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Noite de medo! Volante lembra o dia em que fez Viola desmaiar: "não dormi"

Antes auxiliar, hoje Luizão é técnico da seleção brasileira feminina sub-17 - Arquivo pessoal
Antes auxiliar, hoje Luizão é técnico da seleção brasileira feminina sub-17 Imagem: Arquivo pessoal

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

09/10/2016 06h00

Década de 90. Com atuações convincentes, o Juventus fazia jus ao apelido de Moleque Travesso e, vez ou outra, dava trabalho aos grandes de São Paulo – especialmente o Corinthians. Em 1995, por exemplo, não foi derrotado pelo clube de Parque São Jorge: venceu na primeira fase do Paulista, por 1 a 0, e depois empatou por 1 a 1, sendo os dois jogos no Pacaembu. E no primeiro deles, um lance em especial ficou marcado, principalmente na história de Luizão, ex-volante do time da Javari. Foi ele quem, sem querer, acabou responsável por um desmaio do atacante Viola, ex-Corinthians, um dos ídolos do clube e tetracampeão mundial.

Depois de um cruzamento da esquerda, o ombro de Luizão acabou atingindo a nuca de Viola, que caiu no gramado e ficou desacordado por alguns minutos. O atacante sofreu um traumatismo craniano e ficou sem jogar por cerca de um mês. Mais de 20 anos depois, o ex-jogador do Juventus recorda o momento de pane que viveu durante o jogo (e depois dele).

“Foi um lance involuntário, uma bola que veio do lado esquerdo do ataque do Corinthians. O Viola já estava se preparando pra dominar a bola dentro da área e eu estava atrás dele para fazer a cobertura, e tinha um outro jogador atrás de mim, acho que era o Tupãzinho... Foi um lance em que eu subi de cabeça e acabei tendo a pancada com o Viola, mas foi involuntário, não foi um lance para que, de repente, eu fosse machucar o Viola, porque eu nunca tive dentro da minha carreira essa índole de machucar um companheiro de trabalho. O Viola não esperava o choque porque ele estava só olhando a bola, e eu estava atrás dele. Nem foi mais a minha cabeça, foi mais o meu ombro, e eu acabei batendo na nuca dele e ele bateu com a parte frontal no chão, no gramado. Foi onde ele acabou tendo o problema grave no momento. A jogada deu continuidade e o médico Joaquim Grava percebeu a gravidade da situação e entrou em campo, com a bola em jogo mesmo, para atender o Viola”, recorda Luizão em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Após a vitória de 1 a 0 sobre o Corinthians, Luizão lembra que nem sequer conseguiu dormir. No dia seguinte, com Viola já recuperado, ligou para o atacante e acabou tranquilizado pelo próprio.

“Ah, eu fiquei preocupado, sim. Depois continuamos o jogo, o Viola saiu e só depois eu fui saber o que tinha acontecido. No dia seguinte eu mesmo liguei para ele, porque a gente é amigo, até hoje a gente tem amizade, jogamos juntos como veteranos, e eu fiquei preocupado na época e liguei e conversei com ele no dia seguinte, e ele já estava melhor. Fiquei sabendo que ele ficou desacordado por alguns minutos e por isso o meu sofrimento foi maior ainda, porque, pô, você vê um companheiro de profissão ter esse problema... Isso me deixou muito chateado. Naquela madrugada eu praticamente não dormi, e no dia seguinte eu fui ver no noticiário como ele estava. Depois eu liguei para ele, e ele mesmo disse que foi um lance casual, uma situação que ele não esperava também, que não houve maldade”, diz.

No returno do Paulistão, Juventus e Corinthians voltaram a se enfrentar no estádio do Pacaembu. E foi o próprio Luizão quem marcou o gol de empate do Moleque Travesso.

“É um fato que é marcante na minha carreira, naquele ano principalmente, devido a essa situação do acidente com o Viola, um jogo contra o Corinthians, repercussão muito grande, e depois, no returno, enfrentar novamente o Corinthians e ter dado a volta por cima, ter feito o gol de empate contra o Corinthians que me ajudou muito... Neste ano de 95 eu tive a oportunidade de ter me destacado na equipe do Juventus e me transferi por empréstimo para a equipe da Portuguesa no Brasileiro. Essa mudança de clube me ajudou muito, mas desde a base eu joguei 11 anos no Juventus e hoje eu sou funcionário do clube”, conta Luizão.

1995: ano para não ser esquecido

Nono colado ao final das 30 rodadas da primeira fase do Campeonato Paulista de 1995, o Juventus acabou perdendo boa parte de seu elenco ao final da competição. O próprio Luizão saiu para a Portuguesa, enquanto outros jogadores até hoje conhecidos, como o técnico Fernando Diniz, conseguiram contratos com outras equipes, como recorda o ex-volante.

“1995 foi um ano de destaque no Juventus. Naquele ano eu fiz gol contra o Corinthians, contra o Palmeiras, fiz jogos decisivos contra o Guarani e Ponte Preta... Mas esse gol contra o Corinthians, 1 a 1 no Pacaembu foi especial porque deu confiança, porque depois, no returno, a gente precisava dos resultados para não acabar sendo rebaixado. A gente deu uma boa caminhada e eu pude me destacar neste aspecto junto com a equipe do Juventus. Naquele ano de 95, praticamente metade dos atletas do Juventus saíram ao término do Campeonato Paulista. Saíram eu, o Fernando Diniz, Sangaletti, o Fabiano, atacante, o Márcio Griggio... Esses atletas saíram porque foram os que tiveram destaque. Tinha ainda o lateral Anderson Lima, o Gilmar, aquele que foi goleiro do Palmeiras”, acrescenta.

Hoje: auxiliar do Juventus e técnico de time feminino

Luiz Antônio, o Luizão (terceiro da esq. para a dir.), hoje trabalha como auxiliar do Juventus-SP - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Depois de pendurar as chuteiras em 2003, jogando pela Ferroviária, Luizão passou a dar atenção à carreira de técnico. Hoje, acumula duas funções: no Juventus e na seleção brasileira.

“Eu encerrei na Ferroviária e comecei a dar algumas aulas no clube da Policia Militar, onde o próprio Silva, ex-atacante do Juventus, trabalha. Depois, eu iniciei na base do Juventus como treinador, mas nos últimos anos a gente está com muita dificuldade para revelar jogadores. O atleta começa a se destacar no sub-15, no sub-17, e você já acaba perdendo-os, e por isso não consegue revelar. O clube hoje não tem a força que tinha no passado, de formador de atletas, então a gente não teve muitos atletas que se destacaram para subir ao profissional. Hoje eu trabalho no profissional do Juventus também, atualmente eu estou como auxiliar no clube, e acumulo a função de treinador na seleção brasileira feminina sub-17”, conta Luizão, que ainda explica como surgiu a oportunidade de trabalhar na seleção brasileira.

“Em 2013, a Emily Lima era a treinadora do Juventus no feminino e ela recebeu o convite para assumir a seleção brasileira feminina sub-17. Com isso, ela me fez o convite para ser o seu auxiliar e eu aceitei, e iniciei o trabalho no feminino em 2013. No final de 2014 ela saiu da seleção para assumir o São José e eu acabei sendo indicado por ela mesma pra assumir o comando da sub-17. Então, em janeiro de 2015, eu assumi a seleção brasileira”, completa.