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RS é o estado com maior número de casos de racismo no esporte pelo 2º ano

Grêmio já realizou campanha de combate ao racismo no Rio Grande do Sul - Divulgação/Grêmio
Grêmio já realizou campanha de combate ao racismo no Rio Grande do Sul Imagem: Divulgação/Grêmio

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/10/2016 16h01

Pelo segundo ano consecutivo, o Rio Grande do Sul é o estado que apresentou o maior número de casos de racismo no esporte no Brasil. O relatório foi apresentado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, nesta segunda-feira, em evento realizado em São Januário, sede do Vasco, clube que tem em sua história o combate ao preconceito.

De acordo com o levantamento, que foi iniciado em 2014, o Rio Grande do Sul teve 9 casos em 2015, um aumento de 80% em relação ano anterior. A região Sul ainda registrou dois casos no Paraná e dois em Santa Catarina. São Paulo e Minas Gerais tiveram três.

Não foram levados em conta a discriminação via internet por conta de sua origem ser imprecisa, somente as 24 que ocorreram dentro dos estádios.

No total, foram relacionados 41 casos discriminatórios no território nacional em 2015, sendo que 37 ocorreram no futebol e quatro em outros esportes.

Dos 37 casos relacionados com o futebol, 35 estão atrelados a discriminação racial, um à homofobia e outro à xenofobia.

Destes 35, somente oito chegaram ao tribunal desportivo, sendo dois ao STJD e seis ao TJD.

No Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), um clube foi absolvido da acusação de racismo e no outro o caso não foi julgado. Já no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), três clubes foram absolvidos, um foi punido, outro não foi julgado e ainda teve um caso onde a vítima foi punida por denúncia inverídica e o árbitro absolvido.

Gráfico aponta novamente o RS como o estado com maiores casos de racismo - Divulgação / Relatório do Observatório - Divulgação / Relatório do Observatório
Gráfico aponta novamente o RS como o estado com maiores casos de racismo
Imagem: Divulgação / Relatório do Observatório

Procurador-geral do STJD, Felipe Belivacqua esteve presente no evento e prometeu um maior engajamento da entidade na causa.

“Fica aqui o meu compromisso em acompanhar de perto estes casos”, disse Belivacqua, citando os episódios que acompanhou e que envolveram o Grêmio e o Brasil de Pelotas, destacando: “Parece que lá no Sul esse tipo de preconceito é mais aflorado”.

Responsável pelo relatório e representante do Observatório, Marcelo Carvalho cobrou mais ação dos clubes brasileiros e da CBF.

“A CBF precisa estar do lado dos atletas. Assim como o Eurico Miranda (presidente do Vasco) disse que o Vasco está do lado dos atletas, todos os outros clubes precisam estar. Temos casos no exterior onde o clube pune os torcedores antes da justiça desportiva e antes da polícia. Tivemos casos assim na Espanha, no Japão... Por qual motivo aqui não podemos trabalhar desta maneira?”, indagou.

Segundo Marcelo Carvalho, em 2016 já há 26 casos de racismo no esporte brasileiro. 

Jogadores do Vasco relatam episódios de racismo 

Jomar recebe de Marcelo Carvalho (dir.) a camisa do Observatório - Paulo Fernandes / Flickr do Vasco - Paulo Fernandes / Flickr do Vasco
Imagem: Paulo Fernandes / Flickr do Vasco

No debate, onde Eurico Miranda reforçou a história do Vasco no combate ao preconceito na década de 20, estiveram presentes também atletas do clube, como os jogadores de futebol Thalles e Jomar e o de basquete Nezinho.

Jomar relembrou o episódio de racismo que sofreu há quatro anos:

“Quando o doutor Eurico me convidou, fiquei muito feliz. Eu já sofri racismo na minha carreira. Quando fui substituído, um branco e um negro me chamaram de macaco. E ali eu fiquei pensando: ‘Qual palavra eu vou dizer a ele?’. Eu parei, pensei e só disse: ‘Deus te abençoe’. A primeira coisa que eu fiz quando cheguei em casa foi abraçar minha mãe e chorar bastante. Temos que dar um basta nisso. Eu sou contra e todos nós, sendo brancos ou negros, temos que ser contra também”.

O experiente Nezinho, que foi contratado este ano para disputar o NBB, revelou ter pesquisado a história do Vasco na internet e se mostrou orgulhoso:

“Infelizmente não só os jogadores, mas todas as pessoas negras já sofreram atos de racismo na vida. Já sofri na quadra, no meu condomínio, no Brasil, fora... Infelizmente falar isso em 2016 é triste. Fiquei muito feliz em saber que o clube que defendo hoje lutou por negros e operários. Eu me aprofundei, fiquei até de madrugada vendo. Hoje estou muito feliz em estar aqui participando e em saber que estou numa instituição que vai me defender”.