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Casagrande desabafa sobre antiga rusga com Leão: "Não fui democrático"

Casagrande relata desavenças com Leão no livro "Sócrates & Casagrande" - Luiza Oliveira/UOL
Casagrande relata desavenças com Leão no livro "Sócrates & Casagrande" Imagem: Luiza Oliveira/UOL

Luiza Oliveira e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

13/07/2016 13h02

O futebol proporciona que alguns jogadores virem desafetos geralmente por questões relacionadas a campo, disputas ou por temperamentos diferentes. Mas, na década de 80, três grandes jogadores tinham divergências ideológicas e estremeceram relações por isso: Casagrande e Sócrates de um lado, e Emerson Leão de outro.

Tudo por conta da conhecida Democracia Corintiana, período em que os jogadores do time do Parque São Jorge davam as cartas sobre a condução do que era feito dentro do clube, tanto em decisões de diretoria, contratações, como de campo pela comissão técnica. A atitude ficou muito simbólica em um período que politicamente o Brasil era controlado por militares e governo centralizador.

Sócrates e Casagrande eram os principais líderes do movimento que, apesar de toda fama e simbologia, tinha críticos dentro do elenco, como o próprio Leão. O ex-goleiro não gostava da forma como as decisões eram conduzidas pelos líderes. Colocou isso como um dos motivos de sua curta passagem no time, em 83.

“Que democracia? Não era (democrático). Isso aí é passado, tão bonito, deixa pra lá”, falou, recentemente, em entrevista ao canal Fox Spots. “Eu incomodei demais (por isso saiu). A democracia era muito pequena, né? Tinha dono, né? Eu cheguei e procurei me adaptar ao sistema jogando futebol. A torcida gostou, eu gostei, passei um ano maravilhoso no Corinthians.”

No lançamento de seu livro “Sócrates & Casagrande – Uma História de Amor”, Casagrande admitiu que não foi democrático com Leão nos tempos de Corinthians e que, apesar de na época terem um relacionamento frio, hoje se dão muito bem.

“Lá atrás, na realidade, na época da Democracia Corintiana talvez o Leão tenha sido mais democrático que eu até, porque ele me aceitou e eu não aceitava o Leão. Então naquele momento... mesmo ele achando, e ele acha até hoje, que ele não é democrático, ele foi democrático porque ele me aceitava. E eu fui menos porque eu não aceitei, e hoje eu tenho muita consideração pelo Leão”, disse Casagrande.

Um episódio curioso que está relatado no livro marcou a divergência entre os dois naquela época de Corinthians. Casagrande havia se declarado contrário à contratação do goleiro quando os atletas foram consultados sobre o assunto. Para piorar o clima entre os dois, certo dia no vestiário, o atacante usava chuteiras brancas, o que era uma exceção na época com total domínio das chuteiras pretas. Irônico, Leão comentou: “Chuteira bonita, né? Ela faz gol?“. Incomodado, Casagrande devolveu a provocação: ‘Luva bonita. Tem que defender”.

Com o passar dos anos, as desavenças foram resolvidas, e as rusgas esquecidas. Hoje eles têm uma relação até de amizade. Casagrande conta que o ex-goleiro foi visitá-lo em um momento difícil da sua vida quando esteve internado.

“Nós somos completamente diferentes, até hoje nós somos diferentes, mas hoje eu sou amigo do Leão, faz muito tempo que eu sou amigo do Leão. O Leão foi uma das pessoas que me procurou para saber como eu estava quando eu estava me tratando com drogas. Quando eu tive um problema de diverticulite, ele foi no hospital me visitar. Nós já saímos para conversar algumas vezes, mas nós não somos tão amigos porque nós somos diferentes, mas a gente se respeita muito, a gente se aceita” disse ele que não se cansa de fazer elogios ao treinador.

“Foi um dos melhores goleiros ou o maior goleiro brasileiro que eu já vi. Sempre que me perguntam para fazer uma seleção brasileira de todos os tempos, o goleiro é sempre o Leão”.