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Começo difícil faz Lucca mirar família e driblar assédio: 'sem loucuras'

Dassler Marques e Juliana Alencar

Do UOL, em São Paulo

22/07/2016 06h00

Atacante corintiano, Lucca chega à entrevista segurando uma carta. Tinha recebido o presente minutos antes de uma fã que assistia ao treino no CT Joaquim Grava.

"Uma moça me deu... tudo bem, é legal", diz, um pouco constrangido pelo "flagrante". "Eu sempre leio, tenho cartas que me mandam. Guardo com carinho porque o torcedor é muito fanático. A gente tem que procurar deixá-los felizes também".

Lucca, que perdeu a condição de titular após a eliminação na Copa Libertadores, ainda está descobrindo as delícias de jogar num clube do tamanho do Corinthians. Esportivamente, vê como a vitrine que ele sempre buscou quando ainda jogava no discreto Palmas Futebol e Regatas, onde se profissionalizou, aos 17 anos. Fora de campo, acha graça do que veio como bônus com a fama: o assédio. E não é só do torcedor fanático a que ele se refere. 

"O assédio sempre acontece...", conta, antes de emendar com um "às vezes". "É mais nas redes sociais. Mas eu tenho que respeitar minha família. Não posso fazer loucura que tudo isso é momento. A família a gente tem que guardar, tenho que prezar muito por isso".

Há 10 meses no Corinthians, Lucca não titubeia ao afirmar que foram os melhores da vida - esportivamente e pessoalmente. Foi campeão brasileiro fazendo o gol que encaminhou o clube ao título (na vitória de 2 a 1 contra o Coritiba, na Arena Corinthians) e, pouco mais de uma semana depois, seria pai pela primeira vez. 

"Sem dúvida nenhuma foi especial para mim, só aconteceram coisas boas. Jamais vai sair da minha memória", conta ele, pai da pequena Laura, de quase 8 meses, fruto do seu relacionamento com sua atual mulher, Tairine Amorim. 

Em entrevista exclusiva concedida antes de se machucar durante um treino, na terça (12), Lucca fala do começo em Palmas, no Tocantins, onde nasceu e foi criado, relembra o "medo" de ficar esquecido para o futebol por estar longe de centros mais importantes do futebol e fala também até da "bronca" que levou da mulher depois de dar uma cantada na modelo Aline Riscado (Verão, das propagandas da cerveja Itaipava) durante reportagem do "CQC".

BALANÇO DO ANO
"Creio que tivemos coisas boas, mas tivemos as eliminações. Queríamos ter conseguido ir um pouco mais longe (na Libertadores e no Paulista), mas são coisas do futebol. Creio que foi valoroso, fizemos coisas boas, e agora temos que dar sequência em busca dos resultados que queremos". 

NR.: O Corinthians foi eliminado na semifinal do Paulista e nas oitavas da Libertadores.

TRABALHO COM O CRISTÓVÃO
"Mudou radicalmente, são outros pensamentos. Isso é normal, cada um vai impor seu trabalho, são metodologias de trabalho diferentes. É um grande profissional e a gente tem muito que aprender com ele também. Cabe a gente aceitar e abraçar o trabalho para que consigamos resultados bons."
 
NOVELA DA RENOVAÇÃO
"Sempre me mantive tranquilo, independentemente da situação. Teve algumas coisas que foram faladas, umas inverdades, que me deixaram um pouco triste. Eu tenho que saber lidar com isso também, Mas me mantive tranquilo, procurando trabalhar forte. Continuo tranquilo e feliz". 

NR.: Lucca chegou ao Corinthians no returno do Brasileirão 2015 e com contrato curto. Após negociação desgastante, foi comprado e assinou por 3 anos. 
 
MOMENTO MAIS FELIZ NO CORINTHIANS
"Acho que quando eu fiz o gol contra o Coritiba foi um momento importante, né? Estava precisando do empate, a vitória teoricamente dava o título para gente. E eu pude fazer aquele gol". 
 
JOGADOR SAIU DE CONCENTRAÇÃO PARA VER FILHA NASCER
"Aconteceu isso. Eu estava lá em Recife, para o jogo contra o Sport, e ela (a mulher, Tairine) me ligou logo cedo, 6h da manhã, dizendo que a bolsa tinha estourado. Aí eu esperei dar 8h para falar com a diretoria, com o Tite. Saí correndo da concentração, peguei um avião e quando cheguei aqui (em São Paulo) à tarde ela já estava sentindo as dores, foi direto para o parto. Foi tudo na correria. Fiquei até um pouco nervoso, porque eu queria ver tudo. Mas graças a Deus, deu tudo certo, pude acompanhar tudo. Gravei, eu que tirei (o bebê), cortei o cordão".
 
ORIGEM HUMILDE
"Venho de uma família humilde, mas graças a Deus nunca faltou nada em casa por conta do meu pai e da minha que sempre estavam trabalhando. Teve um pouco de dificuldade, mas o apoio deles foi fundamental. Sem eles eu acho que eu não conseguiria. Graças a Deus eu posso dar coisas boas para minha filha, quero dar um estudo bom, para que ela cresça com condições melhores possíveis".
 
COMEÇO NO FUTEBOL PROFISSIONAL
"A memória que eu tenho é de estar sempre todo dia indo pro campo, brincar na quadra, minha mãe  vindo atrás de mim porque eu não parava de jogar. Comecei a jogar no Palmas Futebol Regatas, era perto da  minha casa. Fiz o sub-11, sub-13, sub-15 e aí, com 17 anos, me profissionalizei lá.  Meu primeiro ano foi  muito bom, no segundo fui artilheiro do campeonato estadual. Depois fui para Minas Gerais. 
 
MEDO DE NÃO SAIR DO TOCANTINS
"Eu sempre quis correr atrás do meu objetivo, as condições lá não eram as melhores. Eu falava pro meu pai que precisava sair, arrumar alguém que me desse algum suporte para eu ter uma oportunidade num centro maior de futebol. Aí surgiu a oportunidade de eu ir para o Ituiutaba, que hoje é o Boa Esporte. E eu fui sem pensar. Depois de lá fui pro Criciúma, fiquei 5 anos, fui pro Cruzeiro e depois, graças a Deus, as coisas começaram a andar bem. Já tinha tentado sair antes, quando era adolescente. Fui fazer um teste lá no Vitória da Bahia. Peguei um ônibus, 30 horas de estrada, para tentar alguma coisa. Mas acabou não dando certo. Meu pai teve que arrumar a passagem, pedir a amigos, mas foi legal, uma experiência boa".  
 
FÃ CHOROU AO VÊ-LO
"Eu tive uma situação um pouco curiosa lá quando eu estava voltando pro Criciúma. Uma criança, de 11, 12 anos, começou a chorar desesperadamente quando me viu. Eu fiquei sem saber o que fazer, não era muito acostumado com isso. Não sabia o que falar para ela, pedia tranquilidade. Depois  ela se acalmou, dei uma camisa e tudo correu bem. No Corinthians, também acontece. Às vezes a gente sai para jantar com a família e o pessoal vem para tirar foto. Eu tento atendê-los da melhor maneira possível".
 
'CANTADA' NA ALINE RISCADO DURANTE REPORTAGEM DO 'CQQ'
"Minha esposa viu muito depois, porque ela não costuma acompanhar muito. Chegou em casa e me disse: 'quer dizer que você estava falando que ela era bonita?' E eu: 'ah, pô, foi só um comentário e tal'. O pessoal fez todo uma maldade lá, uma brincadeira, mas ela levou tranquilamente. Ela é um pouco (ciumenta), mas sabe que foi brincadeira.  Ela é realmente bonita, não tem como, então... a brincadeira foi só ali, mas o pessoal levou um pouco a sério".
 
EMPURRÃO NA CARREIRA
"O Corinthians está me dando uma oportunidade sensacional. Eu estou procurando trabalhar o mais forte possível para conseguir mais títulos. Ganhar títulos com essa camisa é maravilhoso, já tive esse  sentimento, então, quero sempre estar disputando campeonatos. O Corinthians está me levando para um outro patamar, um nível muito bom, e eu quero permanecer nele por muito tempo. A oportunidade está nos meus pés. Penso em seleção, ainda sou jovem. Tenho que trabalhar bastante para que possa ocorrer a oportunidade".  
 
META DE GOLS
"Nunca estabeleci uma média de gols em nenhum lugar que eu passei. Minha meta é contribuir para equipe. Estou conseguindo fazer alguns gols, e isso é o mais importante".