos suíços e 9,8 milhões francos suíços, respectivamente.

· 01 de dezembro de 2010: Blatter, Valcke e Kattner receberam 23 milhões de francos suíços em bônus especiais para a escolha da África do Sul como sede da Copa de 2010. Estes prêmios foram retroativos - quatro meses após a conclusão da Copa do Mundo, mesmo sem uma cláusula contratual subjacente estipulando tais bônus.

No que diz respeito a outros pagamentos de bônus ostensivamente ligadas a Copas do Mundo, vale destacar que em outubro de 2011, o Sr. Valcke e Sr. Kattner foram premiados com 14 milhões de fracos suíços em bônus para a Copa do Mundo 2014 no Brasil. E em junho de 2014, são elegíveis para um combinado de 15,5 milhões de francos suíços em bônus para a Copa do Mundo de 2018 da Fifa na Rússia.

 

- Três dias depois de reeleito, em 27 de maio de 2015, e após operação policial que deteve dirigentes em hotel na Suíça, o recém reeleito Blatter estendeu o contrato de Kattner por mais quatro anos. O vínculo, que tinha término em 2019, foi ampliado até 2023. Isso garantiu que a Kattner mais oito anos de salários no valor de até 9 milhões francos suíços. Curiosamente, este contrato ainda incluía cláusulas de rescisão.