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Milton Mendes justifica saída no Santa Cruz: 'reforços não vieram'

Técnico disse que campo do Arruda virou "batatal" em razão de treinos e jogos no local - Antônio Melcop
Técnico disse que campo do Arruda virou 'batatal' em razão de treinos e jogos no local Imagem: Antônio Melcop

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

11/08/2016 10h09

Milton Mendes e a diretoria do Santa Cruz acertaram pelo desligamento do técnico no clube. Em entrevista ao UOL Esporte, o treinador atribuiu sua saída à ausência de reforços prometidos para o torneio. Mendes isenta os dirigentes por não terem contratado atletas de peso, e alega que as dívidas do Santa Cruz não permitiram a qualificação do elenco.

O Santa Cruz é o penúltimo colocado do Brasileirão. Mendes deixou o clube com dois títulos no currículo.

À reportagem, Mendes revela que a dívida do clube prejudicou diretamente as atividades dos jogadores. O time treina no estádio Arruda, fato que compromete o gramado, enfatizou Mendes.

Com poucos jogadores no elenco, Mendes disse que tinha dificuldade para montar o time.

“Eu mudei o modelo de jogo 3 vezes. Eu joguei num 4-3-3, eu joguei no 4-4-2, 4-1-4-1 e tentei mudar tudo e não dava. Não tem jogador para repor, compor o elenco. Não tem peça”.

Confira a entrevista completa de Milton Mendes ao UOL Esporte:

UOL Esporte - O que realmente aconteceu pra você deixar o comando do Santa Cruz? Você se demitiu ou foi demitido?

Milton Mendes - Foram as duas coisas, primeiro de tudo eu tive o início bom, nós ganhamos dois títulos importantes, um foi inédito para o clube, mas na verdade foram colocadas muitas coisas antes de eu vir pra cá, pedidos, estrutura de trabalho, jogadores de qualidade de série A, um projeto de longo prazo, tanto é que o presidente falou na coletiva que eles não deram o que foi combinado comigo, nada.

Qual foi o jogador de série A que veio pra mim? Nenhum.

Eu tinha contrato até o final do ano, mas tentei até quando pude. Se eu quisesse lá atrás ter ido embora para o Cruzeiro eu tinha ido. Se eu quisesse ter ido embora para o Bahia eu tinha ido. O Atlético MG também. Eu nunca deixei o clube. Eu sou das antigas.

UOL Esporte – Você alega que os reforços não vieram. Como era o diálogo com a diretoria?

Eu falava com a diretoria todos os dias, até quando a gente estava em primeiro lugar. Eles todos empolgados com a liderança, mas eu dizia: ‘Não, nós não temos time para aguentar’. A série A é diferente, eu tive um time melhor que esse no Atlético PR, um time mais jovem, jogadores mais jovens com mais força de aguentar jogo quarta e domingo, e não aguentamos.

Então precisamos de mais gente, então esse foi o motivo para a minha decisão. E depois quando chega a hora do resultado ninguém quer saber, vão dizer que não ganhou. Eu não consegui jogador e o clube não tem dinheiro para contratar jogador bom,

UOL Esporte – Como você avalia a situação financeira do Santa Cruz?

Não é só a falta de jogadores, o clube não tem dinheiro, eu consegui gerir isso por muito tempo. Aí eu disse na minha coletiva após o jogo (contra o São Paulo) que era momento de reflexão, que o clube não está no lugar que deveria estar. Ali eu já estava praticamente decidido [a sair]. Só que eu queria ouvir da direção o que eles tinham a dizer. Cadê o campo que vocês disseram que tinha para treinar?

UOL Esporte – Como são as condições de treino?

Você sabia que a gente treina todos os dias no Arruda? Bastava um campo para a gente treinar, mas não tem. As coisas foram dificultando cada vez mais, tanto é que o presidente falou à imprensa que não conseguiu cumprir a promessa de oferecer boas condições ao elenco. Eu tenho o email que eu mandei antes de eu vir e eles não cumpriram. Aí eu disse: ‘Eu não tenho mais condições de continuar’.

UOL Esporte - No começo, quando pediu jogadores para a série A, o que foi dito a você?

Foi dito: ‘Vamos correr atrás’. Até no começo eu vi que eles queriam, mas eles próprios achavam difícil. Outra observação muito importante: o clube tem dívidas antigas. Então quando entra dinheiro, o valor é todo bloqueado. O clube tem vários problemas, mas o presidente e os diretores que estão lá são sérios e bons. Só que eles não conseguem

O próprio presidente disse à imprensa que havia prometido um milhão de coisas, mas que não conseguiu cumprir. O presidente é um cara que eu tenho uma relação ótima, assim como os demais, o vice presidente Constantino e o Jomar.

UOL Esporte - Você conversou com o grupo de jogadores?

Conversei. Fui dar um abraço neles todos, um por um. Eles me agradeceram, o Danny Morais disse que foi um prazer e que aprendeu muito. Isso é muito importante. Eu estimulo o jogador a pensar não somente como o jogador, mas também a pensar no jogo, no que deve ser feito. Futebol não é só corrido. Futebol é pensado

UOL Esporte - Qual o seu futuro agora? O São Paulo o procurou? Pretende continuar no Brasil?

Não, ninguém do São Paulo falou comigo. Agora eu estou no mercado à espera de uma possibilidade. Há a possibilidade de trabalhar fora, mas hoje eu gostaria de segmentar a minha vida aqui no Brasil porque gosto muito daqui e quero me manter aqui por um bom tempo.