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Prejuízo político x libertação: o que SP enfrenta se romper com organizadas

Guilherme Palenzuela e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

08/07/2016 06h00

Pressionado após as cenas de guerra na saída do Morumbi na quarta-feira, o presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, deve decidir nos próximos dias se mantém ou corta o apoio financeiro às torcidas organizadas. A definição pode trazer várias consequências para o futuro do clube e do próprio mandatário.

Dentre os quatro grandes paulistas, o Palmeiras foi o único a romper com as organizadas, em 2013. Do lado são-paulino, Leco admitiu o apoio, tanto financeiro como na forma de ingressos, em entrevista à Folha de S. Paulo em janeiro deste ano.

Ruptura pode atrapalhar pretensões políticas

Nos últimos anos, as organizadas, particularmente a Torcida Tricolor Independente, têm sido uma base de apoio para presidentes e outros postulantes ao poder político dentro do São Paulo. Desde a gestão de Juvenal Juvêncio até a de Leco, as torcidas servem como termômetro e instrumento das movimentações políticas do clube.

Em 2013, em um churrasco organizado pela diretoria, membros da Independente tiveram acesso livre às dependências do clube social do São Paulo. Durante o evento, defenderam de forma agressiva o então presidente Juvenal, entrando em conflito e ameaçando de agressão associados que faziam oposição ao mandatário, segundo presentes.

Na gestão do sucessor Carlos Miguel Aidar, a relação continuou – em 2015, Aidar, diante das câmeras da imprensa, atendeu a um telefonema de um dos líderes da Independente no CT da Barra Funda e confirmou que financiaria 50 ônibus para a organizada. O ex-presidente também participou de desfile de carnaval da torcida. Ao longo da gestão, a torcida se manifestou contra o treinador Muricy Ramalho dois meses antes de sua demissão, além de bradar críticas à diretoria de futebol e a alguns jogadores, mas não diretamente a Aidar, que acabou renunciando.

As organizadas voltaram a ser parte do jogo político do Morumbi neste ano. Opositor de Aidar, empresário Abílio Diniz apoiou a candidatura de Leco, mas rompeu com o atual presidente após divergências. Ao UOL Esporte, Diniz admitiu ter realizado doação financeira para a Independente no carnaval.

A organizada nega qualquer influência de Diniz, mas passou a defender pautas em comum com o empresário. Apoiou seu amigo Milton Cruz antes de sua demissão, e pediu sua volta após.

Pressionou muito o gerente de futebol Gustavo Vieira de Oliveira, que, para Abílio, “entende pouco de futebol e nada de liderança e gestão”. No dia 28 de fevereiro, a Independente escreveu em sua conta no Twitter: “Abilio Diniz, presidente moral do São Paulo”.

Leco tem mandato até abril de 2017, e pretende se candidatar à reeleição. A ruptura com as organizadas nesse momento tira do presidente uma potencial base de apoio, e pode abrir caminho para pressão da torcida contra sua gestão antes, durante e depois das partidas, idas ao centro de treinamento e apoio a eventuais opositores.

Exemplo que deu certo vem do rival

O Palmeiras rompeu com as organizadas em março 2013, após agressões ao elenco que retornava de uma derrota de 1 a 0 para o Tigre em Buenos Aires. O episódio foi o estopim de uma relação que já vinha se deteriorando, e teve as organizadas destruindo uma sede do Avanti, programa de sócio-torcedor alviverde.

Nos meses que se seguiram à ruptura, o presidente Paulo Nobre precisou reforçar sua segurança pessoal, andando com carro blindado e quatro seguranças. Para o clube, entretanto, a iniciativa serviu como libertação e não trouxe prejuízos.

Sem vínculo com as organizadas, o Palmeiras voltou todas as suas atenções para o Avanti. Nos três anos seguintes, o programa foi o de maior crescimento no Brasil, indo de pouco mais de 8 mil associados para 126 mil.

A presença reduzida das organizadas no estádio também diminuiu o impacto de seus protestos no ambiente político do alviverde. Até hoje, três anos após as rupturas, as torcidas frequentemente protestam contra Nobre, mas não desestabilizam a gestão do presidente.

Sem depender das organizadas, o Palmeiras detém há dois anos a segunda melhor média de público e receita de bilheteria no país.