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Parte física vira prioridade na seleção de Tite, que tem até voo exclusivo

Renato Augusto, que joga na China, é um dos jogadores que merecem atenção especial - Ueslei Marcelino/Reuters
Renato Augusto, que joga na China, é um dos jogadores que merecem atenção especial Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Dassler Marques

Do UOL, em Natal (RN)

06/10/2016 11h16

O tempo da comissão técnica com os jogadores já é curto. Por isso, Tite e seus auxiliares, que comandam a seleção brasileira nesta quinta-feira, contra a Bolívia em Natal, estabeleceram uma prioridade de trabalho. No período distante dos atletas, a obsessão é fazer de tudo para otimizar o tempo e minimizar a chance de erro. A parte física se tornou um ponto crucial dentro desse contexto. 

Para se ter uma ideia, Tite só comandou três treinamentos com os jogadores nesta semana em que, na verdade, o descanso foi uma das prioridades. Assim que o grupo chegou a Natal, a comissão técnica percebeu que a condição física já era inferior ao mês passado, quando muitos deles retornavam das férias. Dessa vez, nomes como Marquinhos e Neymar chamaram atenção pelo cansaço que relataram à comissão. 

De olho nessas situações, Tite, o coordenador Edu Gaspar e toda a equipe tomaram decisões importantes para que, no período com os atletas, não haja surpresas com as condições físicas. A promessa é que os jogadores só serão convocados se estiverem dentro do peso ideal e sem desgastes fora do comum. Abaixo, veja o que de mais importante mudou após a saída de Dunga na Copa América. 

Preparador em tempo integral

Fábio e Tite no Corinthians: juntos 100% na seleção - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians
Fábio e Tite no Corinthians: juntos 100% na seleção
Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

A medida mais importante foi a transformação de Fábio Mahseredjian em preparador apenas da seleção brasileira. Com Dunga, ele dividia seu tempo entre a CBF e o Corinthians, em que estava ao lado de Tite. A negociação para ser liberado pelo presidente corintiano Roberto de Andrade não foi simples e aumentou o desgaste entre o clube e a entidade, mas foi um ponto essencial para aumentar o foco na parte física. 

Diariamente na sede da CBF, o preparador estreitou o relacionamento da seleção com os clubes e tem dados atualizados com frequência sobre a condição dos atletas, peso corporal, carga de jogos e treinamentos, entre outros. Como os médicos do Brasil só se apresentam durante as convocações, também cabe a Mahseredjian monitorar possíveis lesões ou desgastes dos jogadores. Além disso, ele também viaja para assistir à partidas in loco (ver abaixo). 

Avião exclusivo

Uma decisão importante levada pelo coordenador Edu Gaspar e aprovada pela direção da CBF é o fretamento de um avião para quem atua na Europa. O objetivo é minimizar o tempo de voo para a América do Sul com a redução de escalas, o que dá mais conforto aos atletas. Nesta semana, por exemplo, os 'europeus' voaram de Madri a Natal sem qualquer tipo de parada. 

"Isso foi importante", disse o volante Fernandinho. "A gente diminuiu bastante o percurso que tem que fazer indo a São Paulo e Rio de Janeiro, que recebem voos internacionais. Esse voo fretado para nós que jogamos na Europa foi importante para chegar e já fazer um trabalho de recuperação. Todo esforço é válido", concluiu. 

"O orçamento sobe bastante", admite Edu em entrevista à Rádio Globo/CBN. "Mas a gente explica o porquê da subida do orçamento (à direção), o número de horas que ganhamos, o conforto dos atletas, as vantagens, e eles entenderam perfeitamente e não fizeram nenhum porém. É um fato de extrema importância para chegarem aqui em melhores condições de aplicar um trabalho", disse.

Acompanhamentos in loco

Thiago Silva pelo PSG: jogo in loco reforçou ideia de que ficaria no banco - Clive Brunskill/Getty Images - Clive Brunskill/Getty Images
Thiago Silva pelo PSG: jogo in loco reforçou ideia de que ficaria no banco
Imagem: Clive Brunskill/Getty Images

Um dos principais objetivos das viagens para partidas no Brasil e no exterior é aferir melhor a condição física de cada atleta. Foi com o auxiliar Sylvinho em uma ida para a França, por exemplo, que a comissão reforçou a ideia de que Thiago Silva ainda não estava com seu ritmo 100% nesse retorno à seleção. Assim, se reforçou a intenção de manter Miranda e Marquinhos como titulares. 

"Quem quer analisar um jogo e o atleta tem que estar in loco", explicou Edu Gaspar. "É uma forma que temos de tirar algumas dúvidas, de observar ainda melhor o atleta para ter o mínimo de dúvida possível quando estiverem conosco. Está sendo incrível para nós", disse o coordenador. Desde os jogos da seleção em setembro até essa convocação, foram 25 partidas assistidas nos estádios por Tite e sua equipe. 

Mais trabalho para os chineses

Novidade desde a convocação anterior, a apresentação antecipada dos atletas que vêm da China visa minimizar uma possível condição física inferior de quem atua por lá. Gil, Paulinho e Renato Augusto se integraram três dias antes do restante do grupo e trabalharam em São Paulo. 

"Como a China libera os jogadores uma semana antes, achamos que é muito tempo para eles treinarem sem supervisão", disse Edu. Os atletas entenderam a importância de treinar sob a supervisão do Fábio (Mahseredjian) e do Cléber (Xavier, auxiliar). Isso dá o entendimento de que estão focados em servir a seleção da melhor forma possível. Eles poderiam dizer 'estou fora do período Fifa', e ficaram à disposição para treinar".

Já desde os tempos de Dunga, Gil e Renato Augusto trabalham sob a supervisão do fisioterapeuta Bruno Mazziotti, agora também na seleção principal. O zagueiro é colega de clube no Shandong Luneng, enquanto o meia tem um personal trainer brasileiro em Beijing, onde vive. Esse profissional é coordenado pelo próprio Mazziotti. 

O que diz Tite

"A ideia (com voo fretado) é proporcionar um descanso maior. Tem atleta que ainda está (na quarta-feira) com dificuldade de descanso. Pega a diferença de fuso para a Europa, a questão alimentação, isso demora um tempo. Esse treinamento (de quarta) era pra ter feito ontem (terça) e trouxemos para hoje, para ajustar as cargas dos atletas. Eu queria elevar o nível de competitividade. Quando eu era jogador e estava na reserva, eu ia para o trabalho e era jogo pra mim. Se estou na equipe de baixo, vou dentro! E deixo a cabeça desse tamanho para quem não me escale. Estava preocupado com o trabalho, mas o nível alto ajudou a puxar o grupo pra cima".