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As diferenças entre Dunga e Tite que você pode esperar na seleção

Edilson Dantas/Folhapress
Imagem: Edilson Dantas/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

19/06/2016 06h00

Tite deverá ser anunciado até a próxima terça-feira (21) como técnico da seleção brasileira em comunicado que só confirmará aquilo já anunciado pelo Corinthians. A partir de então, ele trabalhará como sucessor de Dunga, demitido após sucessivos maus resultados em competições oficiais findados pela vexatória campanha na Copa América Centenário. Nessa transição, alguns pontos devem mudar dentro e fora de campo.

Alguns jogadores (re)aparecem

Já é certo que o antigo capitão Thiago Silva reaparecerá neste novo ciclo. Depois de ter a braçadeira tirada por Dunga e perder qualquer espaço na seleção depois de um erro na Copa América de 2015, o zagueiro do Paris Saint-Germain já integra a pré-lista de Rogério Micale para a Olimpíada e deverá estar na primeira convocação oficial de Tite, para o jogo contra o Equador, em setembro, pelas eliminatórias.

Além de Thiago Silva, há o trabalho de recuperar jogadores que se distanciaram de Dunga por diferentes motivos, mas que ainda são defendidos por membros importantes da CBF e principalmente por alguns dos principais jogadores que permaneceram na seleção. O lateral Marcelo, o zagueiro David Luiz e o meia Oscar são os principais neste cenário.

Filosofia muda: Tite de 2016 tem uma identidade

O Tite de 2016 parece ter um Corinthians mais sólido e constante do que em 2012, quando venceu a Copa Libertadores e o Mundial. Melhor ou pior, Tite hoje tem uma identidade, uma filosofia de jogo que parece não mudar jamais, seja qual for o jogador escalado. O time formatado no 4-1-4-1, fiel a conceitos de compactação, marcação em todo o campo e transições rápidas tem sempre o mesmo estilo.

Tudo baseado nos estudos de Tite em 2014, ano em que o técnico parou para se reciclar, na Europa e na Copa do Mundo. Neste período, tomou como ideal o Real Madrid de 2014, campeão europeu e treinado pelo italiano Carlo Ancelotti, que usava um primeiro volante e quatro meio-campistas em linha atrás do atacante. Desde que voltou ao Corinthians em 2015, Tite foi pioneiro no Brasil ao implementar o mesmo 4-1-4-1, abolindo o meia armador e transformando os quatro meio-campistas à frente do volante, em linha, em jogadores tanto de criação como de composição defensiva.

Com Dunga, não havia uma identidade clara de futebol. A seleção começou no 4-2-3-1, foi testada com Neymar como falso 9, sem referência no ataque, e chegou para a Copa América no 4-1-4-1 inspirado no Corinthians de Tite. Ainda no último torneio, adotou novo modelo de saída de jogo, com trocas de passes curtos, treinada diariamente nos Estados Unidos.

Relacionamento com elenco

Jogadores que compuseram o elenco da Copa América, segundo apurou a reportagem, não aprovavam o trabalho de Dunga e já não sentiam prazer em defender a seleção sob o comando do ex-treinador. Quase todas as críticas passam pela gestão de pessoas.

Segundo relatado por atletas, criou-se nos últimos dois anos de seleção uma atmosfera de receio pelas punições a jogadores como Thiago Silva, David Luiz e Marcelo. Mais de um jogador afirmou ter medo de ser cortado por tempo indeterminado da seleção por cometer um erro dentro ou fora de campo. Além disso, a cartilha de comportamento instaurada – e depois aliviada – por Dunga foi, na análise de membros da CBF, a semente do distanciamento entre técnico e jogadores.

Tite já chega com a vantagem de começar o relacionamento do zero. Se depender do que construiu nos últimos anos do Corinthians, deverá mostrar um ambiente mais próximo dos jogadores.

Novos ou velhos líderes?

Hoje a seleção brasileira não tem um líder definido. O capitão da era Dunga é Neymar, que, com a braçadeira, foi expulso, suspenso e sacado da Copa América de 2015 ao tentar agredir um árbitro em jogo contra a Colômbia. Em todos os jogos em que o atacante não jogou, o zagueiro Miranda assumiu a capitania. Tudo começou com a decisão de barrar a liderança de Thiago Silva.

No Corinthians, Tite decidiu dar a braçadeira ao ex-lateral Alessandro, novo gerente de futebol do clube, até o fim de sua primeira passagem. Ao voltar, em 2015, promoveu rodízio de capitães, para tentar fazer nascer diferentes lideranças na equipe. Se adotada, a postura poderá formular um novo perfil de elenco nessa seleção brasileira. 

Esquema de jogo é exceção: não mudará

O desenho tático da seleção brasileira que disputou a Copa América deve mudar muito pouco ou nem isso. Dunga absorveu do Corinthians campeão brasileiro em 2015 o 4-1-4-1 e a ideia de ter Elias e Renato Augusto como homens de centro de meio de campo, como Tite inovou. Agora, o sucessor deverá reproduzir na seleção a mesma formação que vinha usando no Corinthians e também deverá usar a maioria dos jogadores que Dunga vinha escalando.