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Pérolas de Souza no PSG fizeram até tradutor mentir resposta para o técnico

Passagem de Souza pelo Paris Saint-Germain durou menos de seis meses - Franck Fife/AFP
Passagem de Souza pelo Paris Saint-Germain durou menos de seis meses Imagem: Franck Fife/AFP

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

02/11/2016 06h02

A rápida passagem de Souza pelo Paris Saint-Germain pode não ter sido marcante como as que teve por clubes brasileiros, especialmente o São Paulo, pelo qual conquistou dois Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial, além de um Campeonato Paulista. As boas histórias, porém, não ficam atrás. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o ex-jogador de Grêmio, Fluminense, Cruzeiro e Portuguesa, entre outros, conta algumas pérolas do tempo de PSG, além de falar sobre o atual momento na carreira, os erros de arbitragem no Brasil e a possibilidade do ex-companheiro Rogério Ceni assumir o São Paulo como treinador num futuro próximo.

Souza seguiu para o PSG depois de uma longa e vitoriosa passagem pelo São Paulo, entre 2003 e 2008. E ao chegar na França, não demorou para proporcionar boas histórias. Como a de um tradutor que precisou mentir ao técnico – na época o francês Paul Le Guen – por conta de umas palavras abusadas de Souza. No fim, nem mesmo o tradutor segurou a risada.

17.set.2013 - Souza: à espera da renovação com a Portuguesa - Jones Rossi - Jones Rossi
Imagem: Jones Rossi
“Teve um jogo contra o Olympique de Marselha. Foi bastante desgastante e tomamos a virada, e o treinador me chamou no outro dia para conversar, chamou o tradutor e o Ceará [hoje no Internacional]... O treinador olhou para o tradutor e falou: ‘fala para o Souza que dificilmente eu vi um brasileiro com uma obediência tática como a dele’, e o tradutor não falava, e eu falei: ‘Pô, agradece a ele, fala que eu vim para poder ajudar, independente da função eu quero ajudar’, e o treinador ainda disse para o Manuel, o tradutor: ‘Mas fala para o Souza para ele não fazer muita falta ali do lado, o nosso goleiro está sem confiança, as bolas paradas são perigo de gol’, e aí eu falei para o Manuel: ‘Pô, pergunta para ele se ele quer que eu vou para uma guerra com uma vassoura [risos]. Como é que eu não vou dar porrada nos caras? Os caras descem a porrada em mim também’, e o tradutor não aguentou que eu falei isso e começou a rir. Aí o treinador perguntou para o tradutor: ‘O que ele falou? Aí o tradutor mentiu para ele, e disse para o treinador: ‘o Souza disse que não vai fazer mais falta ali, não, ele vai evitar ao máximo [risos]’. Foi muito divertido”, recorda Souza.

Outra pérola de Souza da época do PSG foi contada por Ceará durante o programa Resenha ESPN e confirmada pelo próprio ‘personagem’, que deu ainda mais detalhes sobre o episódio.

“Eles me pagaram um curso de francês e eu fui a primeira vez e a última também [risos], e a mulher não falava português e eu não falava francês. Eu fiquei uma hora, ela olhando para mim, e eu olhando para ela sem a gente se entender nada [risos]. Depois de uma hora o tradutor começou a rir e eu falei: ‘Pô, Manuel, como é que eu vou fazer um curso aqui se a mulher não sabe falar a minha língua e eu não sei falar a língua dela’? Ela fez ham eu fiz hum e fui embora para casa, e não voltei mais, então tudo o que eu adquiri ali foi no vestiário, foi na prática mesmo. Quando alguém ria eu ria também, é verdade o que o Ceará falou  [risos]. Quando fazia cara de bravo eu fazia de bravo também...”, conta.

“Um dia o Ceará perguntou para mim: ‘Você está entendendo’? Eu falei: ‘Não, Ceará, eles estão rindo eu também dou risada para eles ficarem esperto e não falar besteira aqui para mim’, e eles achavam que eu estava entendendo. Isso era a minha tática [risos]. Foram bons tempos aqueles. O Ceará é um cara sério, é sério naquilo que fala, ele só dava risada comigo, não era de dar risada, não era muito de ficar brincando, mas comigo ele dava risada”, lembra.

Atual fase do São Paulo

Mesmo de longe, Souza – que hoje mora no Rio Grande do Sul e está sem clube – garante acompanhar o que acontece com o São Paulo, principal clube de sua carreira. De acordo com o ex-jogador tricolor, a constante troca de treinadores vem fazendo mal ao time.

Souza, em ação pelo São Paulo, em 2006 - Rubens Cavallari/Folha Imagem - Rubens Cavallari/Folha Imagem
Imagem: Rubens Cavallari/Folha Imagem
“Hoje o clube está um pouco abaixo ainda [em relação a sua época], até pelo elenco que tem, pelos investimentos... O São Paulo nunca foi um time que trocou tanto de treinador, eu até penso que seja difícil jogar no São Paulo por este aspecto. É um clube que passou dez anos ganhando tudo no futebol e depois acabou o ciclo desses jogadores que passaram nesta época, e a imagem que o torcedor que vai ao estádio tem é essa”, analisou Souza.

“Quando o resultado não vem, a cobrança vem, e o jogador de futebol tem que estar acostumado com isso, que cobrança a gente tem desde a categoria de base. Então não adianta ficar reclamando, tem que ficar calado, falar menos, escutar as críticas e tentar fazer o melhor. A minha opinião sempre vai ser essa”, acrescenta.

Rogério Ceni pode dar um jeito no São Paulo

Para Souza, uma solução para o São Paulo voltar a brigar por títulos, como era em sua época, é dar uma chance para Rogério Ceni comandar a equipe. Ele ressalta inclusive que o ídolo tricolor vem fazendo cursos e se preparando cada vez mais para o cargo.

Rogério Ceni e Souza se cumprimentam em campo, no jogo amistoso em homenagem ao goleiro - Eduardo Anizelli / Folhapress - Eduardo Anizelli / Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli / Folhapress
“Eu, particularmente, acho que é a melhor coisa a ser feita. Ele é um cara que está colhendo muita informação lá fora, é um cara que tem o respeito muito grande da torcida, é o maior ídolo na história do clube, não é um cara que caiu de paraquedas, como tiveram muitos. O Rogério é um cara que está se aperfeiçoando, ele tem a moral e respeito de chegar no São Paulo mesmo no início de carreira e assumir o São Paulo porque, conhecendo futebol como o Rogério, vai fazer aquilo que ele fez como jogador, vai ganhar títulos”, garante Souza.

Ainda de acordo com o ex-lateral tricolor, a capacidade e o preparo de Rogério fazem com que o ex-goleiro não seja sequer uma aposta para o cargo, e sim uma garantia de bom trabalho.

“O Rogerio já tem know-how para estar dirigindo o time principal, sem sombra de dúvida. Eu não digo nem que seja uma aposta, porque o Rogério não é aposta. Eu trabalhei com o Rogério por seis anos, e a visão que ele tinha já como atleta era uma visão diferenciada, então ele não precisa fazer estágio na base, estágio ele já está fazendo. Tem tanta gente ruim dirigindo time de ponta que nunca fez estágio, nunca passou em lugar nenhum, e o Rogério não”, diz.

Parar ou não parar de jogar?

Souza, ex-São Paulo, com a camisa do Passo Fundo-RS - Divulgação/Passo Fundo-RS - Divulgação/Passo Fundo-RS
Imagem: Divulgação/Passo Fundo-RS
Hoje com 37 anos, Souza se recupera de uma contusão e ainda decide se, quando recuperado, continuará jogando futebol profissionalmente. Ele não entra em campo desde o começo do ano, quando rescindiu contrato com o Passo Fundo-RS, seu último clube.

“Eu ainda não decidi. Eu fiz há três meses uma cirurgia no joelho direito em São Paulo, mas estou esperando, e o ano que vem vou ver o que vou fazer. Agora, neste momento, eu estou pensando em parar, mas quando eu ligo a televisão eu quero voltar a jogar”, completa.