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"Comida mais cara do mundo" foi a paixão de Índio antes de brilhar no Inter

Índio é homenageado pelo Inter na reinaguração do Beira-Rio, em 2014 - Jefferson Bernardes/Agência Preview
Índio é homenageado pelo Inter na reinaguração do Beira-Rio, em 2014 Imagem: Jefferson Bernardes/Agência Preview

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

05/11/2016 06h00

Antes de chegar ao Internacional e se apaixonar pelo Colorado, Índio teve outra paixão, ainda no início de sua vitoriosa carreira no futebol: a panqueca. Foi no Novorizontino, primeiro clube de sua carreira, que o ex-zagueiro foi ‘apresentado’ à comida que virou uma de suas maiores alegrias. Local de Maracaí, interior de São Paulo, Índio trabalhou na roça desde os nove anos. Até os 18, quando iniciou a carreira profissional no futebol, ainda não havia tido a oportunidade de comer o que, para ele, era a ‘comida mais cara do mundo’.

Zagueiro Índio domina bola durante treinamento do Internacional (21/06/2012) - Edu Andrade/Agência Freelancer - Edu Andrade/Agência Freelancer
Imagem: Edu Andrade/Agência Freelancer
“Eu comecei um pouco tarde, com 18 anos, porque eu trabalhava, e tive a oportunidade de fazer um teste, e depois fui com fé, lutando, acreditando em um dia chegar num grande clube. Eu comecei no Novorizontino, a primeira vez que eu comi panqueca foi no Novorizontino, eu nem sabia o que era panqueca [risos]. Na minha cidade, Maracaí-SP, todo mundo sabe... Lá eu trabalhava na roça e eu nunca tinha comido panqueca, passei muita dificuldade, e quando eu fui jogar no Novorizontino, tinha um cardápio assim: feijão, arroz e panqueca, e para mim panqueca era a comida mais cara do mundo, mas era massa enrolada com carne e ovo. Para mim eu estava comendo a comida mais cara do mundo, e eu comi muito, parecia que estava comendo a melhor comida do mundo [risos]. Eu adoro panqueca, é bom demais”, conta o ex-zagueiro colorado em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Marcos Antônio de Lima, o Índio, recorda o momento em que pediu as contas do trabalho, aos 13 anos, para se arriscar na ainda incerta carreira de futebol. Escolha acertada.

“Eu trabalhei numa empresa, na roça... Eu cortava cana e o meu pai era motorista em Maracaí. Eu comecei a trabalhar cedo na roça, com nove anos, aí com 13, já trabalhando na empresa, um certo dia eu pedi uma folga e a empresa não queria me dar, mas tinha o chefe meu que conseguiu e eu fui fazer o teste e acabei passando. Aí eu voltei e pedi a conta”, lembra.

Índio na ponta direita?

Antes de ser recuado para o setor defensivo, Índio arriscou alguns jogos atuando no ataque, ainda em um time amador de sua cidade. Mas foi prontamente deslocado pelo técnico.

“Quando eu jogava no time da Usina, na minha cidade em Maracaí, eu era forte, e fui jogar de ponta direita, e o treinador de lá falou: ‘não, pelo amor de Deus, na ponta direita não, joga lá para trás’ [risos], aí eu fui para a zaga até encerrar a carreira [risos]”, brinca Índio, que ainda cita suas principais referências da posição que o consagrou no futebol. “Eu me espelhava no Antônio Carlos Zago, no Márcio Santos, eu admirava muito esses dois jogadores... o Márcio Santos jogou no Novorizontino e também no Internacional”, acrescenta o ex-zagueiro.

O começo no Internacional...

Muricy Ramalho orienta o Internacional em partida contra o Boca Juniors - Reuters - Reuters
Imagem: Reuters
Índio lembra que a chance de defender o Internacional em 2005, após uma rápida passagem pelo Palmeiras, deu-se graças à indicação de Muricy Ramalho, técnico do Inter na época.

“Foram 10 anos de Internacional, e foi o Muricy Ramalho [que pediu sua contratação], ele acabou me ligando... Falei com o presidente Fernando Carvalho e também com o Newton Drummond, que era gerente de futebol, mas foi o Muricy quem pediu a minha contratação, eles fizeram a reunião e o Muricy pediu a minha contratação”, revela.

Amor pelo Inter e ‘zaga-artilharia’

Foram dez anos atuando pelo Internacional, com ao menos um título conquistado em cada um deles. Índio tornou-se ídolo da torcida e o maior zagueiro artilheiro do clube: 33 gols.

Zagueiro Índio é abraçado por companheiros de Inter depois do gol em SC - Alexandre Lops/AI Inter - Alexandre Lops/AI Inter
Imagem: Alexandre Lops/AI Inter
“O Internacional mudou a minha vida. Hoje, graças a Deus, tudo que eu conquistei, onde estou trabalhando hoje, é no Internacional, então o Internacional mudou a minha vida, o Internacional é amor, paixão, lutei demais por este clube, tudo valeu a pena. O Internacional é uma família que eu tenho, foram vários títulos no Internacional, carreira, a condição financeira que o clube me proporcionou... Claro que eu lutei, batalhei e trabalhei para isso, reconhecimento, foi muita mudança na minha vida. A identificação com o Internacional e a torcida foi fatal, sem dúvida eu me identifiquei muito, é um clube que eu tenho carinho mesmo agora que está passando por momento difícil no Brasileiro, mas eu acredito que vai sair desta situação”, afirma o zagueiro, que superou os 26 gols de Figueroa em uma partida de 2010, contra o Avaí.

“Quando eu cheguei no Internacional, um clube vitorioso... Passaram vários jogadores, vários zagueiros com muita qualidade, e eu sempre ouvi falar muito no Figueroa, é um nome mundial e ele era o atleta que mais tinha feito gols, e eu consegui superar esse número e ultrapassá-lo. Eu fui trabalhando e as coisas foram acontecendo, e hoje, no Internacional, eu tenho 33 gols, sendo o maior zagueiro artilheiro na história do clube”, acrescenta Índio.

‘Homem Gre-Nal’

Índio comemora o gol de empate do Internacional contra o Grêmio no Estádio Olímpico - Edu Andrade/Agência Freelancer - Edu Andrade/Agência Freelancer
Imagem: Edu Andrade/Agência Freelancer
Dos 33 gols marcados, quase 20% deles (seis) foram marcados diante do maior rival do Internacional, o Grêmio. Mais um motivo para aumentar a idolatria da torcida com Índio.

“Aqui no Rio Grande do Sul você pode estar disputando 10 campeonatos, mas chegou no Gre-Nal os campeonatos param, é totalmente diferente, é muito diferente. Os torcedores nas ruas falando: ‘vamos ganhar, vamos ganhar’, e eu gostava muito de jogar e fazer gol”, diz.

“Em Gre-Nal eu sou um dos zagueiros que mais fez gols no rival. O Gre-Nal é gostoso demais de se jogar, eu fiz seis gols em Gre-Nal e nunca perdi quando eu fiz gol. Gre-Nal, na semana, para o Rio Grande Sul, é bom demais. Na véspera do jogo a gente não dorme pensando no jogo, é gostoso demais, é diferenciado, um dos maiores clássicos do mundo. É o mais disputado, tem qualidade”, opina o ex-zagueiro colorado.

O jogo mais especial pelo Inter

Adriano Gabiru faz o gol do título do Inter contra o Barcelona, no Mundial de Clubes de 2006 - EFE/Kimimasa Mayama - EFE/Kimimasa Mayama
Imagem: EFE/Kimimasa Mayama
Dentre os 391 jogos que disputou com a camisa colorada, um deles se tornou mais marcante na memória de Índio. E não podia ser diferente: uma vitória sobre o poderoso Barcelona na final do Mundial, em 2006.

“Todos os jogos, desde que eu cheguei aqui, foram especiais, mas um dia maravilhoso e marcante para a nação colorada, com certeza, foi o Mundial de 2006 contra o Barcelona. A maioria não acreditava na gente, quem acreditava era o torcedor colorado, e a gente foi para lá e se sagrou campeão. O Barcelona jogou o primeiro jogo e tinha aplicado uma goleada de 4 a 0 no América do México, e ninguém acreditava que a gente ia ganhar. É um jogo que me marcou muito”, conta Índio.

Inter até depois de pendurar as chuteiras

Índio e Internacional não se desligaram mesmo após o zagueiro pendurar as chuteiras, atuando pelo Inter (claro), em dezembro de 2014. Depois de um tempo de descansando, ele foi convidado pelo clube para fazer um trabalho social com os torcedores. E aceitou.

Eu tirei um tempo depois que eu parei de jogar futebol, fiquei na minha cidade, cuidando das minhas coisas, mas eu não gostei de ficar fora do futebol. Acabei recebendo o convite e estou trabalhando para o clube. Trabalho na área social, com torcedores que têm dificuldade em vir ao Beira-Rio... Então o clube pega e leva os ex atletas – ou até mesmo os atletas que estão em atividade, mas estão de folga – para o interior para tirar uma foto com o torcedor; uma festa com o torcedor para as pessoas cada vez mais se sentirem próximas ao Internacional, e a gente tem viajado e tenho sentido a importância deste trabalho”, completa.