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Por que Tite impôs fórmula corintiana e Edu para estancar crise na seleção

Edu Gaspar sorri ao lado de Tite, que solicitou sua contratação para a CBF - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Edu Gaspar sorri ao lado de Tite, que solicitou sua contratação para a CBF Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

17/06/2016 07h38

A volta de Dunga à seleção brasileira não foi fracasso apenas pelos resultados. A fórmula de trabalho, a interação com os jogadores, a gestão de Neymar e a tomada de decisões foram pontos que deram errado e se refletiram no que aconteceu dentro de campo. Por tudo isso, todas as fichas foram reservadas para Tite, que leva à CBF um formato que funcionou no Corinthians. 

A solicitação em ter Edu Gaspar como chefe direto foi uma decisão chave de Tite e, segundo pessoas próximas a Marco Polo Del Nero, bem aceita pela CBF. O cargo do antigo gerente de futebol do Corinthians ainda não tem nome e detalhes definidos, mas o treinador vê em Edu um elo indispensável. 

Em praticamente cinco anos à frente do Corinthians, Edu Gaspar levou solicitações do treinador à diretoria e vice-versa, do treinador aos jogadores, e vice-versa. Embora criticado por certa cautela no que diz respeito ao mercado, a habilidade nesse tipo de interação foi uma virtude na passagem pelo Corinthians. O período como jogador de Arsenal-ING, Valencia-ESP, seleção e do próprio clube assegurou colegas de Parque São Jorge e ajudou no respeito perante os atletas.

Pouco participativo com Mano Menezes em 2014, Edu Gaspar sempre teve papel diferente nos períodos ao lado de Tite. Filtrou destemperos de empresários, como Fernando Garcia, o mais poderoso do Corinthians, que reclamava de ter seus clientes no banco de reservas. Quando a direção contestava alguma escolha do treinador, sobretudo o ex-presidente Andrés Sanchez, era ele que filtrava as informações. Em um ambiente como a CBF, visto por Tite como inseguro, a presença desse profissional se tornou indispensável. 

A comissão técnica pode até decidir por Tite

No sistema de trabalho estabelecido pelo treinador como ideal, a comissão técnica ganha importância extra. Tite gosta de dividir o protagonismo, a ponto de tomar decisões importantes, como a escalação de um atleta, em parceria com um médico ou fisiologista, por exemplo. Ou de discutir a melhor estratégia ou delegar um treinamento para seus auxiliares, em especial Cléber Xavier, com quem trabalha há 16 anos. Ninguém tem mais confiança do técnico que ele, responsável por dividir o desenho do time, a ideia de jogo e a abordagem da equipe. 

Nessa linha de delegar, Tite várias vezes recorreu ao expediente de levar um preparador físico, auxiliar ou fisioterapeuta para uma entrevista coletiva ao seu lado. Se percebe que o momento é de se abster, o treinador até mesmo pode deixar de falar à imprensa para dar voz a um colega de comissão. No Corinthians, esse tipo de decisão sempre foi tomada com o aval de Edu Gaspar. Com a confiança como um ponto-chave nesse processo, logo, Tite não poderia abrir mão de ter todo seu estafe na CBF. 

Nos últimos meses de Corinthians, a presença do filho Matheus Bacchi também cresceu de importância a ponto de mantê-lo ao lado também na seleção brasileira. Com trajetória de jogador na base, estudos nos Estados Unidos, estágios no Barcelona e no Shakhtar-UCR, além de passagens como auxiliar no Caxias-RS, Matheus se tornou um auxiliar muito próximo dos atletas. Não apenas para fornecer instruções, mas também para ouvir e dar conselhos. 

Embora não anunciados na comissão técnica fixa, mais quatro nomes devem ter importância indispensável se convocados por Tite para os compromissos da seleção, o que é provável. 

Fábio Mahseredjian: preparador físico compartilhado com a seleção na era Dunga, fatalmente será mantido. É um dos profissionais mais enérgicos e disciplinadores da comissão técnica de Tite. Toma decisões importantes sobre horários, cargas e tipos de treinamentos. O técnico tem em Fábio um elemento imprescindível.  

Bruno Mazziotti: fisioterapeuta da seleção olímpica, deixou a China após um semestre, mas se notabilizou a partir do Corinthians. Coordena um trabalho considerado chave para prevenir lesões e identificar problemas físicos nos atletas, o que ajudou a recuperar Ronaldo, Alexandre Pato, Paulo André e Renato Augusto. 

Fernando Lázaro: chefe do departamento de análise de desempenho do Corinthians, função que acumulou com Dunga na seleção, o filho do ex-lateral Zé Maria virou também auxiliar corintiano. É o profissional que coordena o mapeamento dos adversários e filtra o material que será distribuído a Tite, Cléber Xavier e aos atletas, sempre com discrição. 

Mauri Lima: embora seja um veterano, o preparador de goleiros corintiano é destacado pela busca por novos métodos de treino e por ter feito nomes como Cássio, Walter e Danilo Fernandes, entre outros, evoluírem, jogarem com os pés e, se necessário, atuarem mais distantes da meta. A escolha dos goleiros por parte de Tite sempre foi uma decisão compartilhada com Mauri, que sugeriu a barração de Cássio no Corinthians recentemente.