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Como David Luiz e Dante, dupla do 7 a 1, voltaram a fazer sucesso na Europa

David Luiz e Dante ficaram marcados como a dupla de zaga do 7 a 1 no Mineirão - Leo Correa/AP
David Luiz e Dante ficaram marcados como a dupla de zaga do 7 a 1 no Mineirão Imagem: Leo Correa/AP

Do UOL, em São Paulo

28/10/2016 06h00

Dante e David Luiz nunca vão conseguir apagar do currículo a participação nos 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo de 2014. Mas, dois anos depois, a dupla de zaga que Luiz Felipe Scolari escalou no Mineirão está, novamente, em alta no futebol europeu. Os dois, porém, precisaram trocar de clube (e de posição) para isso.

David Luiz está no Chelsea, de volta ao clube que o transformou em um dos principais jogadores de sua posição no mundo. O brasileiro tinha deixado a Inglaterra em 2014, pouco antes do Mundial, rumo ao PSG, e não conseguiu brilhar como fazia nos gramados londrinos. Prova disso é o preço das duas transferências: o Chelsea pagou aos franceses 11 milhões de euros a menos do que tinha recebido pelo jogador dois anos antes.

Dante também trocou de país. Na Copa, era jogador do Bayern de Munique e um dos zagueiros mais respeitados da Alemanha. Quando o espanhol Pep Guardiola chegou para comandar a equipe, porém, ele perdeu espaço. Foi para o Wolfsburg e, hoje, está no Nice, da França.

No Chelsea, velocidade e posicionamento

David Luiz com o nariz sangrando em sua reestreia pelo Chelsea contra o Liverpool - John Sibley/Reuters - John Sibley/Reuters
Imagem: John Sibley/Reuters

No Chelsea, David Luiz chegou para ser o centro de uma defesa em reconstrução. O novo técnico do time, o italiano Antonio Conte, percebeu que era preciso aumentar a estabilidade defensiva do time após alguns tropeços no começo da temporada. A saída foi admitir que o sistema com quatro defensores em linha não era o melhor para os jogadores que tinha em mão e passou a escalar seu time com três zagueiros.

O brasileiro foi o maior beneficiado. Jogando no centro da defesa, ele fica na cobertura do inglês Gary Cahill e do espanhol César Azpilicuelta, que completam a zaga e fazem o primeiro combate. Isso faz com que ele use sua velocidade e senso de posicionamento ao máximo, e minimiza os pontos mais fracos de seu jogo, a defesa no 1 contra 1. O resultado disso: ele é o melhor zagueiro nas estatísticas defensivas do Chelsea (divididas, interceptações e “clearances” – ação de defesa em que o jogador afasta a bola de seu gol) e já tem conquistado elogios de antigos críticos.

Um deles é o ex-lateral do Manchester United e da seleção inglesa, Gary Neville – o mesmo que disse que o brasileiro jogava “como se um garoto de 10 anos o estivesse controlando de seu videogame”: “David Luiz precisa de jogadores ao seu lado para render bem. Com a linha de três zagueiros, Cahill também se beneficia”, explica Neville, comentarista da Sky Sports. “A fase da defesa, e principalmente de Cahill, melhorou em grande parte por causa de como David Luiz está jogando”, elogiou Garth Crooks, ex-jogador do Tottenham e comentarista da BBC.

Nem mesmo na única derrota desde que Conte implantou o sistema, 2 a 1 para o West Ham na quarta-feira, o brasileiro sofreu: o jogo marcou a volta do veterano John Terry à equipe. Ele jogou pelo meio da defesa, com David Luiz deslocado para a esquerda. O primeiro gol sofrido foi em jogada aérea, falha de Terry. O segundo também foi em falha de Terry, após troca de posição entre o inglês e o veterano.

No Nice, liderança e lançamentos longos

Dante, entre os jogadores do Nice -  AFP PHOTO / WILDBILD -  AFP PHOTO / WILDBILD
Imagem: AFP PHOTO / WILDBILD

A história na França é diferente. Aos 33 anos, Dante não é mais o jogador que se destacou pelo Bayern pelo físico. Mas é a experiência de jogar com três zagueiros que está fazendo a diferença. Dante virou estrela na Alemanha jogando pelo Borussia Monchengladbach, justamente jogando no esquema com três beques. O técnico da época era o suíço Lucien Favre, o mesmo que o comanda no Nice atualmente. A contratação do brasileiro, então, não foi feita ao acaso.

Dante veio para liderar um sistema defensivo que foi completamente reformulado para essa temporada. O brasileiro chegou da Alemanha, o francês Paul Baysse voltou de empréstimo do Saint-Etienne e o terceiro zagueiro é um garoto de 17 anos, Malang Sarr. Mesmo assim, o Nice é dono da melhor defesa do Francês, com sete gols sofridos em dez partidas. Foi essa consistência que fez do Nice o melhor time da França, líder do campeonato nacional com 26 pontos, quatro a mais do que o vice-líder Monaco e seis a mais do que o atual campeão PSG.

O brasileiro também é efetivo na criação de jogadas. Além de usar sua força no jogo aéreo e o senso de cobertura (é o jogador que mais bloqueia chutes do seu time), ele é uma arma no jogo direto que Favre está implantando no Nice. “Ele pode não ser o jogador mais técnico, mas é importante por ter um passe longo preciso, vital para o jogo que o Nice quer fazer”, escreveu a revista SoFoot.

Além da influência em campo, sua marca dentro do elenco está sendo notada. Dante é creditado pela ascensão de Sarr e, também, pelo controle de Ballotelli. Desde que chegou à França, o italiano, maior contratação do clube na temporada, foi apadrinhado pelo brasileiro. “Eu o ajudo bastante com a questão do idioma, traduzo para ele as coisas em inglês. É um cara bem fácil de se lidar e comunicativo”, contou o brasileiro à ESPN Brasil. Sob o olhar do veterano, Ballotelli marcou cinco vezes em quatro partidas pelo clube no torneio nacional.