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Ex-companheiro de Zé Roberto até dorme na rodoviária para pedir uma chance

Claudinho fez plantão na Academia de Futebol para reencontrar Zé Roberto - José Edgar de Matos/UOL Esporte
Claudinho fez plantão na Academia de Futebol para reencontrar Zé Roberto Imagem: José Edgar de Matos/UOL Esporte

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo

10/07/2016 06h00

“Saí de Belford Roxo com 150 reais no bolso, estou sem dinheiro para retornar. Quero encontrar o Zé Roberto e ver se ele pode me dar uma chance de voltar ao futebol.”

Cláudio Aniceto da Silva, 42 anos, saiu do Rio de Janeiro na última sexta-feira com apenas um objetivo: reencontrar o palmeirense Zé Roberto após 14 anos. Não se tratava de mais um fã, mas de alguém que dividiu o gramado com o lateral esquerdo do Palmeiras há mais de duas décadas.

Eram 15h30 do último sábado quando a reportagem do UOL Esporte chegou ao Centro de Treinamento do Palmeiras para mais um dia de trabalho. Cláudio, ou Claudinho – nome da época de ‘boleiro’ -, se encontrava sentado em frente ao portão da Academia de Futebol com uma mala de roupas. No bolso lateral, fotos dos tempos de jogador.

As maiores recordações remetiam à Portuguesa de 1995. Além da ótima campanha no Campeonato Paulista daquele ano, Claudinho conheceu Zé Roberto e Zé Maria, de quem virou amigo. Vinte e um anos depois, o antigo meia-esquerda buscava o reencontro para pedir por uma chance como treinador.

O ex-meia, que pouco atuou pela Lusa, quer uma escolinha ou qualquer equipe que não negaria um pedido do lateral palmeirense. Antes de fazer plantão na porta do CT alviverde pelo segundo dia, Claudinho até deixou o currículo no Nacional-SP, clube localizado bem em frente à Academia.

“Fiz um curso de treinador na CBF (Confederação Brasileira de Futebol), terminei em 2007. Trabalhei como técnico no Bonsucesso e no Mesquita, sem remuneração. Saí do futebol em 2011, aí passei a trabalhar como motorista de Kombi no Ceasa-RJ. Desde 2015 estou parado, apenas fazendo bicos. Vim aqui para pedir uma chance”, declarou à reportagem.

Claudinho Zé Roberto Portuguesa 1995 time - José Edgar de Matos/UOL Esporte - José Edgar de Matos/UOL Esporte
Zé Roberto (3º da esq. para a dir. sentado) e Claudinho (penúltimo da mesma fileira) jogaram na Lusa
Imagem: José Edgar de Matos/UOL Esporte

Claudinho deixou a mulher Denilze, responsável por sustentar a casa atualmente – ela é cozinheira -, com R$ 150 no bolso e visitou pela primeira vez a Academia de Futebol do Palmeiras na última sexta. O esperado encontro com Zé Roberto, no entanto, não aconteceu.

Sem alternativas, o ex-companheiro de Zé Roberto retornou à rodoviária para se recolher; ali mesmo dormiu sob a ansiedade de, no dia seguinte, falar com o antigo parceiro de Portuguesa pela primeira vez em mais de dez anos.

Para viajar mais de 400 km ‘no escuro’, sem qualquer certeza de reencontrar Zé Roberto, Claudinho se apegou às lembranças sobre o veterano jogador do Palmeiras. Não foi apenas na Portuguesa que os dois dividiram uma ‘resenha’.

“Encontrei com o Zé Roberto em 2001, na Alemanha. Jogava em um time da quarta divisão e viajei de trem para Leverkusen. Na época, ele jogava no Bayer. Ele sempre foi atencioso com as pessoas. Na Portuguesa, eu era mais próximo do Zé Maria, que até foi no meu casamento, mas o Zé Roberto sempre foi um cara muito bacana”, contou.

Autógrafos Portuguesa Palmeiras Claudinho Zé Roberto - José Edgar de Matos/UOL Esporte - José Edgar de Matos/UOL Esporte
Claudinho dividiu a página de autógrafos com Zé Roberto e outras estrelas
Imagem: José Edgar de Matos/UOL Esporte

A postura de Zé Roberto descrita por Claudinho acabou ratificada horas depois da conversa com o UOL Esporte. Por intermédio de um funcionário do Palmeiras, o lateral esquerdo deu dinheiro para o ex-jogador retornar a Belford Roxo ainda na noite do último sábado.

Além da ajuda financeira, Zé Roberto se dispôs a cumprir o desejo do antigo companheiro. Claudinho escreveu uma carta, na qual conta a sua realidade, e a entregou ao lateral palmeirense.

A viagem foi longa, dura, com direito até a rodoviária como local para o sono de sexta para sábado, mas Claudinho retorna ao estado fluminense com o objetivo cumprido. O primeiro passo para um novo emprego foi dado, e as lembranças saudosas de um Zé Roberto solidário, reforçadas.