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Famoso quem? André Cruz lembra de CR7 quando português ainda era reserva

André Cruz jogou com Cristiano Ronaldo (foto) no Sporting, de Portugal - Reprodução
André Cruz jogou com Cristiano Ronaldo (foto) no Sporting, de Portugal Imagem: Reprodução

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

01/08/2016 06h00

Início do século XXI. Cristiano Ronaldo ainda era uma jovem promessa que, aos poucos, começava a ganhar espaço no Sporting, clube pelo qual foi revelado. Um de seus companheiros de equipe era o brasileiro André Cruz, zagueiro que já tinha atuado pelo Milan e disputado a Copa do Mundo de 1998 pela seleção de Zagallo. E por essas e outras, o ex-jogador ainda brinca com o início de carreira do português: afinal, quem jogou com quem?

“As pessoas falam: ‘Você jogou com o Cristiano Ronaldo’? E eu falo: ‘Não, não, ele jogou comigo [risos]’. Eu já tinha participado de Copa do Mundo, do Milan, ele era molecão ainda, então ele que jogou comigo”, brinca André Cruz, que já tinha mais de 30 anos quando Cristiano Ronaldo começou a ganhar destaque no Sporting, no início da última década.

As pessoas falam: ‘Você jogou com o Cristiano Ronaldo’? E eu falo: ‘Não, não, ele jogou comigo [risos]

André Cruz recorda que CR7 ainda figurava no banco de reservas, mas já mostrava que era diferente só por sua atitude. “O Cristiano Ronaldo pegava na bola e não estava nem aí, ia para cima mesmo, tomava porrada, caia, não falava nada, levantava, ia de novo para cima. Então a gente já percebia que ele era um menino muito dedicado nos treinamentos e corajoso, porque ele não tinha medo não, ele ia para o pau mesmo, jogava”, conta o brasileiro.

O ex-zagueiro recorda também que Paulo Bento, técnico recém-demitido do Cruzeiro, era um dos bons jogadores que faziam parte do elenco do Sporting. “Você tinha lá jogadores campeões, jogadores bem mais velhos, jogadores rodados, então quando ele [Cristiano Ronaldo] ia treinar, por exemplo, o meio campo tinha Rui Bento e Paulo Bento, esse que foi técnico do Cruzeiro agora, tinha o César Prates, o Beto, que jogava na seleção portuguesa, eu e o Dimas Teixeira, que jogou na seleção portuguesa, no Fenerbahçe, na Juventus de Turim... Essa era a nossa defesa”, diz André, que chegou até a indicar CR7 a um diretor.

“Eu peguei o começo de carreira dele, do Quaresma e do Hugo Viana, até eu indiquei o Cristiano Ronaldo para o diretor do Milan que é amigo meu, o Ariedo Braida. Eu acabei ligando e falando: ‘Aqui tem três jogadores bons: o Hugo Viana, um meia canhoto, o Quaresma, um atacante que joga pelo lado direito, tem boa movimentação e é muito rápido...’, mas eu falei: ‘Tem um aqui que é um fenômeno, que é o Cristiano’, e ainda falei: ‘Esse cara lembra o Ronaldo quando era novinho, magrinho... Se você olhar rapidamente lembra, até fisicamente”.

Eu percebi que o Cristiano Ronaldo era um menino que tinha coragem

“A gente já via o perfil dele, como homem e depois como atleta também, muito profissional, quieto, sempre na dele e treinando para caramba. Lá nós fomos campeões depois de 18 anos em 99/00, nessa época o Cristiano não estava, em 2001 ele começou a treinar, mas depois o Cristiano teve uma parada, não sei o porquê ele parou de treinar, não sei se ele teve alguma lesão ou alguma coisa, e aí voltou em 2002. E aí sim nós fomos campeões de novo, já com o Cristiano Ronaldo, e em 2001/2002 fomos campeões de novo. Como ele era menino ele não era titular, estava subindo para o profissional. O Quaresma era titular, mas eu percebi que o Cristiano Ronaldo era um menino que tinha coragem”, acrescenta André Cruz.

Fora da Copa de 90, dentro da Copa de 98

André Cruz conquistou a Copa América de 1989 pela seleção brasileira, mas acabou ficando de fora do Mundial de 1990. De acordo com o zagueiro, um problema de contrato e o fato de ser um dos jogadores mais jovens para a posição determinaram a sua ausência na Copa da Itália.

“Eu não fui em 90, acabei ficando de fora. Passei um bom período sem contrato. Tinha o Mauro Galvão, que tinha sido campeão com o Botafogo, o Aldair, Mozer, Júlio César, Ricardo Gomes e o Ricardo Rocha, seis jogadores de altíssimo nível para convocar, e só convoca quatro jogadores na posição. Então, na verdade, o Lazaroni [técnico] teve que fazer a opção”, recorda André, que não esconde a tristeza por não ter sido convocado para o Mundial.

Tinham jogadores mais experientes, mais velhos e bem melhores que eu para convocar para uma Copa do Mundo

“É obvio que a gente fica muito chateado porque, mesmo sem contrato com a Ponte Preta, o Lazaroni acabou me convocando várias vezes para a seleção brasileira. Mas eu acredito que não fui para a Copa de 90 porque tinham jogadores mais experientes, mais velhos e também, naquele momento, bem melhores que eu para convocar para uma Copa do Mundo. Então de sete, me incluindo, você tem que convocar quatro jogadores. E eu era o mais jovem se eu não me engano, de todos os zagueiros, e acabei ficando de fora”, lamenta o ex-jogador.

Já em 1998 a história foi diferente. André Cruz não esperava ser convocado, mas uma contusão o fez ser lembrado pelo então técnico Mário Jorge Lobo Zagallo.

“Neste momento eu estava no Milan e, alguns dias antes do Mundial de 98, o Márcio Santos teve um estiramento na coxa, foi grande... Eles tinham que cortar o Marcio Santos e eu já estava jogando no Milan, então o Zagallo me ligou e acabou me convocando meio em cima da hora para o Mundial de 98”, recorda André Cruz.

‘Episódio Ronaldo’ não é desculpa para derrota

Apesar de não ter entrado em campo na Copa de 1998, André Cruz pôde, de fora, acompanhar tudo que envolveu a seleção brasileira naquele Mundial. Inclusive o polêmico episódio com Ronaldo Fenômeno, que segundo ele, não pode ser usado de desculpa para a derrota de 3 a 0 na final – com dois gols de Zidane e um de Petit, a França levou a melhor e ficou com a taça.

Qual é o motivo de ter perdido o Mundial? Dormimos em campo e a França jogou para c...

“Qual é o motivo de ter perdido o Mundial? Dormimos em campo e a França jogou para c... As pessoas me perguntam: ‘O que aconteceu com o Ronaldo Fenômeno’? Aconteceu o que todo mundo já está cansado de saber e de ouvir. Se não quer ouvir, se não quer acreditar, é outro assunto, mas o Ronaldo teve uma convulsão, foi para o hospital, voltou antes de começar o jogo, falou: ‘quero jogar’, e o Zagalo acabou escalando. ‘Ah, mas isso influenciou?’ Claro, pode ter influenciado, mas justifica? Não, não justifica de jeito nenhum, não podemos nos apegar a um problema de um companheiro nosso que nos preocupou muito, mas não justifica o jogo que nós fizemos”, opina André Cruz.

Assédio a craques pode prejudicar seleção nas Olimpíadas

Medalha de prata nas Olimpíadas de 1988, André Cruz vê o Brasil muito forte para a disputa dos Jogos do Rio em agosto. Acredita, porém, que o assédio de clubes gigantes da Europa a Gabriel (Santos) e Gabriel Jesus (Palmeiras), por exemplo, pode acabar tirando um pouco da concentração dos jogadores da seleção brasileira. Algo a ser trabalhado pela comissão técnica.

“Naquela época isso não existia [assédio dos clubes europeus], de maneira nenhuma. Não existiam os valores que existem hoje, não existia internet, não existia marketing, que é muito grande, você não tinha os investidores... Hoje no futebol você também tem investidores que vão lá azucrinar a cabeça do jogador, o que por um lado é bom, mas para muitos jogadores isso acaba sendo ruim, porque muitos investidores, para conquistar o jogador, acaba dando dinheiro, uma quantia alta ainda muito jovem ao jogador”, analisa o ex-zagueiro.

Nós estamos falando de muito dinheiro, não estamos falando de pouca coisa

“Vamos falar 90 milhões de reais pelo Gabigol, a Juventus querendo fechar o negócio, o Santos querendo vender e o Gabigol dizendo ‘se não me der tanto eu não vou’ e o Santos também, ‘se eu não tiver tanto não vai’, e os clubes querem resolver isso o mais rápido possível. E cai no momento que o jogador está concentrado para as Olimpíadas, isso pode sim influenciar”, diz.

“Nós estamos falando de muito dinheiro, não estamos falando de pouca coisa, estamos falando de muito dinheiro para todos, para a Juventus, que está investindo, para o Santos, um clube em um momento de crise, e para o Gabriel, é obvio, que já ganha muito bem. Mas é a oportunidade de jogar em um dos maiores clubes do mundo, então tudo isso pode afetar o jogador. ‘Olha, tem que fechar hoje’, imagina como fica o jogador”, completa o ex jogador, que hoje está com 47 anos e é dono de uma escolinha de futebol na cidade de Campinas (SP).