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Flu comprou time na Europa. E técnico usa app para se comunicar em eslovaco

MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC
Imagem: MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/07/2016 06h00

Um projeto pioneiro fez com que o Fluminense investisse na compra de um time na Eslováquia. O STK Samorin acabou de subir da terceira divisão e disputará a segunda em 2016. Além de divulgar a marca no exterior, o Tricolor dará oportunidade a cinco atletas de terem contato com uma nova cultura. Não só jogador, como também o técnico Celso Martins.

O técnico do sub-17 foi convocado pelo Fluminense para ser o auxiliar do americano americano Mike Keeney, que já está no clube desde a temporada passada. Celso foi pego de surpreso com o convite e mais ainda com o período que teria para organizar sua mudança para a Eslováquia: apenas duas semanas.

A parceria começou em novembro de 2015, quando o Fluminense emprestou alguns atletas para os eslovacos, mas com o diferencial. Um profissional brasileiro participou como auxiliar técnico e gestor da equipe. O conhecimento adquirido foi fundamental para o Tricolor aumentar o investimento e passar para a segunda fase.

O Flu mandou mais dois atletas e ainda ficou responsável por contratar um técnico. Escolheu o americano Mike Keeney. A fase foi um sucesso e o Samorin assegurou vaga na 2ª divisão com cinco rodadas de antecedência.

Foi o momento que o Fluminense decidiu comprar o Samorin e passou a controlar as áreas técnicas e administrativas. O clube troca o nome para STK Fluminense Samorin e começa a jogar em 50% dos jogos com a camisa tricolor. A proposta agora é que seja implantado de forma definitiva o projeto transformando o STK Šamorín em uma filial do Fluminense dentro da Europa.

UOL Esporte: Em duas semanas teve que decidir sair do Rio e morar um ano na Eslováquia?
Celso Martins: Pertinho, logo ali, né? Mas foi tudo bem legal. A primeira sondagem eu fiquei bem tenso pela diferença do país, da cultura, da minha família, pois sou casado e tenho um filho de dois anos. Depois percebi que seria bacana profissionalmente para mim e resolvi encarar o desafio.

UOL Esporte: Você poderá levar a família?
Celso Martins: Não. Eu vou agora e eles vão me visitar em agosto. Depois, em novembro, eles têm férias por causa do inverno e aí poderei dar um pulinho no Brasil e ficar mais de um mês aqui.

Celso Martins - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

UOL Esporte: O Fluminense acabou de subir da terceira para a segunda divisão do país. Qual o objetivo?
Celso Martins: O clube aposta muito nesse projeto. Fizemos um monitoramento dos atletas da região e conseguimos nos reforçar bem, além de levarmos cinco atletas aqui do Fluminense. O objetivo é subir para a primeira divisão.

UOL Esporte: Cinco jogadores do Flu vão para lá com você, mas como será lidar com os demais atletas?
Celso Martins: Vamos ter que conversar, bater um papo. Uma das exigências é que os jogadores que farão parte do elenco falem inglês. Mesmo assim estou levando um aplicativo para não ter erro na hora de comunicar. Eu falo em português e sai a frase em eslovaco. Já testei e está dando tudo certo [risos]. Já até criei uma lista com algumas frases que usamos muitos nos treinos. O inglês vai encurtar a distância, mas também estou confiando no tradutor [risos].

UOL Esporte: E para os jogadores do Flu? Estão encarando como uma grande oportunidade?
Celso Martins: Se eu fosse eles, iria para ontem. Dois deles foram meu atleta no juvenil ano passado. Eles não estão tendo tantas oportunidades nos juniores e têm essa oportunidade de ir para lá novos. Um garoto desse que está no futebol ter esse contato com a Europa, com frio, nova cultura, é algo que não podem deixar passar. Vão amadurecer muito e estarão muito mais preparados em caso de uma venda futura.

O Marcelo [Teixiera, diretor da base] bate muito nessa tecla. Nosso time campeão do sub-20 tinha muitos jogadores que tiveram essa experiência de ir e voltar. Vão meninos e voltam homens. Infelizmente a cultura do jogador aqui no Brasil é de um cara mimado, elogiam muito e falam onde realmente tem que melhorar. Essa experiência é um choque de realidade importante para eles.

UOL Esporte: Dos cinco que vão, alguns deles já tiveram experiência parecida?
Celso Martins: Conversei com alguns deles que moram meus atletas e ficaram ainda mais animados em saber que eu estaria junto deles lá. Falei para eles que estávamos com uma oportunidade de fazer história no Fluminense. É um projeto inovador e estamos muito felizes de ter sido escolhidos. Temos que aproveitar.

UOL Esporte: Um projeto parecido do Flu é o intercâmbio, quando atletas ficam na casa de famílias locais. Será assim também?
Celso Martins: Não, eles vão dividir um apartamento. É uma responsabilidade ainda maior. Isso, inclusive, é uma das minhas funções extracampo que vou ter lá. Vou na casa deles, vendo se tudo está correndo bem na disciplina de organização, higiene. O clube como um todo vai comprar para ter esse papel fora de campo também. Têm muita qualidade no campo e vão ter que mostrar esse outro lado fora dele agora.

UOL Esporte: Os jogadores vão para lá com o objetivo de serem vendidos ou de voltar com mais experiência?
Celso Martins: Temos esses dois caminhos bem viáveis. Não só para os dois atletas, mas eu também, temos que ir com esse pensamento de voltar mais maduro e completos. No caso dos garotos, claro, tem essa possibilidade de serem negociados e gerar um valor para o clube.

UOL Esporte: Chegou a pensar em não encarar esse desafio?
Celso Martins: Cheguei, sim. O primeiro papo foi com nosso coordenador, Marcelo Veiga. Estávamos falando sobre campo e ele tocou nesse assunto. Eu tenho um filhinho de dois anos, que é a minha paixão. Ele nasceu com síndrome de down e temos uma relação de afeto maior ainda. Foi muito difícil imaginar ficar longe dele, mas depois pensei que isso tudo que vou fazer agora é para ele também. Vi que valia a pena e aceitei.

UOL Esporte: Não foi fácil, então...
Celso Martins: Quando minha família amadureceu a ideia também, aí não teve mais volta. O Teixeira também vende o projeto de uma maneira muito convicta e faz você acreditar que tudo vai dar certo. Estou indo de peito aberto agora.

UOL Esporte: Fluminense fala até em jogar a Europa League...
Celso Martins: Fluminense pensa grande. É bom trabalhar assim. Para os profissionais e atletas isso é muito importante, pois nos engrandece também.

UOL Esporte: Estudou a Eslováquia?
Celso Martins: Bastante. Google direto, Wikipedia... Comida pelo o que vi não parece que vai ser tão fácil. Tem uma sopa tradicional lá com nome bem complicado [risos]. Os doces parecem ser bem bons. Na Bratislava [Capital] é uma cidade grande, com tudo. Shopping e tal. Mas nós vamos ficar em Samorim, uma cidade bem pequena a 17km da capital. Será foco total no trabalho.